No dia 16 de agosto, o Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos (Cebraspo) e a Associação Brasileira dos Advogados do Povo Gabriel Pimenta (Abrapo) emitiram notas denunciando a mais recente ação policial envolvendo militares da Força Nacional de Segurança Pública (FNSP), do Batalhão de Polícia do Choque (BPChoque) e do Batalhão de Operações Especiais (Bope), na qual três camponeses foram assassinados. O crime, já noticiado pelo AND, ocorreu na Área Ademar Ferreira, antiga fazenda Santa Carmem, no distrito de Nova Mutum Paraná, cerca de 100 quilômetros de Porto Velho, capital do estado de Rondônia.
Leia também: RO: Forças policiais de Bolsonaro e de Marcos Rocha assassinam covarde
As entidades esclareceram diversos fatos envolvendo os crimes cometidos, colocando em cheque as versões contadas pela reação.
Diversas forças policiais do velho Estado participaram da Chacina
A Abrapo e Cebraspo denunciam que a chamada “Operação Policial” foi planejada e executada pela Força Nacional de Segurança Pública (FNSP) de Bolsonaro e pela Coordenadoria de Planejamento Operacional da Polícia Militar de Rondônia (PM-RO), composta pelo Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), e do Batalhão de Polícia de Choque (BPChoque). As tropas da Polícia Militar do governador coronel Marcos Rocha, seu Secretário de Segurança Pública, coronel José Cysneiros Hélio Pachá, foram comandadas pelo coronel Alexandre Almeida. O Bope foi comandado pelo capitão PM Felipe Hemerson Pereira.
Segundo as entidades, inúmeras versões foram emitidas pelos reacionários. No dia 15/08, a PM-RO emitiu uma matéria afirmando que o ataque era parte de uma Operação Policial que incluía o Bope, falaram ainda em patrulhamento rural, ação onde supostamente abordaram camponeses. Outros sites da imprensa voltados para o noticiário policial falam de reintegração de posse. Há também a versão, pelos mesmos portais, de que os policiais foram atender uma ocorrência. De acordo com os relatos dos camponeses, 23 viaturas e cerca de 50 policiais foram utilizadas na ação.
Na denúncia, a Abrapo e o Cebraspo declararam que os policiais do Bope não estavam em patrulha com suas viaturas, entraram a pé pela mata, com roupas verdes camufladas, capuzes camuflados, agachados e rastejando com seus fuzis nas mãos.
Os crimes contra os camponeses
As entidades relatam: “No início do dia 13/08, por volta de 7 horas da manhã, um jovem foi abordado por policiais que estavam agachados e deitados no chão, em meio à mata. Foi espancado e torturado para que desse informações sobre o acampamento. Foi conduzido e levado para a delegacia de Nova Mutum Paraná, onde teria assinado um Termo Circunstanciado e liberado em Porto Velho”.
Outros cinco camponeses presos no dia 13 foram libertados no dia seguinte, de acordo com as entidades. O texto diz que todos réus primários e com bons antecedentes, responderão por esbulho possessório, por tentar conseguir um pedaço de terra para trabalhar. Um deles ainda foi acusado de estar armado com um revólver e teve de pagar fiança para ser liberado.
Em seguida, as entidades relatam também que por volta das 10 horas, policiais armados com fuzis alvejaram o senhor Amarildo Aparecido Rodrigues (49), com ao menos dois tiros nas costas e seu filho, o jovem Amaral José Stoco Rodrigues (17), com diversos disparos no peito, enquanto trabalhavam com suas foices em seu lote, realizando roçada. Os camponeses não tinham nenhum antecedente criminal.
O jovem Kevin Fernando Holanda de Souza (21), de acordo com a denúncia, passava de moto quando viu os policiais, se assustou e, ao tentar correr, foi alvejado com mais de 30 tiros de fuzil pelas costas, levando-o à óbito no mesmo instante.
Amarildo Aparecido Rodrigues, Amaral José Stoco Rodrigues e Kevin Fernando Holanda de Souza: Camponeses assassinados enquanto lutavam pela terras. Foto: Banco de dados AND
A Abrapo e o Cebraspo afirmam que “para causar mais terror, prenderam uma família inteira, incluindo duas crianças, uma de um ano e outra de oito (com deficiência física e mental)”. Outra denúncia é feita sobre a detenção de um idoso, que correu para o mato para não ser atingido pelos disparos, mas ao retornar para a estrada foi abordado e preso.
Além destas atrocidades, é relatado pelas duas entidades que um helicóptero do Núcleo de Operações Aéreas (NOA) da PM-RO, em voos rasantes, atirava contra os camponeses, somando-se suas munições às das tropas no solo.
PM e a Força Nacional atuam como pistoleiros a serviço dos latifundiários
As entidades denunciam outras atuações de policiais como pistoleiros em Rondônia. O exemplo dado foram os e policiais militares e o guaxeba presos pelo Ministério Público de Rondônia, em março de 2021, fazendo serviço de pistolagem na Fazenda Nossa Senhora Aparecida, em Chupinguaia, contra os camponeses do acampamento Manoel Ribeiro.
De acordo com as organizações, há semanas as famílias da área Ademar Ferreira vinham denunciando sucessivas investidas de policiais da FNSP e da PMRO, junto com pistoleiros da Fazenda Santa Carmem.
“Exigimos a apuração dos fatos! Não houve confronto, foi execução!”
A Abrapo e o Cebraspo afirmam no texto que o governo militar de Bolsonaro, e o governo de Marcos Rocha e suas polícias, têm servido, defendido, financiado e apoiado de todas as formas o agronegócio e os latifundiários de Rondônia, onde, muitos destes, “grilaram” terras públicas, entram e invadem terras indígenas e de reservas, como o próprio Galo Velho, tido como um dos maiores grileiros de terra do Brasil.
As organizações denunciam que todo tipo de ilegalidades e verdadeiras operações de guerra são promovidas contra os camponeses pobres. Conclamam então todas as entidades de defesa dos direitos do povo, os democratas e pessoas honestas que anseiam por justiça, “para que se levantem e exijam a verdade dos fatos, apuração e punição dos responsáveis pela chacina dos camponeses e de todos os crimes cometidos pelo governo de Rondônia contra os camponeses que lutam pela terra, bem como denunciar a cruzada persecutória em curso, que tem por objetivo criminalizar os movimentos populares que lutam pelo direito à terra”.