O dia 30 de junho foi marcado por manifestações de povos indígenas por todo país. Barricadas foram erguidas cerca de 18 rodovias federais e estaduais. Os protestos ocorreram em mais de 20 cidades, nas cinco regiões do Brasil. A principal reivindicação das manifestações foi o fim do Projeto de Lei (PL) 490 que seria votado no Supremo Tribunal Federal (STF) no mesmo dia.
Estas ações são a continuidade das manifestações dos povos indígenas que vem acontecendo em diversos estados brasileiro, bem como o Levante pela Terra – onde cerca de 850 indígenas de mais de 50 etnias de todas as regiões do Brasil estão acampados em Brasília há mais de 30 dias, realizando manifestações no local em defesas de suas Terras em territórios tradicionais, resistindo heroicamente a ataques das forças de repressão do velho Estado que tentam frear a revolta dos povos contra a PL.
A nova legislação que determina o Marco temporal como regra para a demarcação onde apenas terras com presença física de indígenas que se comprove na data de 5 de outubro de 1988, podem ser consideradas para demarcação. Logo o projeto visa dar continuidade no roubo de terras pelo latifúndio consolidando o terreno do genocídio contra os povos indígenas que resistem há mais de 500 anos. A aprovação desta lei pode impossibilitar diversas demarcações e também reverter a definição de terras já demarcadas.
Em 30/06, após um trâmite judicial que tenta se impor contra vontade dos povos originários desde 2007, ocorreria uma sessão no STF onde poderia ser aprovada a PL. Em decorrência da luta pela terra travada pelos povos indígenas, em especial neste último mês, o julgamento foi adiado até 25 de agosto.
Em 11/06, a mesma sessão já havia sido adiada também em frente a resistência que percorria o país.
Confira a apuração feita pelo AND dos principais atos:
Sudeste
No estado do Rio de Janeiro, com exclusividade o AND realizou a cobertura do protesto que ocorreu na capital onde aproximadamente 150 manifestantes indígenas da Aldeia Maracanã (localizada na zona norte do Rio de Janeiro) e apoiadores realizaram um combativo protesto contra a PL 490 que se iniciou às 14 horas em frente ao Tribunal Regional Federal 2ª regional (TRF 2), no centro da cidade do Rio de Janeiro.
Indígenas da aldeia Maracanã e apoiadores acendem barricada em ato no centro do Rio de Janeiro. Foto: Banco de dados AND
Entoando palavras de ordem como “Aldeia resiste contra a PL 490, Bolsonaro sai Aldeia fica!”, os manifestantes permaneceram em frente ao TRF2 bravamente por horas. No decorrer do protesto, interditaram a via, acenderam uma fogueira e realizaram ritos culturais. Com megafone afirmavam que a luta do povo indígena é a luta do povo brasileiro.
Após as falas, seguiram marchando pela Avenida Presidente Vargas que também foi interditada pelos manifestantes. A marcha prosseguiu pelas ruas centrais do Rio de Janeiro e por volta das 18:30 os manifestantes chegaram em frente à Câmara Municipal, local onde se levantou novamente uma grande fogueira e entoaram palavras de ordem contra as formas de apagamento histórico dos ritos indígenas.
Na manhã do dia anterior, em 29 de junho, manifestantes da Aldeia Maracanã protestaram contra a PL 490 bloqueando a Avenida Radial Oeste com queima de pneus com palavras de ordem e cartazes.
Frase “Aldeia Maracanã Resiste” estampa faixa em protesto no Rio de Janeiro. Foto: Banco de dados AND
Indígenas da aldeia Maracanã e apoiadores acendem barricada em ato no centro do Rio de Janeiro. Foto: Banco de dados AND
No estado de São Paulo, o dia também foi marcado pelas manifestações. A cidade de Campinas amanheceu com uma grande barricada erguida com pneus e fogo na Rodovia Zeferino Vaz (SP-332).
A capital paulista contou com um ato com cerca de 50 manifestantes em frente ao Tribunal Regional Federal na Avenida Paulista. Já a entrada do Parque do Jaraguá, localizado na zona noroeste da cidade, onde o povo Guarani recentemente sofreu ameaças de despejos, foi bloqueada e os manifestantes ergueram barricadas com fogo e faixas em repúdio a PL com frases como: “Fora Bolsonaro genocida” e “O Brasil sempre foi indígena e sempre será”.
