Levantamento realizado pelo jornal monopolista A Folha de São Paulo revela que os 116 prefeitos que mais receberam verbas de emendas parlamentares tiveram uma taxa de reeleição de 98%, apenas dois não conseguiram se reeleger. Em média, cada candidato turbinado por emendas de deputados teve 72% de votos válidos em suas respectivas cidades.
Menos de 1% das ‘emendas pix’ aprovadas indicam qual o destino dos recursos
As chamadas “emendas pix“, criadas pelo governo de Jair Bolsonaro e empregadas amplamente durante o primeiro mandato de Luiz Inácio, permitem que o deputado destine verbas do orçamento federal para aliados políticos em prefeituras, que podem gastar o dinheiro como bem entenderem. Em média, apenas 1% de todas as emendas realizadas indicam um destino claro para as verbas. Apenas neste ano o governo federal bateu recorde na destinação de verbas para emendas parlamentares, R$ 50 bilhões. No orçamento de 2025 estão previstos outros R$ 39 bilhões.
Poucas semanas antes da eleição municipal, o governo federal entregou 4 bilhões em “emendas pix” para que deputados pudessem repassar às prefeituras em troca de apoio para seus partidos. Desde a posse dos atuais prefeitos em 2021, estes já receberam um total de R$ 80 bilhões em emendas parlamentares, grande parte delas “emendas pix“.
Prefeito recebe R$ 35 milhões em emendas destinadas por seu pai
Os atuais campeões de verba receberam em média R$ 2,5 mil por votante de seu município, contra R$ 847,90 da média nacional. O segundo município que mais recebeu foi Bituruna (PR) comandada por Rodrigo Rossoni (PSDB), reeleito com 75% dos votos válidos. A maior parte das verbas de emendas recebidas por seu município, R$ 83 milhões, foram destinadas por seu pai, o ex-deputado federal Valdir Rossoni, também do PSDB, responsável por 43% de todas as emendas, R$ 35 milhões. Em Bituruna o atual prefeito recebeu em média R$ 6,455 por votante.
O campeão foi Barra D’Alcântara (PI), onde o prefeito Mardônio Soares (MDB) se reelegeu como candidato único, recebendo R$ 23 milhões em emendas parlamentares, em sua maioria “emendas pix” através da Codevasf (Companhia de desenvolvimento dos vales do São Francisco e Parnaíba). Em um universo de 2.411 votantes, Barra D’Alcântara recebeu R$ 9.539,61 por cabeça.
O governo federal tem usado frequentemente estas verbas para comprar apoio de deputados do chamado “centrão” e da direita, que justamente são os partidos mais beneficiados nestas eleições e que concentram a imensa maioria das prefeituras turbinadas com emendas parlamentares. Isso significa, objetivamente, que o governo do oportunismo preparou tudo para a vitória do “centrão” e dos bolsonaristas nas eleições de 2024; e, com isso, garantiu à direita tradicional e aos bolsonaristas (que concorrerão provavelmente unificados em um candidato “bolsonarista moderado”) uma grande quantidade de recursos públicos, que serão usados em apoio à candidatura direitista, que disputará com a falsa esquerda. Em certo sentido, podemos atestar: a política de conciliação, do PT com o “centrão” e os bolsonaristas, preparou com sucesso o retorno deles em 2026.
