Uma massiva greve geral tomou as ruas da Argentina neste dia 24 de janeiro. Convocada por diversos grupos e centrais sindicais, a greve condena contra as medidas anti-povo e vende-pátria de Javier Milei, como a “Lei Omnibus” imposta via Decreto de Necessidade e Urgência (DNU) e que envolve desde a criminalização de protestos até a privatização de 41 empresas estatais, a anulação de contratos de 7 mil servidores públicos, o desfinanciamento da educação e cultura e a desvinculação da aposentadoria à inflação, tudo no esforço de “reduzir os gastos do Estado” para arcar com as dívidas externas com organismos do imperialismo norte-americano como o Fundo Monetário Internacional (FMI). Vôos para a Argentina chegaram a ser cancelados em decorrência dos protestos.
As mobilizações se iniciaram na manhã com concentrações de trabalhadores em diversos pontos centrais da capital Buenos Aires. Bloqueios em diversas avenidas foram realizados, confrontando as leis reacionárias do governo de Javier Milei que impuseram severas punições aos manifestantes e organizações que fecham vias em protestos. As manifestações contaram com a participação massiva de diversas categorias de trabalhadores, desde intelectuais, estudantes, cientistas, trabalhadores aposentados, professores e pequenos empresários.
De acordo com os dados geralmente subestimados do monopólio de imprensa, cerca de 130 mil pessoas participaram das manifestações e 1,5 milhão de argentinos participaram da greve. A maior parte dos manifestantes concentrou nos arredores do Congresso Nacional para exigir o veto na medida ultrarreacionária Lei Omnibus.
Em um vídeo publicado na rede social X, antigo Twitter, é possível observar a massividade da manifestação que tomou as ruas da cidade:
Lei Omnibus: reacionarização do velho Estado e entrega do país
A Lei Omnibus, medida de Javier Milei que está sendo o principal alvo dos protestos, se trata da intitulada “Lei de Bases e Pontos de Partida para a Liberdade dos Argentinos” e declara um “estado de emergência pública econômica, financeira, fiscal e de segurança e defesa” e estabelece 664 artigos. Na prática, a lei coloca em caráter de urgência diversas medidas que vão no sentido de agilizar a entrega de estatais para acionistas, privatizações e reacionarização do velho Estado com maior concentração do poder no executivo.
Quanto às medidas econômicas, destaca-se a entrega da principal petrolífera do país, a estatal Yacimentos Petroliferos Fiscales (YPF), bem como outras 40 estatais dos setores energético, correios, transporte e até mesmo a casa da moeda. A lei prevê também um “regime de incentivos à grandes investimentos”, que na prática se trata de ampliar benefícios fiscais aos grandes burgueses estrangeiros que atuam no país.
Quanto à reacionarização do velho Estado prevista na Lei Omnibus, as expressões mais graves se dão com as absurdas restrições à liberdade de expressão, organização e manifestação. A lei estabelecerá que qualquer tipo de reunião com mais de três pessoas em local público será considerado um protesto, que para ocorrer deverá ser informado à polícia com 48 horas de antecedência, caso contrário será considerado ilegal. Além disso, a lei concentrará mais poder no Executivo ao minar a influência de outras esferas do velho Estado argentino nas decisões políticas do país.
Agudização da luta de classes no país
A greve geral ocorre em um cenário de um agravamento da explosividade das massas no país decorrente da profunda crise econômica que o assola há décadas, marcada pela alta inflação e endividamento com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Hoje o país tem a maior inflação do mundo, tendo uma alta anual de 211,4% dos preços no ano de 2023.
Diante da crise brutal, que se expressa para as massas em um aumento sem precedentes da carestia com a alta no preço dos alimentos e demais produtos básicos, o povo argentino se levanta em grandes manifestações e até confiscos destes produtos em supermercados. Neste cenário explosivo, a resposta do presidente fanfarrão recém-eleito tem sido aumentar as leis de restrição às liberdades democráticas como forma de minar de forma preventiva o inevitável levante do povo argentino.
Até agora, a estratégia tem sido ineficaz. Desde o dia 27 de dezembro do ano passado, os argentinos têm realizado sucessivos, constantes e crescentes protestos contra Milei e suas medidas.