Mais de 60% da população brasileira trabalha com bicos ou empregos informais, desistiu de procurar emprego, ou está desempregada ou absorta em trabalhos como a escravidão doméstica, que impossibilitam a empregabilidade, segundo os novos dados da PNAD Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua) do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) publicados hoje (29/11)
Oficialmente, o IBGE diz que o desemprego caiu 1,4% na taxa anual e 0,6% na comparação trimestral. Os dados de desemprego são medidos de acordo com as definições de “ocupação” e “desocupação” do IBGE. O órgão considera ocupadas as pessoas empregadas, formal ou informalmente e afastadas do trabalho. Pessoas que que tenham ajudado na atividade econômica de algum parente que viva em outra casa ou de alguma pessoa com quem divide a casa por meio de “remuneração indireta” (dinheiro, comida, ou outro favor) também são consideradas ocupadas.
‘Fora da força de trabalho’
O IBGE também separa as pessoas “na força de trabalho” e “fora da força de trabalho”. As pessoas fora da força de trabalho são indivíduos que não estão trabalhando e também não procuram trabalho por motivos diversos, como estudo, saúde, idade, ocupação com tarefas domésticas/familiares ou então os que são parte da força de trabalho potencial, uma subcategoria de pessoas que desistiram de procurar trabalho, mas gostariam de trabalhar, como é o caso dos desalentados.
De acordo com a pesquisa do IBGE, há 66,4 milhões de pessoas fora da força de trabalho no Brasil.
As mulheres em especial são apagadas das estatísticas: 65% da massa de pessoas fora da força de trabalho são do sexo feminino, e são consideradas como alheias à força de trabalho sobretudo por terem obrigações domésticas e familiares que as impedem de trabalhar ou procurar trabalho.
Dados reais
Com base nesses critérios, o IBGE calculou que há 110 milhões de brasileiros na força de trabalho, dos quais 103 milhões estão ocupados. Acontece que, dentre os ocupados, 40,2 milhões estão na informalidade, sendo 14,4 milhões empregados no setor privado sem carteira assinada – uma alta de 8,4% na média anual e 3,7% na trimestral. O número de pessoas em trabalho informal é maior que o de empregados no setor privado com carteira assinada, que totalizam 39,02 milhões, de acordo com a pesquisa.
Ao somar os dados de informalidade com a desocupação, subocupação por insuficiência de horas trabalhadas e pessoas fora da força de trabalho (das quais a maioria estão aptas a trabalhar) o número é de 118,7 milhões de trabalhadores, ou 67,2% da população brasileira.
Exploração máxima e servidão
Dentre os setores da economia que mais empregaram de 2023 para 2024 estão a construção, indústria, comércio, transporte, armazenagem e correio, alojamento e alimentação, informação e comunicação, administração pública, saúde e educação e “outros serviços”. A agricultura, setor controlado principalmente pelo latifúndio (“agronegócio”), apresentou queda.
A pesquisa não mede a condição de trabalho nesses setores, mas muitos deles são conhecidos pelas condições servis ou de exploração máxima impostas aos operários. Em outubro de 2024, 11 empregadores da construção civil foram incluídos na lista suja do trabalho escravo. Em agosto, 73 operários foram encontrados em condições servis na construção de condomínios de luxo nas praias de Pernambuco. Ao todo, entre 19 de julho e 28 de agosto, 593 trabalhadores de vários setores foram registrados em condições servis em 15 estados diferentes. Essa semana, a Agência Pública também veiculou denúncias de exploração máxima e espancamentos de operários estrangeiros e condições degradantes de trabalho em uma fábrica da chinesa BYD na Bahia, inaugurada em parceria com o governo de Jerônimo Rodrigues, do PT.