Com informações da Oxfam Brasil
A população 1% mais rica do mundo, a nata da oligarquia financeira internacional, se apropriou de 82% de toda a riqueza gerada em 2017, enquanto os 50% mais pobres não ganharam nada. 42 indivíduos detinham a mesma riqueza que 3,7 bilhões de pessoas. Estes dados foram divulgados pela Oxfam no relatório “Recompensem o trabalho, não riqueza” lançado em janeiro deste ano, que demonstra o aumento da concentração da riqueza no mundo.
Aprofunda-se a concentração da riqueza no mundo
O ano de 2017 foi marcado pelo aprofundamento da concentração da riqueza, que se expressou, por exemplo, no aumento no número de bilionários no mundo, no qual 2.043 pessoas detinham mais de 1 bilhão de dólares – sendo que nove entre dez bilionários no mundo são homens. Este é o maior número de bilionários já registrado na história.
Esse grupo seleto de ricaços aumentou a sua riqueza em 762 bilhões de dólares em 2017. Por outro lado, mais da metade da população mundial, algo em torno de 3,7 bilhões de pessoas, vivia em 2017 com renda entre 2 e 10 dólares por dia.
No Brasil, o número de bilionários passou para 43 em 2017, enquanto em 2016 eram 31. Os cinco maiores bilionários de origem brasileira detinham um patrimônio de R$ 549 bilhões em 2017, um aumento de 13% em relação a 2016.
“No Brasil, uma pessoa que ganha um salário mínimo precisaria trabalhar 19 anos para ganhar o mesmo que uma pessoa do grupo do 0,1% mais rico ganha em um mês”, ressalta o documento.
Entre 2006 e 2015, a riqueza dos bilionários aumentou, em média, 13% ao ano, enquanto os trabalhadores tiveram um aumento salarial de apenas 2% por ano, em média.
O aumento na concentração da riqueza no mundo vem ocorrendo a décadas. Entre 1980 e 2016, o 1% mais rico se apropriou de 27% do crescimento da renda mundial, já os 50% mais pobres ficaram com apenas 13%.
As 500 pessoas mais ricas do mundo, segundo a Oxfam, nas duas próximas décadas, deixarão 2,4 trilhões de dólares para os seus herdeiros, uma soma maior do que muitos Produtos Internos Brutos (PIBs). O que desmente a tese burguesa de que o enriquecimento de um indivíduo está atrelado ao mérito, talento, esforço, iniciativa e a disposição de assumir riscos.
Superexploração da força de trabalho garante superlucros
A superexploração da força de trabalho ao redor do mundo tem garantido, ano a ano, o aumento na produção da riqueza, a geração de superlucros e a sua apropriação por uma diminuta parcela da população mundial.
“O trabalho insalubre e mal remunerado de muitos garante a riqueza extrema de poucos. As mulheres estão nos piores postos de trabalho”, denuncia a Oxfam no relatório.
Os baixos salários dos trabalhadores e trabalhadoras contrasta com os rendimentos dos acionistas e altos executivos das grandes empresas. Por exemplo, no USA, em um dia de trabalho, o diretor executivo de uma empresa ganha o mesmo que um trabalhador médio ganha em um ano.
“Infelizmente, muitos países ainda não adotaram um salário mínimo ou mecanismos de negociação coletiva e, na maioria dos casos, os salários mínimos são significativamente mais baixos do que seria necessário para sobreviver ou do que poderia ser considerado um salário digno [1]”, frisa a Oxfam.
Segundo a pesquisa “World Employment and Social Outlook – Trends 2017” realizada pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) em 133 países, tanto imperialistas como semicolônias, abrangendo o período de 1995 a 2014, constatou que em 91 destes países os salários não acompanharam o aumento da produtividade e o crescimento econômico.
Precarização, informalidade e pobreza
A precarização do trabalho tem se tornado uma tendência mundial, dominante nos países semicoloniais e cada vez mais presente nos países imperialistas.
Mais de 2,78 milhões de trabalhadores falecem anualmente em decorrência de acidentes de trabalho ou doenças ocupacionais, segundo as estimativas da OIT, o que corresponde a uma morte a cada onze segundos.
No mundo, estima-se que 43% dos trabalhadores jovens estejam desempregados ou trabalham, mas continuam em condição de pobreza. Mais de 500 milhões de jovens sobrevivem com menos de 2 dólares por dia. Nas semicolônias, estima-se que 260 milhões de jovens, em sua maioria mulheres, estejam desempregados e fora do ambiente escolar.
