A Crise da Saúde Mental no Brasil: entre afastamentos recordes de trabalhadores e bons negócios para o Capital Financeiro

Os afastamentos por transtornos mentais crescem no Brasil, impulsionando o mercado privado de saúde mental. O capital financeiro investe em empresas e hospitais psiquiátricos, gerando debate sobre a eficácia dessas soluções frente à crise.
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A Crise da Saúde Mental no Brasil: entre afastamentos recordes de trabalhadores e bons negócios para o Capital Financeiro

Os afastamentos por transtornos mentais crescem no Brasil, impulsionando o mercado privado de saúde mental. O capital financeiro investe em empresas e hospitais psiquiátricos, gerando debate sobre a eficácia dessas soluções frente à crise.

Nos últimos dez anos, o Brasil testemunhou um salto preocupante nos afastamentos do trabalho por transtornos mentais. Segundo dados da Previdência Social, divulgados pela Agência Brasil, o número de trabalhadores afastados por questões como ansiedade, depressão e transtorno bipolar mais que dobrou: de 203 mil em 2014 para 440 mil em 2024.

O crescimento de 67% em relação a 2023 e a explosão de 400% nos casos de ansiedade (de 32 mil em 2014 para 141 mil em 2024) revelam um cenário de Crise Mental da sociedade brasileira, que coloca a saúde mental no centro de debates importantes.

Paralelamente, o setor privado de saúde registrou aumento de 60,8% em consultas psicológicas via convênios e 26% em internações psiquiátricas, conforme dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Apesar da aparente “promoção de acesso”, o paradoxo persiste: mesmo com mais serviços disponíveis, os afastamentos seguem em curva ascendente.

Nesse contexto de Saúde Mental, o Capital Financeiro encontrou um campo fértil para investimentos. Empresas como a Vittude, plataforma de atendimento psicológico online, captaram R$ 40 milhões entre 2018 e 2020, com aportes de fundos de capital como Crescera Capital e Redpoint Ventures. A mudança na Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1), que passou a exigir das empresas o gerenciamento de riscos psicossociais, abriu portas para parcerias com conglomerados como Grupo Boticário e Ipiranga, ampliando o mercado potencial do aplicativo de atendimentos para 3,5 milhões de trabalhadores.

O clima de “bons negócios” para o Capital Financeiro na Saúde Mental reflete a tendência imperialista ao monopólio. Nos EUA, a LifeStance Health Group, provedora de serviços psiquiátricos, atingiu valuation de US$ 7,5 bilhões em sua estreia na bolsa Nasdaq em 2021. No Brasil, especialistas como Fernando Kunzel, da L6 Capital Partners, projetam um “movimento de aquisições” na área de hospitais psiquiátricos, sinalizando que a saúde mental virou ativo estratégico para investidores. O “clima está mais que favorável” para investimentos.

Até ambientes que deveriam ser “isentos de interesses políticos”, como pesquisas científicas psiquiátricas, recebem uma influência imensa da Indústria Farmacêutica e do Capital Financeiro. Um artigo do MedScape denunciou que 60% dos médicos envolvidos na revisão do DSM-5-TR — principal manual de diagnósticos psiquiátricos do mundo — receberam US$ 14 milhões em financiamentos não declarados da indústria farmacêutica. O episódio expõe tensões entre ciência e interesses corporativos, levantando dúvidas sobre a neutralidade de diretrizes que moldam tratamentos psiquiátricos globais.

Diante desse cenário, resta a pergunta: a expansão do mercado privado de saúde mental — impulsionada pelo capital financeiro e “inovações” científicas pouco neutras — será capaz de frear a “epidemia” de transtornos mentais diante da crise econômica e social do imperialismo? Será que é possível acreditar que em consultas psicológicas e hospitais psiquiátricos novos, soluções vindas do Capital Financeiro vão resolver os problemas mentais e comportamentais de uma sociedade inteira, ou tais estruturas acabarão por apenas mascarar as raízes do adoecimento mental coletivo em crescimento exponencial?

Referências:

[1] Agência Brasil: Afastamentos por transtornos mentais dobram em dez anos

[2] IESS: Consultas com psicólogos aumentam na saúde suplementar

[3] Exame: Vittude mira breakeven com soluções em saúde mental

[4] Futuro da Saúde: Novos hospitais psiquiátricos
[5] Salud y Fármacos: Financiamento não declarado no DSM-5-TR

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