"Senti uma pancada enorme na perna. Pensei: "é uma bomba. Vou me erguer antes que exploda". Mas não houve explosão. "É uma bala de borracha", pensei então (…). O voluntário rasga a minha calça e se assusta e grita: "Isso é bala de verdade", ecoando o que pensava no momento. (….) Radiografam o local do ferimento, mas nada apareceu. Somos abordados pelo soldado de plantão no hospital e dizemos que, como o raio-x não havia mostrado nenhum corpo estranho, acreditávamos tratar-se de uma bala de borracha ("que bala de borracha é essa?", pensávamos). Aparentemente baseado na conversa informal que teve conosco, ele informou à polícia que era bala de borracha, embora nenhum médico tenha olhado as radiografias. No IML, onde deveria realizar o exame de corpo de delito, o sistema estava fora do ar. Não sei em que se baseiam para afirmar que eu alegara ser vítima de uma bala de fuzil. Nem sei em que a polícia se baseia para afirmar ser bala de borracha, conforme informado pela TV."
(Rafael Caruso. Farmacêutico. Ferido na manifestação do dia 22/07/2013)
"Estava com um grupo de pessoas na Praça São Salvador, nas Laranjeiras, após a dispersão do ato no Palácio Guanabara. O choque da PM, que estava caçando manifestantes pelo bairro, chegou e nos encurralou entre a calçada, um carro e uma barraquinha de camelô. Levei quatro tiros de bala de borracha praticamente a queima-roupa, pois o carro da PM estava bem próximo. Fiquei com sérios ferimentos na barriga e na coxa. Na hora, eu estava com um bumbo protegendo o rosto, e pude sentir várias balas de borracha acertarem o bumbo, ou seja, eles atiraram para acertar o rosto. Os moradores de um prédio foram bastante gentis e nos oferecerem abrigo, pois a polícia continuava a caçada. Depois fui no hospital Souza Aguiar fazer curativos e encontrei mais alguns feridos."
(Rafael Gomes Penelas. Membro da equipe do jornal A Nova Democracia. Ferido na manifestação de 22/7/2013)
"Eu estava sem pedras, sem mochila na hora da prisão. Os policiais começaram a jogar bomba, balas de borracha. Nós corremos e por causa do gás lacrimogêneo começamos a ficar sem ar. Eu e outras pessoas nos refugiamos num prédio. Nós estávamos num grupo de sete pessoas, os policiais não nos revistaram e nos mandaram direto pra prisão. (...) Eles inventaram uma acusação de formação de quadrilha com pessoas que sequer se conheciam. (...) A gente precisa continuar nas ruas e se indignar com tudo isso. Quanto mais a PM fizer isso com a gente, mais forte nós vamos ficar. A verdade está com a gente."
(Bernardo Seabra. Jornalista. Preso na manifestação do dia 18/07/2013. Está sendo indiciado por formação de quadrilha)
"Fui atingida por quatro tiros de bala de borracha. Os disparos foram feitos de maneira muito covarde, pois eu e uma amiga fomos atacadas quando tentávamos nos afastar da nuvem de gás lacrimogêneo. Nesse momento, a tropa de choque vinha em sentido oposto e atirou contra a gente, mesmo estando nitidamente fugindo do confronto e com o rosto descoberto. Tivemos que nos esconder e só conseguimos chegar ao hospital sendo carregadas no colo por outros manifestantes. Como consequência dessa atrocidade, estou até hoje com muita dificuldade de me locomover, não consegui comparecer ao trabalho e tive meu contrato encerrado devido às faltas, mesmo munida de atestado médico."
(Tabatah Flores. Bacharel em direito. Baleada na manifestação de 11/07/2013)
"As pessoas começaram a correr, o gás estava muito forte. Senti uma granada bater no meu pé e então uma explosão muito forte. Estava sufocando e não conseguia andar direito. Quando cheguei à Casa de Saúde Pinheiro Machado, a porta estava estilhaçada pela polícia e a clínica cheia de gás. Muitos outros foram feridos. Foi uma ação covarde, uma ordem covarde e autoritária de um comando irracional liderado por maníacos. Um governo que a cada dia mostra que, em vez de ouvir a voz do povo, trata este como um inimigo a ser combatido."
(Thiago Earp. Produtor e Roteirista audiovisual. Ferido na manifestação de 11/07/2013)
"Repentinamente, a PM atacou os manifestantes com um caminhão que dispara jatos fortíssimos de água. Eu e um grupo de cerca de 10 jornalistas, cinegrafistas e fotógrafos permanecemos postados entre manifestantes e PMs registrando o confronto, que seguiu pela rua Paissandu. De repente, uma bomba foi atirada contra nós, que levantamos as mãos e gritamos repetidas vezes: "Imprensa! Imprensa". Mesmo assim, outras quatro granadas de efeito moral foram atiradas. Duas delas me acertaram na perna. Minha panturrilha ficou literalmente deformada. Agora fica a pergunta: Quem atirou a bomba? Quem atirou foi uma polícia que, ao contrário do que muitos dizem, é muito bem preparada. Preparada para reprimir, ser truculenta e não ter um pingo de humanidade. Preparada para não respeitar ninguém e promover violência."
(Patrick Granja. Jornalista do Jornal A Nova Democracia. Ferido na manifestação do dia 11/07/2013)
"Com o início do confronto, o cordão dos policiais que protegia o Palácio foi reposicionado, fechando a rua às minhas costas. Nesse momento fui atingido por trás, no lado direito da cabeça; (...) o que me faz acreditar que fui atingido pela polícia (...).
Fui internado no CTI com traumatismo crânio-encefálico (...). A ação da Polícia Militar não se dá de modo a garantir a dignidade das pessoas e a integridade do patrimônio público e privado; pelo contrário, ela instiga a violência e o conflito. (...) a intervenção desmedida da Polícia Militar é sempre relevada em função de um suposto mau comportamento por parte dos manifestantes, o que não é a realidade prática das passeatas."
(Pedro Guimarães Lins Machado. Fotógrafo. Ferido na manifestação do dia 11/07/2013)