Mais de 40 milhões de pessoas encontravam-se em condição de “escravidão” moderna no mundo em 2016, sendo que 25 milhões em condições de trabalho forçado, conforme estimativas da OIT. Destes 40 milhões, estima-se que quatro milhões sejam crianças.
Mais de 150 milhões de crianças e adolescentes (5 a 17 anos de idade) estavam envolvidas em alguma forma de trabalho infantil.
Capital versus Trabalho
Reproduzimos abaixo seis trechos do relatório que são contundentes exemplos da precarização das relações trabalhistas, que vem se tornando uma tendência mundial, que têm gerado as péssimas condições de trabalho sofridas pelos homens e mulheres trabalhadoras ao redor do mundo.
Anju trabalha em Bangladesh costurando roupas para exportação. Frequentemente, ela trabalha 12 horas por dia, até tarde da noite. Muitas vezes ela pula algumas refeições porque não ganhou dinheiro suficiente. Ela ganha pouco mais de $ 900 dólares por ano (página 6).
“Quando fiquei grávida, eles me deixaram trabalhar no estoque. Havia muitas caixas cheias de sapatos e meu trabalho era carimbá-las. Os sapatos são muitos bons e caberiam perfeitamente no meu filho. Gostaria que ele tivesse sapatos como aqueles, mas ele não pode. Eu penso que ele gostaria de tê-los e fico triste por isso. Os sapatos são muito bonitos. Você sabe que um par de sapatos que nós fazemos vale mais que todo o mês de salário.” – Lan, trabalhadora de vestuário, Vietnã.
Em todo o mundo, nossa economia do 1% é construída nas costas de trabalhadores mal remunerados, frequentemente mulheres, que recebem baixos salários e são privados de direitos básicos. É construída nas costas de trabalhadoras como Fatima, em Bangladesh, que trabalha costurando roupas para exportação. Ela regularmente sofre abusos quando não consegue atingir as metas e fica doente porque não pode usar o banheiro. É construída à custa de trabalhadoras como Dolores, que trabalha em frigoríficos de frangos nos Estados Unidos e desenvolveu uma deficiência permanente que não lhe permite segurar seus filhos pela mão. É construída nas costas de imigrantes que trabalham como faxineiras em hotéis, como Myint na Tailândia, que é assediada sexualmente por hóspedes do sexo masculino e não tem alternativa senão aguentar calada para não perder seu emprego (página 6).
Em Mianmar, a Oxfam trabalha com jovens operárias do setor de vestuário que confeccionam roupas para marcas globais. Elas ganham US$ 4 [dólares] por dia, o dobro da linha de pobreza extrema. Para ganhar esse valor, trabalham 11 horas por dia, seis ou sete dias por semana. Em que pesem essas longas jornadas de trabalho, elas ainda enfrentam grandes dificuldades para satisfazer suas necessidades básicas em termos de alimentos e medicamentos e, em muitos casos, se endividam (página 11).
Empregadas de hotéis entrevistadas pela Oxfam na República Dominicana, no Canadá e na Tailândia relataram casos regulares de assédio e violência sexual por parte de hóspedes do sexo masculino. Relataram também problemas de saúde devido ao uso rotineiro de produtos químicos nas suas faxinas. Em Bangladesh, muitas operárias jovens do setor de vestuário sofrem de infecções urinárias recorrentes porque não têm permissão para ir ao banheiro no local de trabalho (páginas 12).
Nos Estados Unidos, a Oxfam está trabalhando com empregados do setor avícola em uma campanha para melhorar suas terríveis condições de trabalho. Eles não têm direito a pausas suficientes para ir ao banheiro, o que força muitos deles a usarem fraldas para poderem trabalhar. Dolores, uma ex-trabalhadora do setor no Arkansas, descreveu a sua situação da seguinte maneira: “Era como não ter nenhum valor… chegávamos às 5 da manhã e trabalhávamos até as 11 ou 12 sem ir ao banheiro… Eu sentia vergonha de dizer a eles que precisava trocar a minha fralda” (página 13).
Nota:
[1] Segundo a Oxfam, um “salário digno é aquele suficiente para permitir aos trabalhadores e suas famílias satisfazer suas necessidades em termos de alimentos nutritivos, água limpa, habitação, roupas, educação, saúde, energia, creche e transporte, além de permitir alguma poupança e renda discricionária. Diversas metodologias podem ser usadas para calcular o que seria um salário digno”.