Mais de dois anos depois do Congresso da Colômbia dar aval para que o presidente de falsa esquerda Gustavo Petro tentasse os “Acordos de Paz” (método para desarmar as guerrilhas, dispersá-las e depois eliminar fisicamente os ex-guerrilheiros e dissidentes) com os vários grupos foquistas do país latinoamericano, as guerrilhas revolucionárias do país continuam a atuar.
Somente no ano de 2024 foram várias ações. O mais recente ocorreu na semana passada (3/12), quando um caminhão das Forças Armadas reacionárias da colômbia foram alvo de um ataque com um artefato explosivo improvisado perto das instalações do Cantão Militar de São Jorge, em Cúcuta, ao Norte de Santander. O caminhão sofreu danos significativos, enquanto os guerrilheiros saíram ilesos. O Exército reacionário não conseguiu provas sobre o executor, mas alegou que foi o Exército de Libertação Nacional (ELN).
Uma outra ação foi realizada no final de outubro. Nela, os guerrilheiros ativaram um dispositivo explosivo no momento em que quatro policiais atravessavam o setor Rancho Grande, no município de El Zulia, de moto. A explosão lançou os veículos ao chão, matou dois policiais e deixou outros dois feridos. Os mortos foram identificados como o intendente chefe da polícia Jaime Luis Alvarez Mantilla e o subintendente Carlos Alberto Ramírez Ramírez. Novamente, o ELN foi o principal suspeito.
Já no dia 21 de novembro, o Ministério da Defesa da Colômbia afirmou que os combatentes do ELN mataram cinco soldados reacionários no município de Anori, noroeste do país.
O auge desse ano ocorreu em setembro, quando guerrilheiros realizaram uma ação muito bem planejada com no departamento de Arauca. Os combatentes dirigiram um caminhão até a base militar de Puerto Jordan, lançaram os explosivos para dentro da instalação e saíram em fuga. Dois militares morreram e outros 25 ficaram feridos, dentre eles 4 oficiais e 7 suboficiais.
Gustavo Petro se pronunciou logo após o ataque. “(É) uma ação que encerra um processo de paz com sangue”, disse ele, sem comentar sobre os vários ataques que os militares reacionários fizeram contra os camponeses, nas guerrilhas ou não, durante os anos de 2022 e 2023.
2023 registrou aumento de sequestros
O ano de 2024 não foi exceção desde o cessar-fogo, e sim expressão da tendência já registrada desde 2022, em que muitos combatentes dos grupos guerrilheiros se recusam a seguir o caminho dos “Acordos de Paz” como defendido por alguns capituladores. Isso é ainda mais verdade no caso do ELN, que funciona de forma federada, e nem todas as frentes (Oriental, Ocidental e Urbana) concordam com o cessar-fogo.
Em 2023, os sequestros de figuras reacionárias aumentaram em 93% entre os meses de janeiro e junho. Em números reais, foram 173 casos de sequestros em comparação com o mesmo período de 2022. Dentre os sequestrados estão um sargento do Exército reacionário colombiano e seus dois filhos em Arauca, no dia 3 de julho, e 19 funcionários de uma empresa de construção no Norte de Santander – estes foram liberados mais tarde no mesmo dia.
Segundo o portal InSight Crime, uma thinktank reacionária, “o sequestro de funcionários do governo e das forças de segurança do Estado são demonstrações ousadas do poder do ELN”.
Além dos sequestros, outras operações guerrilheiras marcaram o ano de 2023. Em uma delas, em março, guerrilheiros do ELN atingiram 18 militares reacionários no município de El Carmen; 9 foram mortos. A operação ocorreu às 3 horas da manhã com o uso de bombas cilíndricas (tipo específico de artefato usado pelo ELN, conhecido como tatuco) e tiros de fuzil.
Quatro meses depois, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia – Estado Maior Central (Farc-EMC) mataram dois militares reacionários no distrito de Caquetá, sul do país.
Rejeição consciente ao cessar-fogo
A continuação das ações guerrilheiras ao cessar-fogo expressam a rejeição consciente de vários dos grupos envolvidos na luta anti-imperialista e antifeudal na Colômbia, potencializada pelo histórico sangrento que marca os “acordos de paz” no país.
Foram vários os grupos guerrilheiros que, depois de assinarem “acordos de paz”, viram seus membros serem aniquilados pelas tropas oficiais ou extraoficiais do Estado reacionário. Isso ocorreu até mesmo com o grupo que Gustavo Petro foi próximo, o M-19. As Farc também foram vítima da traição mais de uma vez: em 1984, alguns capituladores das Farc lideraram um processo de abandono da luta armada e migração ao recém-criado União Patriótica (UP); a UP sofreu sucessivos extermínios entre 1988, 1990, 1991, 1992 e 2003. Já no novo processo de capitulação, assinado em 2016, novos massacres ocorreram. Até 2022, 337 signitários dos “acordos de paz” foram assassinados.
Ao mesmo tempo que os massacres continuaram a acontecer, as “reformas” que o velho Estado colombiano prometeu nunca foram cumpridas. Em 2021, camponeses cocaleros denunciaram, em uma reportagem ao jornal monopolista New York Times, como os benefícios prometidos nunca chegaram.
Conscientes dessa base material dos “acordos de paz”, milhares de combatentes dos grupos guerrilheiros de hoje em dia se recusam a seguir por esse caminho, sinal de que a tendência na luta armada na Colômbia é o desenvolvimento, e não o refluxo.