Em Campinas (SP), barricadas bloqueiam Rodovia Zeferino Vaz (SP-332), Foto: Reprodução
Na Baixada Santista, o povo Guarani fechou a Rodovia Padre Manoel da Nóbrega (SP-55), divisa entre as cidades de Itanhaém e Peruíbe, os manifestantes empunhavam cartazes exigindo demarcação já, contra o marco temporal e o governo genocida.
Sul
No Paraná ocorreram pelo menos três manifestações em importantes rodovias do estado.
Em São José dos Pinhais (PR), barricada é erguida na BR-277. Foto: Reprodução
Um grupo de cerca de 70 manifestantes realizou o bloqueio da BR-277, principal rodovia de ligação entre Curitiba e litoral, por volta das 12 horas. Barricadas compostas por galhos foram incendiadas em ambos os sentidos da pista, próximo à praça de pedágio de São José dos Pinhais. A Polícia Rodoviária Federal foi acionada para quebrar o bloqueio, porém os manifestantes, de maioria indígena, resistiram.
Em Chopinzinho, no sudoeste do estado, aproximadamente 70 manifestantes interditaram a BR-373, no quilômetro 459. Em Jataizinho, norte do estado, a ação dos manifestantes iniciou-se na praça de pedágio da cidade, onde as cancelas de pedágio foram liberadas.
No estado de Santa Catarina outras rodovias foram interditadas. Em Florianópolis, os indígenas Kaingang pela manhã fecharam o Túnel Antonieta de Barros e interditaram a SC-401. A BR-101 também foi bloqueada por protestos em dois trechos: um deles na altura do Morro dos Cavalos, na cidade de Palhoça, e outro trecho no quilômetro (km) 64, próximo a aldeia Tarumã em Araquari.
Outra manifestação bloqueou a SC-238, no trevo de acesso a Paial, em Chapecó.
Com faixas em apoio ao chamado “Levante da terra” contra a PL490, indígenas bloqueiam a BR-101. Foto: Arildo Palermo
Manifestantes bloqueiam a BR-101, no Morro dos Cavalos (SC). Foto: Reprodução
Manifestantes bloqueiam a BR-101, no Morro dos Cavalos (SC). Foto: Reprodução
Manifestantes bloqueiam a BR-101, no Morro dos Cavalos (SC). Foto: Reprodução
Em Curitiba, capital do Paraná, cerca de 100 pessoas se reuniram na praça Santos Andrade em frente ao prédio histórico da Universidade Federal do Paraná (UFPR). O ato foi marcado por intervenções de participantes e organizadores, que trouxeram à tona o problema histórico de roubo e grilagem de terras dos povos originários, agravada agora com a aprovação do Projeto de Lei que beneficiará grandes proprietários de terras e empresas estrangeiras.
Brigadistas do Comitê de Apoio ao AND de Curitiba marcaram presença na concentração, divulgando e vendendo edições antigas com o tema da Luta pela Terra, recebendo grande apoio político e financeiro de participantes.
Uma brigadista realizou uma intervenção no qual denunciou o massacre histórico dos povos originários e o silêncio complacente dos principais veículos do monopólio de imprensa em mostrar a realidade da luta pela terra em nosso país. Também expôs a grave situação política na qual o governo de Bolsonaro/Generais têm impulsionado ações na tentativa de criminalizar a luta pela terra, visando a criminalização de toda a luta popular no Brasil.
No Rio Grande do Sul, um bloqueio aconteceu no km 257 da BR-285 na cidade de Água Santa. Outro bloqueio ocorreu no km 11 da BR-386, na cidade de Iraí. Na capital do estado, Porto Alegre, manifestantes protestaram na Rua Borges Medeiros, localizada na região central da cidade.
Barricadas são erguidas pelo povo Kaingang em Iraí (RS). Foto: Reprodução
Norte
Uma grande manifestação realizada por indígenas em Roraima bloqueou a BR-174, na altura do km 666, próximo à comunidade do Sabiá, Terra Indígena São Marcos, em Pacaraima. Outro grupo de manifestantes interditou também um trecho da BR-432, próximo a comunidade indígena Tabalascada, no Cantá.
Sob chuva povos indígenas fecham a BR-174. Foto: CIR
No estado do Amazonas, uma grande manifestação que reuniu povos indígenas de diversos locais do estado ocorreu em frente à Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam) em Manaus.
