86 anos da Batalha da Praça da Sé, a ‘Revoada dos Galinhas Verdes’

86 anos da Batalha da Praça da Sé, a ‘Revoada dos Galinhas Verdes’

Capa de jornal noticiando o vexame integralista

Há 86 anos, em 7 de outubro de 1934, um grande conflito entre operários e manifestantes antifascistas contra militantes da Ação Integralista Brasileira (AIB) tomou as ruas da região central de São Paulo no episódio que ficou conhecido como ‘Batalha da Praça da Sé’, ou ‘Revoada dos Galinhas Verdes’. O termo ‘Galinhas Verdes’ era usado para qualificar os membros da AIB, uma organização brasileira caricaturesca inspirada no fascismo que se erguia com força na Itália e na Alemanha, e que tinha como liderança Plínio Salgado (1895-1975).

Na ocasião, os integralistas haviam marcado para tal data um grande comício pela passagem dos dois anos Manifesto Integralista, que, segundo fontes históricas, contaria com cinco mil pessoas. Ao tomarem conhecimento da demonstração pública que os fascistas pretendiam fazer, os antifascistas de São Paulo (entre eles comunistas, anarquistas, sindicalistas e outros progressistas) decidiram se organizar para realizar uma grandiosa contramanifestação. Praticamente toda a esquerda paulista tomou parte no combate, que terminou com sete mortos (três integralistas, dois policiais, um guarda civil e um jovem comunista).

O comunista morto foi Décio Pinto de Oliveira, estudante de direito, que foi atingido com um tiro na nuca. Por muito tempo, Décio foi um símbolo da luta antifascista no Brasil, ainda mais naqueles anos que precederam a Guerra Civil Espanhola e a Segunda Guerra Mundial. 

Foto tirada na hora da ‘revoada’ dos fascistas

O nome ‘Revoada dos Galinhas Verdes’ surgiu pelo fato dos integralistas terem saído em debandada após o ataque popular. A falecida militante comunista e atriz Lélia Abramo, que participou do evento, assim descreveu:

“Enfrentamos, com armas nas mãos ou sem elas, a organização fascista integralista, comandada por Plínio Salgado. Os integralistas estavam todos fardados, bem armados, enquadrados e prontos para uma demonstração de força, protegidos pelas instituições político-militares getulistas e dispostos a tomar o poder. Nós, espalhados ao longo da praça e nas ruas adjacentes, esperamos pacientemente que desfilassem primeiro as crianças, também fardadas, e as mulheres integralistas. Depois disso, quando os asseclas de Plínio iniciaram seu desfile, nós todos avançamos e começou a luta aberta.”

O confronto

Durante a manhã de 07/10/1934, os antifascistas iniciaram os preparativos do ato na Praça da Sé, sendo que os integralistas começavam a ocupar um largo trecho da avenida Brigadeiro Luiz Antônio. Ao mesmo tempo, na Estação do Norte, centenas de integralistas desembarcavam do interior do estado. Todo o alarde sobre o comício da AIB e as convocações antifascistas para impedi-lo chamou a atenção do povo, que se dirigia à região.

Pouco depois da hora do almoço, a polícia começou a revistar as sedes dos diversos sindicatos que se localizavam nas proximidades da praça. Centenas de homens do Batalhão de Infantaria, Cavalaria, da Guarda Civil e outras forças se deslocaram ao local e todas as ruas que levam à Sé foram tomadas por agentes da repressão.


Integralista ferido após a batalha

Um grupo grande de antifascistas se reuniu em frente ao prédio Santa Helena, próximo aos integralistas, e começou a gritar “morte ao integralismo” e outras palavras de ordem. Tiveram início brigas e a polícia interviu com tiros, o que aumentou a confusão. Em seguida, os integralistas se reagruparam, entraram na Praça da Sé e tomaram as escadarias da catedral gritando sua saudação “anauê”. A tensão aumentou enquanto palavras de ordem eram entoadas efusivamente dos dois lados. Fontes apontam que o confronto para valer teve início quando disparos de metralhadora atingiram três guardas civis (matando um deles), o que gerou um tiroteio e uma verdadeira batalha pelas ruas. 

Esta batalha terminou com uma acachapante vitória dos antifascistas, que, literalmente, botaram os integralistas para correr. Tamanha foi a desmoralização sofrida pela AIB, que ela chegou a ficar desarticulada e desmoralizada (mais do que já era) nacionalmente.

Além dos sete mortos, estima-se que pelo menos 30 pessoas ficaram feridas. Os mortos (além do comunista Décio Pinto de Oliveira) foram identificados como: Hernani de Oliveira e José M. Rodrigues Bonfim (policiais); Jaime Guimarães, Caetano Spinelli e Teciano Bessornia (integralistas); Geraldo Cobra (guarda civil).

Nos anos seguintes a este acontecimento, o mundo viu a Segunda Grande Guerra Mundial, que, como todos sabem, terminou em 1945 com a vitória dos Aliados e, em particular, da Grande Guerra Patriótica da União Soviética contra a máquina de guerra nazifascista genocida de Hitler. O dia 9 de Maio entrou para a história como o Dia da Vitória. Vale lembrar que a vitória dos Aliados contou com a participação heroica da Força Expedicionária Brasileira (FEB) nos campos da Itália, o mesmo país onde, em abril de 1945, o cadáver do fascista Mussolini foi exposto em praça pública na cidade de Milão pela Resistência Popular.

Desde então, os integralistas, que já eram caricaturas mal feitas dos fascistas europeus, passaram a ser grupelhos insignificantes para a vida política do país.

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