26 presos: Camponeses de Rondônia são alvo de megaoperação coordenada pelo latifúndio

Enquanto os 26 camponeses sofriam na prisão, vários policiais militares continuaram no acampamento e, antes de destruírem as casas das famílias, obrigaram as mulheres camponesas a cozinhar para os militares. 
PMs prenderam camponeses e forçaram camponesas a cozinhar enquanto destruíam casas. Foto: Reprodução

26 presos: Camponeses de Rondônia são alvo de megaoperação coordenada pelo latifúndio

Enquanto os 26 camponeses sofriam na prisão, vários policiais militares continuaram no acampamento e, antes de destruírem as casas das famílias, obrigaram as mulheres camponesas a cozinhar para os militares. 

Ao menos 26 pessoas, entre elas uma mulher grávida, foram presas pela Polícia Militar (PM) de Rondônia durante uma megaoperação policial a serviço do latifúndio contra o acampamento São Francisco, localizado na região de Nova Mutum em Porto Velho (RO), no dia 11 de abril. 

A ofensiva reacionária teve início ao meio-dia sem qualquer ordem de reintegração de posse e contou com mais de seis viaturas, um helicóptero e mais de 20 policiais. Segundo os camponeses, latifundiários acompanharam a operação e deram ordens sobre quem deveria ser preso e quais itens deveriam ser levados pelos policiais. Os camponeses também denunciaram a ausência de profissionais da assistência social e do corpo de bombeiros, apesar do local ser habitado por crianças e mulheres. 

Prisões forjadas

A operação foi para prender o máximo de camponeses. Um homem denunciou que estava em seu próprio sítio com seus funcionários quando foi abordado por um PM, chamado Mendes, jogado em um veículo e transportado até o acampamento, onde foi preso como a “liderança camponesa local”. A denúncia foi aceita pelo judiciário de Rondônia. 

Ao ser liberado, o camponês foi proibido de retornar à sua propriedade onde trabalhava criando gado e outras plantações, que necessitam de manutenção constante. 

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Um motorista de ônibus escolar que atende na região também foi preso. O trabalhador estava no local exercendo seu trabalho, quando foi surpreendido pela polícia que o acusou de esbulho e de posse de armas.

‘Cara de sem terra’

Segundo a denúncia, muitas prisões foram feitas na entrada do acampamento. Os policiais apontavam as armas para os camponeses e prendiam todos que eles achassem que tinham “cara de sem terra”. 

Os prisioneiros foram enviados para o Quartel do Distrito Nova Mutum, onde a advogada popular da Associação Brasileira de Advogados do Povo – Gabriel Pimenta (Abrapo) conseguiu fazer uma intervenção na sexta-feira, garantindo que eles fossem enviados para a Central de Flagrantes. A advogada também conseguiu finalmente ver a situação física dos camponeses, que relataram ter sido agredidos, ameaçados e que seus pertences foram revirados. 

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A prisão ainda durou dois dias: os camponeses foram enviados ao presídio Urso Branco no sábado e soltos no domingo, três deles com tornozeleiras eletrônicas e proibidos de andar perto das suas propriedades. Já a mulher foi enviada para a Casa de Detenção Feminina e liberada no domingo. Motos, carros e celulares foram apreendidos. 

Obrigadas a cozinhar para PMs

Enquanto os 26 camponeses sofriam na prisão, vários policiais militares continuaram no acampamento e, antes de destruírem as casas das famílias, obrigaram as mulheres camponesas a cozinhar para os militares. 

Os camponeses denunciam que os latifundiários por trás do ataque não são sequer da região.

É normal, no Norte e no Nordeste, que latifundiários de várias partes do País busquem formas de atacar os camponeses locais. No final de março, a União das Comunidades em Luta (UCL) do Vale do Rio Gurupi (MA) denunciou que latifundiários do Sul estavam fazendo manobras no judiciário para expulsar camponeses da Gleba Campina. O caso foi repercutido pelo Comitê de Solidariedade à Luta pela Terra. 

Em RO, essa atuação contra a luta pela terra tem atingido níveis cada vez mais violentos. O AND noticiou nas semanas retrasada e passada os ataques brutais feito pelo grupo paramilitar “Invasão Zero” e pistoleiros locais contra camponeses do acampamento Gedeon José Duque Machado, em Machadinho D’Oeste. Segundo o portal Resistência Camponesa, o bandido por trás dos pistoleiros locais é o pistoleiro Gesulino Cesar Travagine Castro, autor e mandante da Chacina de Buritis. 

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Acostumados a realizar ataques arbitrários e ilegais como o que resultou no brutal assassinato da Nega Pataxó na Bahia e tantos outros episódios infames de violência contra os povos em luta pela terra no Brasil, essa foi, entretanto, a primeira vez que eles foram escorraçados e colocados para fora pera ira do povo, e saíram com o saldo de 5 feridos, sendo um deles o presidente do movimento em Pernambuco, José Antônio Fonseca de Mello, que foi baleado no confronto. 
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Nos ataques recentes, Gesulino gravou e postou um vídeo destruindo parte da área Gedeon e outro em que se vangloria de uma cerca construída em uma parte da área a qual ele roubou. Os camponeses afirmam ainda terem identificado um pistoleiro que baleou um camponês no dia 31/3 e o veículo por ele usado. De acordo com o Resistência Camponesa, o veículo foi visto junto de viaturas durante a prisão de um dono de um bar na localidade. 

Questão nacional 

Os ataques aos pobres do campo têm ocorrido de maneira cada vez mais rotineira no País, como expressão do papel cada vez mais central desempenhado pelo latifúndio na economia brasileira, com um caráter semicolonial e semifeudal, baseada na exportação de commodities. O preço das terras agrícolas valorizou 113% nos últimos 5 anos, segundo um estudo da Scot Consultoria.

Isso faz com que grandes empresários e latifundiários queiram expandir ainda mais as posses agrárias. Contudo, como a terra é um bem limitada, essa expansão se faz pela expulsão de pessoas pobres do campo: camponeses, indígenas, quilombolas e outras comunidades tradicionais. Os seis primeiros meses de 2024 tiveram ao menos 1.056 conflitos agrários, segundo um relatório parcial divulgado pela Comissão Pastoral da Terra esse ano.  

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