Outro protesto ocorreu na cidade de São Gabriel da Cachoeira, em frente à sede da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn) e contou com a presença de representantes de 23 etnias que convivem no território tradicional na região do Rio Negro. Os manifestantes erguiam cartazes com dizeres como: “Demarcação já!” e “Não a PL490!”.
Manifestantes protestam em frente a Foirn, em São Gabriel das Cachoeiras (AM). Foto: Ray Baniwa
Em Manaus (AM) a manifestação ocorreu em frente a Assembleia Legislativa. Foto: Reprodução
No Acre, cerca de quatro povos indígenas se reuniram bloqueando a ponte que dá acesso à cidade de Feijó. No local ocorreu uma manifestação no dia 22/06, onde os manifestantes ergueram barricadas.
A BR-364 foi interditada por manifestantes próximo a Feijó (AC). Foto: Manoel Albuquerque
Em Rondônia, jovens indígenas organizaram uma manifestação na Praça das Três Caixas D’água, em Porto Velho. Estavam presentes representantes dos povos Suruí, Uru-Eu-Wau-Wau e outros. No estado existem pelo menos 29 Terras Indígenas, onde 21 foram demarcadas, mas apenas oito depois de 88. Há em Rondônia ao menos 4 povos isolados.
Em Porto Velho (RO), manifestantes erguem faixas contra a PL490, a mineração em terras indígenas, exigindo Demarcação já. Foto: Reprodução
No oeste do estado do Pará, povos da região do Baixo Tapajós, bloquearam a BR-163 em Santarém. Durante a manifestação foram erguidas faixas exigindo demarcação e contra a PL, cruzes simbolizando o genocidio, além de fogo em pequenas barricadas pelo caminho.
Com faixas exigindo direito originário, contra a PL490, povos do Baixo Tapajós interditam BR-163. Foto: Leonardo Milano
Povos indígenas do Baixo Tapajós interditam BR-163 e erguem pequenas barricadas. Foto: Leonardo Milano
Nordeste
Em Alagoas, indígenas da aldeia Wassu Cocal bloquearam por toda a manhã a BR-101, durante a ação entoavam canções de resistência e levantavam cartazes com dizeres contra o velho Estado.
Na Bahia, os indígenas Tupinambá interditaram a BA-001, via que liga a cidade de Ilhéus a Olivença, sul do estado. O povo Pataxó Hã-hã-hãe, da Terra Indígena Caramuru Catarina-Paraguassu, interditou a BR-101.
Tupinambás bloqueiam BA-001 em grande manifestação. Foto: Cival Tupinambá
No estado do Maranhão, ainda no dia 29/06, povos dos territórios indígenas: Alto Turiaçu, Caru, Awá e Pindaré, onde vivem comunidades das etnias Guajajara, Awá-Guajá e Ka’apor, bloquearam dois trechos da BR-316, entre Santa Inês e Bom Jardim, com pneus.
No Ceará, pela manhã manifestantes bloquearam a BR-222, em Caucaia, região metropolitana de Fortaleza. Os indígenas ergueram com galhos e fogo barricadas pela via.
Em Caucaia (CE) com faixa e barricadas manifestantes fecham BR-222. Foto: Reprodução
Centro-oeste
Em Brasília, indígenas e apoiadores organizaram uma marcha. Às 13h os manifestantes partiram do Acampamento Levante Pela Terra, próximo ao Teatro Nacional, caminhando até o Supremo Tribunal Federal (STF), na Praça dos Três Poderes. Lá, os presentes permaneceram até o final da tarde, quando a sessão no STF foi encerrada.
Manifestantes tomam Praça dos Três Poderes (DF), enquanto sessão do STF visava julgar a PL490. Foto: Associação Democrática Brasileira
Manifestantes tomam Praça dos Três Poderes (DF), enquanto sessão do STF visava julgar a PL490. Foto: Associação Democrática Brasileira
Manifestantes tomam Praça dos Três Poderes (DF), enquanto sessão do STF visava julgar a PL490. Foto: Associação Democrática Brasileira
No Mato Grosso do Sul, cinco pontos de três rodovias federais foram interditadas. O bloqueio ocorreu na BR-163, no km 26, em Eldorado; no km 304, em Douradina e no km 215, em Caarapó. Outros bloqueios aconteceram nos km 526 da BR-060 em Nioaque, e no km 528 da BR-262, em Miranda.
Manifestantes interditam BR-060, em Nioaque (MS). Foto: Direto das Ruas