A ida para China da comitiva latifundiária anti-povo de Lula

Comitiva reuniu 102 representantes do latifúndio. Foto: Ministério da Agricultura

A ida para China da comitiva latifundiária anti-povo de Lula

A comitiva latifundiária montada a pedido do governo Luiz Inácio/Alckmin, que esteve na China entre os dias 22 e 29 de março, levou um grupo de latifundiários notórios. A viagem, organizada pelo ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, contou com 102 nomes do “agronegócio” e seria acompanhada pelo presidente de turno Luiz Inácio, que acabou não viajando por causa de uma pneumonia. Luiz Inácio deve ir à China no dia 11/04. 

A relação de Fávaro inclui nomes dos setores de produção de carne bovina, suínos, aves, sementes, celulose, algodão e outros. Além de Joesley e Wesley Batista, da JBS, a indústria frigorífica enviou representantes de empresas como Minerva, Marfrig, BRF e Aurora. Do setor de celulose, foram diretores da Suzano e da Paper Excellence. A relação inclui também Kleverson Scheffer, representante da família Maggi.

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Comitiva anti-povo foi denunciada por camponeses em luta

Representada na viagem de negócios, a família Maggi tem cinco integrantes na lista das 15 pessoas mais ricas do “agronegócio” brasileiro. A informação é do último ranking dos endinheirados realizado pelo monopólio de imprensa Forbes. O ex-governador do Mato Grosso (MT) e afamado “rei da soja” Blairo Maggi, sua mãe Lúcia Borges Maggi e sua irmã Marli têm, cada um, uma fortuna avaliada em R$ 7,10 bilhões. Ainda figuram na lista Itamar Locks e família e Hugo de Carvalho Ribeiro e família, cunhados de Blairo. 

A família é acusada de crimes contra o povo por parte de camponeses desde a fundação da Sementes Maggi em 1977. O monopólio latifundiário, fundado por André Maggi, foi denunciado por casos de trabalho escravo em suas fazendas nos anos 80. Em uma delas, nomeada Gleba Jarinã, trabalhadores relataram ter sido chicoteados por um empreiteiro seu durante toda a década. 

Já a Suzano Papel e Celulose LTDA, que também se fez presente na viagem, é responsabilizada por camponeses e povos indígenas do Brasil pela expansão do eucalipto sobre suas terras. Nos últimos anos, indígenas de várias comunidades do extremo sul e sudeste da Bahia deram início ao processo de retomada de seus territórios e são alvos constantes de ataques, seja por parte de bandos de pistoleiros a soldo do latifúndio, seja pelas forças de repressão do velho Estado burocrático-latifundiários, tudo a serviço do cultivo do eucalipto. 

Episódio marcante dessa luta ocorreu em 27/02, quando cerca de 1.300 famílias camponesas ocuparam as terras que hoje estão destinadas ao cultivo do eucalipto pela Suzano na Bahia. A reivindicação das famílias era que o governo destinasse parte das terras à elas. Isto se deu porque a Suzano já havia firmado um acordo em 2015 que previa a indicação de propriedades rurais a serem adquiridas pelo Incra. A empresa avisou que só negociaria com as famílias fora das terras.

Segundo levantamento feito pelo estúdio de inteligência de dados Lagom Data, a Suzano está devendo R$ 5 milhões por uma infração registrada em Caravelas, no sul da Bahia, em setembro de 2022. A empresa fica atrás somente do monopólio JBS.

Maior processador de proteína animal no mundo, o monopólio latifundiário JBS, detentor de inúmeros frigoríficos por todo o Brasil, foi denunciado inúmeras vezes pela condição que obriga seus milhares de operários a trabalhar. Durante a pandemia do covid-19, a empresa foi acusada de forçar operários a trabalharem em situação de risco, mantendo a produção de diversos frigoríficos com funcionários com suspeita da doença, o que resultou em dezenas de mortes de trabalhadores ou familiares de funcionários.

Além disso, a empresa é acusada pelos camponeses de Rondônia por comprar gado da fazenda Santa Carmem, local onde foram assassinados os camponeses Amarildo, Amaral e Kevin, na Área Ademar Ferreira, da Liga dos Camponeses Pobres (LCP), no dia 13/08/2021. O gado, regularmente fornecido, era enviado para um frigorífico da JBS em Porto Velho (RO). 

A empresa também soma 37 multas ambientais ao Ibama, num total de R$ 26,7 milhões, segundo levantamento da Lagom Data. A maior parte desse valor corresponde a multas que a empresa recebeu quando o Ibama deflagrou a Operação Carne Fria em março de 2017. Naquela época, o monopólio latifundiário foi acusado de comprar gado de áreas desmatadas ilegalmente. A empresa também foi acusada de comprar mais de 21 mil cabeças de gado criadas em áreas griladas e desmatadas no Pará entre 2018 e 2021. As informações são da revista Piauí.

Com aparência de “moderna” e apostando alto na política “desenvolvimentista”, as empresas do “agronegócio” brasileiro que visitaram a China buscando ampliar seus mercados são parte do mesmo sistema econômico que mantém milhões de famílias camponesas na miséria permanente, atadas em relações semifeudais – cujas formas mais escancaradas são as relações de “trabalho escravo” – que estão generalizadas em toda sociedade. As investigações de crimes ambientais envolvendo tais empresas junto à denúncia de camponeses em luta que ocupam terras das mesmas empresas comprovam aquilo que o AND tem dito há anos: a prosperidade do latifúndio é a permanência da exploração mais desapiedada do povo brasileiro – garantidas governo após governo.

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