Nos últimos dias, seguidas operações da polícia em conjunto com as Forças Armadas têm levado o terror aos mais de 50 mil moradores do Complexo do Chapadão, na zona norte do Rio de Janeiro. Desde o dia 17 de setembro, policiais do Grupamento de Ações Táticas (GAT) do 41º Batalhão de Polícia Militar (BPM), de Irajá, foram ao Chapadão em distintos horários e provocaram tiroteios intensos. As balas deixaram trabalhadores e crianças que saiam para a escola encurralados.
No dia 18, enquanto policiais circulavam pelas favelas do Chapadão e Pedreira, um tiro atingiu a janela de uma sala de aula do Centro Integrado de Educação Pública (Ciep) Raul Seixas, em Costa Barros. A unidade fica a poucos metros de outra escola pública, a Escola Municipal Jornalista Daniel Piza, onde a menina Maria Eduarda, de 13 anos, foi baleada e morta em março de 2017 durante operação do mesmo batalhão, o 41º BPM. Por sorte, ninguém foi atingido pelo disparo que acertou o Ciep e, nos dias seguintes, as aulas foram suspensas por precaução.
Jornalista assassinado
No dia anterior (17), o jornalista Daniel Lucas Delfino, 27 anos, passava pela Rua Francisco Portela, perto da favela Gogó da Ema, no Complexo do Chapadão, quando foi atingido por um tiro de fuzil na barriga. Na ocasião, também acontecia uma operação das tropas do velho Estado e disparos de fuzil podiam ser ouvidos por todo o bairro. Quando o atendimento médico chegou ao local, Daniel já estava morto.
— É uma fábrica de cadáveres o Rio de Janeiro. Uma fábrica. E hoje ele virou notícia. Eu amei muito o meu irmão e ele nos deixou dessa forma tão trágica, fruto de uma política tão equivocada — disse o irmão da vítima, André Felipe Gomes Delfim, no enterro do jovem.
Diante da guerra, os moradores fazem o que podem para seguir sua rotina e, frente a tamanha opressão, se revoltam.
— Eu tive que sair com as crianças e me esconder entre duas casas para me proteger dos tiros, pois a minha casa é muito exposta e fiquei com medo de ela ser atingida pelos disparos de fuzil. Eles entraram nas casas, arrombaram portas, agrediram pessoas. Eles chegam de manhã ou à noite tocando o terror. Desde a morte do menino [Marcos Vinícius da Silva] da Maré eles proibiram o uso de helicóptero nessas operações, mas não dá para saber o que é pior, pois eles intensificaram as operações por terra e os tiros que vinham de cima agora vêm de qualquer direção. Nós vamos fazer um ato, pois fazendo barulho a gente mostra para os moradores que não podemos ficar parados, não podemos ter medo — diz uma moradora do Morro do Chapadão à nossa reportagem.