Assassinaram um dos nossos. Seu nome era Edson Luís de Lima Souto. Filho do povo, de família pobre, nascido em Belém do Pará no dia 24 de fevereiro de 1950. Veio para o Rio de Janeiro ainda muito jovem com o objetivo de cursar o segundo grau no Instituto Cooperativo de Ensino, onde funcionava o restaurante Calabouço, lugar onde o estudante entrou para a história aos 18 anos de idade.
Edson Luís se tornou um símbolo de resistência ao regime militar fascista quando, em 28 de março de 1968, foi covardemente assassinado por policiais no Calabouço quando participava de uma manifestação contra o aumento do preço da comida no restaurante.
O crime, comandado pelo comandante da tropa, aspirante Aloísio Raposo, ocorreu no início da noite daquele 28 de março, quando a PM chegou no local e tentou dispersar os manifestantes. Isso, claro, não sem encontrar forte resistência dos jovens, que, entrando no restaurante, responderam com paus e pedras.
A polícia recuou deixando as ruas desertas. Foi quando os policiais acharam que os estudantes iriam atacar a Embaixada do USA – país que financiou e orquestrou o regime militar fascista – e invadiram o restaurante. Foi nesta hora que a bala assassina da repressão atingiu Edson a queima roupa.
Este fato político de alta relevância intensificou as mobilizações e manifestações dos brasileiros contra o regime militar, que, alguns meses depois, decretaria o famigerado Ato Inconstitucional Número Cinco (AI-5).
Estudantes denunciam intervenção militar e homenageiam Edson Luis no Dia do Estudante no Rio de Janeiro, 2018
São emocionantes as imagens do enterro de Edson Luís, quando o Rio de Janeiro praticamente parou para homenagear o jovem combatente. Na missa de sétimo dia, em 4 de abril, as pessoas presentes foram atacadas pela cavalaria da PM com golpes de sabre na Igreja da Candelária. Quase três meses depois, em 26 de junho de 1968, os cariocas iam em peso para as ruas na famosa Passeata dos Cem Mil.
A morte de Edson também se configurou como um dos inúmeros atos heroicos feitos por homens e mulheres que verteram seu sangue para ver o Brasil liberto do fascismo e da dominação do imperialismo. Pessoas que, muitas vezes, abriram mão de seu conforto pessoal para lutar não somente contra o regime militar, mas por uma transformação radical da sociedade brasileira e por um mundo em que não exista a exploração do homem pelo homem.
Até os dias de hoje, passados 51 anos, o 28 de março é lembrado e celebrado como Dia do Estudante Combatente. Dia em que os estudantes vão para as ruas exigir seus direitos, seja o passe livre no transporte público, seja por melhorias na educação, seja contra os desmandos dos sucessivos “governos” etc.
No contexto atual de governo militar de Bolsonaro – governo que é, como apontou o professor Fausto Arruda, “tutelado pelo Alto Comando das Forças Armadas reacionárias” – o dia 28 de março tem um significado ainda mais especial, pois apresenta para a juventude brasileira a tarefa de não permitir que o fascismo volte a infelicitar a nossa Nação.
Texto publicado em 28/03/2019