O dia 13 do mês de janeiro foi o dia internacional de solidariedade a Gaza e Palestina. Dia de protesto contra o genocídio atual em Gaza. Milhões em centenas de cidades ao redor do mundo saíram às ruas para solidarizar-se com Gaza e condenar os crimes de guerra que o estado sionista comete contra civis palestinos nos territórios ocupados.
Na cidade brasileira de São Paulo não foi diferente. Milhares saíram com bandeiras palestinas e cartazes que condenavam os crimes de Israel e exigiam um cessar-fogo imediato.
Entre muitos, eu estava sozinho, tentando esconder minha tristeza, luto e impotência. Estava carregando fotos de crianças palestinas assassinadas por máquinas de guerra sionistas. Estava ouvindo os gritos das mães e pais procurando o que restou dos pequenos corpos dos seus filhos. As vozes das crianças de Gaza ocupam minha alma. Não há lugar para outras vozes. Não há lugar para novas palavras.
De repente, vi um jovem usando kipá, chapéu que os religiosos judeus usam. Cumprimentei, de longe, sem palavras, e voltei para meu mundo silencioso. Por motivo desconhecido, senti necessidade de voltar e conversar com ele. Voltando, estava procurando as palavras que poderiam iniciar minha conversa. Não achei palavras mais lindas do que as seguintes: “Assalamu aleikum ana falastin”, ou seja “a paz esteja com você, eu sou palestino”. Ele respondeu em árabe eloquente: “waaleikum salaam” , a paz esteja com você também.
Durante a conversa, entendi que o nome dele era Yoav, e que ele morava em Tel Aviv e atualmente mora em São Paulo. Ele era membro do partido comunista antissionista. Suas palavras me levaram a 50 anos atrás, quando lia, de uma forma regular, o jornal do partido, al itihad (união).
Lendo esse jornal, conheci os poetas da resistência palestina Tawfiq Ziad e Mahmoud Darwish. Eles foram avôs da Palestina que os ocupantes tentaram calar.
Como a conversa sobre a Palestina sempre inclui lembranças sobre mártires, poetas e música, lembrei o nome, que nunca esqueço e a voz que sempre me acompanha. Por isso, perguntei a Yoav, sem ter certeza da resposta: “Tenho uma amiga palestina que mora na Galiléia, cantora. O nome dela é Amal(esperança) Murkus, você conhece?”
De repente, ele parou. Parecia que um choque elétrico o tinha atingido. Quando conseguiu falar novamente, começou a falar sobre Amal, sobre sua família e seu inesquecível pai. Era grande amiga dele também.
Fui atingido pelo mesmo choque que tinha atingido Yoav, mas não encontrei as palavras, mesmo procurando. Encontrei apenas as lágrimas. Então ela, Amal, a esperança, com a voz cheia de vida e resistência, que canta a beleza da história palestina, das dificuldades atuais e a certeza de que o futuro da Palestina será o futuro da liberdade.
Não acredito que foi apenas a coincidência que me levou a encontrar amigos de Amal em Berlin, Moscou, Amman e agora em São Paulo.
A esperança de Yoav e minha. Um palestino e um judeu, unidos por um sonho comum, que a Palestina vencerá e a ocupação, racismo e apartheid serão derrotados.
Abdel Latif Hasan é médico e palestino, nascido em Belém, na Cisjordânia. Escreve sobre a vida e a guerra na Palestina. Já escreveu para outros portais, como o Instituto da Cultura Árabe.
Esse texto expressa a opinião do autor.