Em um período de menos de cinco dias, 45 pessoas foram assassinadas em chacinas de vingança nos estados de São Paulo (16 mortos), Bahia (19 mortos) e Rio de Janeiro (10 mortos), cometidas pelas polícias militar e civil. Há ainda a estimativa de que os números sejam subestimados, uma vez que corpos estão desaparecidos devido o grau de terror contra as massas que foi imputado pelas tropas reacionárias dos governadores genocidas Tarcísio de Freitas (Republicanos/SP), Cláudio Castro (PL/RJ) e Jerônimo Rodrigues (PT/BA).
Em entrevista à Agência Pública, a pesquisadora Terine Husek Coelho demonstra que quando um policial é morto em serviço, a chance de um civil ser morto no mesmo dia em retaliação aumenta em 1.150%. No dia seguinte, aumenta em 350% e uma semana após a morte, em 125%. É o que configura as chamadas operações de vingança, que são verdadeiras expedições punitivas. Publicações comemorando o extermínio das massas, feitas nas redes sociais por militares durante a “Operação Escudo” da ROTA nas favelas do Guarujá, litoral de SP, demonstram o nível de sadismo dos componentes das forças de repressão do velho estado. Os mandatários também não escapam: Tarcísio de Freitas chegou a afirmar em coletiva de imprensa, na segunda 31 de julho, que “não houve excesso, houve uma atuação profissional” e que estava “extremamente satisfeito” com a ação da polícia.
Como se vê, trata-se de uma guerra civil reacionária. A própria lógica das operações são a lógica da guerra reacionária: a favela é território inimigo fortificado e que deve ser invadido pela força das armas; a população local é de colaboradores ou inimigos disfarçados, a serem neutralizados pelo choque de ordem terrorista ou interrogados sob tortura para que admitam essa condição; os bens da população local são reserva estratégica do inimigo, deve ser saqueados ou destruídos. É ou não é essa a dinâmica das operações?
Essa guerra civil reacionária movida pelo velho Estado demonstra, na verdade, que não existe, para as massas populares, nenhuma “democracia”. A democracia pressupõe direitos e liberdades democráticas, como o direito à presunção de inocência. Os 16 mortos no Guarujá tiveram esse direito resguardado? Democracia pressupõe direito de ir e de vir: os moradores do Complexo da Penha tiveram esse direito respeitado quando as tropas policiais cercearam a vida social com sua operação belicista?
Toda defesa dessa velha democracia, feita pelo oportunismo, não passa de ilusão pequeno-burguesa ou defesa podre dessa velha ordem. Pois, a realidade das chacinas mostra ser a continuidade do aplicado durante o regime militar, inclusive porque quem define a doutrina militar das Polícias Militares é o comando do Exército, através de seu órgão chamado “Inspetoria Geral das PMs”. As mesmas práticas, a mesma polícia reacionária, servindo aos mesmos interesses. Realidade brutal que os governos petistas nunca alteraram, mas ao contrário, fortaleceram. Lembremos que foi o Luiz Inácio quem autorizou, pela primeira vez na história do país, que as Forças Armadas fossem acionadas com o pressuposto de combater o dito “crime” com a operação “Arcanjo”, com a invasão do Complexo do Alemão e Penha e logo sua ocupação. Dilma não fez diferente e, em 2014, assinou a GLO que permitiu a ocupação militar da Maré. Foi com o pelego–mor Luiz Inácio que as UPPs começaram a ser implantadas nas favelas cariocas em 2008, com ajudas e verbas milionárias. UPPs, que foram concebidas estrategicamente pelo Exército reacionário com sua experiência no Haiti.
Quem quer a democracia – não essa democracia das chacinas, mas sim uma verdadeira democracia popular – deve, em primeiro lugar, reconhecer que vivemos, hoje, com ou sem o bolsonarismo, uma verdadeira ditadura às massas populares, enquanto a democracia prevalece apenas nos palacetes. Enquanto tal situação prevalecer, toda a base para a extrema-direita e o golpismo estará posta. E, frente a isso, o oportunismo se cala e consente.