As fumaças derivadas das queimadas causadas pelo latifúndio no Brasil levaram 76 pessoas a óbito entre agosto e a primeira semana de setembro, segundo dados da Secretaria Municipal de Saúde. Outros 1.523 casos de síndrome respiratória aguda grave foram registrados.
As pessoas afetadas pelas fumaças podem sentir sintomas como falta de ar, desconforto respiratório e pressão no tórax. Crianças abaixo dos cinco anos, idosos e pessoas com doenças respiratórias são ainda mais vulneráveis.
Desde o início de setembro, o Brasil já registrou cerca de 30 mil focos de incêndio. Pelo menos 60% do país está coberto de fumaças. No Rio Grande do Sul, moradores registraram casos de chuva preta, quando a água se mistura com a fuligem no ar.
As queimadas coincidem com o período de estiagem no país, mas o ritmo acelerado de crescimento dos incêndios em alvos específicos indicam que a principal razão dos incêndios é a ação coordenada latifundiários.
“O que chamou a atenção, obviamente, foi que os focos de calor começaram quase todos ao mesmo tempo em cidades onde a atividade principal era a cana-de-açúcar”, disse Rodrigo Agostinho, presidente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), à Agência Pública.
Mais da metade dos focos em SP ocorreram em “fazendas privadas”, sendo 81,29% em áreas de pastagem ou plantio de cana-de-açúcar. Grande parte das terras pertenciam a empresas latifundiárias, como a São Martinho SA e Raízen SA.
Fogo e dinheiro
Há vários motivos para o latifúndio incendiar áreas florestais ou mesmo parte da produção. A primeira é que é uma forma de abrir uma área de mata fechada de forma rápida, ainda mais se o interesse for usá-la para pasto.
“É muito essa lógica: ‘Eu vou acabar com a floresta. Não preciso desmatar. Porque o desmatamento é caro. O fogo é muito mais barato, só comprar gasolina e sair espalhando’.”, diz Agostinho. “A nossa sensação é que as pessoas estão apostando nessa ideia: aproveitar que está seco, quente, que a floresta não tem mais aquela umidade que ela tinha. É uma janela de oportunidade: ‘Já que eu não posso mais desmatar, vou botar fogo’”
Outra, quando o incêndio queima parte da produção, é tirar parte dos produtos do mercado para aumentar o preço das mercadorias. Depois dos incêndios em SP, as cotações internacionais de açúcar subiram.
Dia do Fogo se repete: que faz o governo?
A hipótese fica ainda mais coerente ao lembrar do Dia do Fogo de 2019, quando latifundiários atearam fogo em diferentes partes do País, em uma ação coordenada. Na época, o então presidente Jair Bolsonaro falou que os dados do Inpe eram mentirosos e bloqueou as ações de fiscalização, fomentando as ações.
Contudo, a falta de punição para os latifundiários apesar da troca de governos segue a estimular as queimadas. Foi Bolsonaro quem estimulou os incêndios, mas as investigações só foram concluídas cinco anos depois, no início de 2024, já no novo governo. Ninguém foi responsabilizado.
Entre 2023, o governo Luiz Inácio também cortou do Orçamento do Ministério do Meio Ambiente – atingindo diretamente serviços de prevenção de queimadas – e, em 2024, não atendeu às exigências dos trabalhadores de órgãos da preservação natural, que passaram mais de 3 meses em greve por melhores condições de trabalho, mais contratações e convocação dos concursados. O mandatário também fracassou em elaborar planos robustos de preservação dos quatro biomas brasileiros ainda em 2023.