A Redação de AND realizou, no dia 22 de maio, uma entrevista com Taiana, moradora do Complexo do Chapadão, no Rio de Janeiro, em que ela denuncia que foi agredida pela Polícia Militar (PM) durante uma ação na comunidade. Ela e o seu marido, Mateus, foram espancados enquanto esperavam seu sobrinho voltar da escola em meio à ação da PM no Complexo, às 7h30 da manhã do dia 19/05.
Mais cedo na mesma semana em que Taiana e Mateus foram espancados no Complexo do Chapadão, uma idosa foi baleada, um jovem foi torturado por policiais e um morador foi assassinado pela PM. As denúncias são de moradores do Complexo do Chapadão, que relataram as violações de direitos pelos agentes militares do velho Estado ao AND no dia da própria operação.
As operações no Complexo do Chapadão ocorreram em um contexto de aumento da violência policial na região metropolitana do Rio de Janeiro, onde diariamente dezenas de operações ocorrem em favelas de várias regiões da cidade. Na mesma semana em que Taiana e Mateus foram agredidos durante a operação, uma mega-operação conjunta foi realizada pela PM e a Polícia Civil no Complexo da Penha, onde um idoso foi assassinado com um tiro de fuzil na cabeça e seu corpo achado dias depois, e um músico que mora na favela foi baleado.
Antes disso, operações foram realizadas na favela do Jacarezinho em pleno final de semana do dia das mães, em uma operação que se arrastou por cinco dias e assassinou um morador. E, depois, também no Complexo da Maré, a PM levou terror aos moradores em uma operação que durou mais de 12 horas com helicópteros e invasão de casas de moradores por PM’s.
Todas essas operações são parte da guerra contra o povo levado a cabo pelo governador assassino e terrorista Cláudio Castro, que, sob o pretexto de combate ao “crime organizado”, leva terrorismo de Estado contra os pobres.
Confira abaixo a entrevista:
A moradora Taiana dá detalhes de como foi o início da operação, sua apreensão por conta de seu sobrinho estar na rua e as primeiras agressões sofridas por ela e seu marido:
– Era 7h30 da manhã, a hora em que o meu sobrinho estava indo para a escola. Na hora em que ele saiu, começaram os tiros. A gente foi até o portão para ver se a gente via ele, mas não vimos, e ficamos no portão esperando, porque eles apareceram metendo bala, metendo tiro. Não tinha operação. Eles já chegaram metendo bala pra cima atirando pra cima, aí meu esposo falou “é morador! É morador!”.
Ela conta que, nesse momento, uma idosa foi atingida por um dos disparos, e os moradores começaram a gritar “Atingiu morador!”, o que apenas aumentou a represália dos PMs contra o povo.
– Meu esposo continuou no portão esperando meu sobrinho voltar, porque uma criança pode voltar para trás e não continuar indo para a escola, pode voltar para casa, com medo. Aí os policiais mandaram meu esposo sair, e eu disse que não íamos sair, e ele [o policial] com o fuzil apontado. Eu falei pro meu esposo “você não vai sair, porque eles vão dar dois tiros no teu peito, e vai ficar por isso mesmo, são 7h40 da manhã” – relata.
Taiana relata que os policiais estavam visivelmente drogados, e começaram a espancar seu marido e a enforcá-la, gritando que ela “calasse a boca”. A trabalhadora se manteve firme e não deixou que os policiais a agredissem ou ao seu marido. As sucessivas covardias só encerraram quando um vizinho foi ao local e também se impôs contra os policiais.
– Eles estão totalmente errados, entrar na comunidade metendo bala e ainda querer agredir o morador, eles estão totalmente errados. Aqui tem morador, criança, na rua, criança indo pra escola. Eles já vêm na covardia já. A rua está cheia de mães com crianças de dois anos indo pra creche. A rua fica cheia de moradores – afirma.
A trabalhadora ainda denuncia a forma que foi tratada pela PM, apenas pelo fato de ser moradora de favela:
– Naquele momento eu me senti um bandido, do jeito que eles me agrediram, eu me senti um bandido. Uma moradora discriminada, como se fosse “essa daí é bandido, é fechamento de bandido, porque está no portão, não está dentro de casa”. E ele não respeitou o meu lar, não respeitou o que eu estava falando com ele. A intenção dele era matar as pessoas, pelo jeito que ele estava tratando as pessoas.
– Eles não consideram as pessoas como humanas igual eles não, eles acham que todo mundo é igual bicho. “Estou com a minha farda preta e posso fazer o que eu quiser. Lá dentro [na favela] ninguém vai me encostar a mão”.
A moradora diz que os moradores do Complexo se organizaram para realizar um protesto, mas por conta de ser recorrente a violência policial, com agentes que torturam ou matam quem protesta contra os crimes do velho Estado nas favelas, há uma apreensão geral na favela. Ela relata que, quando sua irmã foi assassinada pela PM e um protesto foi feito pelos moradores na favela do Final Feliz. Nessa ocasião, denuncia Taiana, a PM foi até a casa dos moradores, os espancou e os ameaçou de morte.
Contudo, ela demarca que, enquanto os crimes da polícia ficaram impunes, os policiais voltarão e farão pior. Por esta razão, é necessário que os moradores denunciem as violências: “Não pode deixar impune!”, assevera.