Agrishow: evento latifundista é palco de disputas eleitoreiras

Acabou de se encerrar, nos últimos dias, na cidade de Ribeirão Preto/SP, a Agrishow, maior evento comercial de tecnologias voltadas para a agricultura do país e América Latina.
Foto: Miguel Schincariol/AFP

Agrishow: evento latifundista é palco de disputas eleitoreiras

Acabou de se encerrar, nos últimos dias, na cidade de Ribeirão Preto/SP, a Agrishow, maior evento comercial de tecnologias voltadas para a agricultura do país e América Latina.

Acabou de se encerrar, nos últimos dias, na cidade de Ribeirão Preto/SP, a Agrishow, maior evento comercial de tecnologias voltadas para a agricultura do país e América Latina. Essa foi a primeira vez, desde sua inauguração, em 1994, que a feira internacional não contou com a presença de um representante oficial do governo. Nesse ano, segundo levantamento da revista Forbes, o evento movimentou  R$ 13,290 bilhões, mas não foram essas vultosas somas em negócios e nem as tecnologias expostas que ganharam a atenção dos monopólios de imprensa, fazendo dos palcos da Agrishow palanques para acirradas disputas.

Comprovando a centralidade da luta pela terra, emergente por meio da nova onda de ocupações por todo o país nos últimos meses, foi em torno desse problema que se concentraram as disputas políticas durante a feira latifundista, na busca de respostas ao crescimento das tomadas por parte dos latifundiários. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), já em campanha eleitoral à presidência, se apresentou prontamente. Com seu habitual reacionarismo insosso, Tarcísio levantou a bandeira da luta contra a reforma agrária, as ocupações e as retomadas e pela criminalização da luta pela terra: “Vamos proteger a propriedade privada no estado de São Paulo e não vamos tolerar invasão. Os que invadirem terrenos no estado de São Paulo terão um só destino: a cadeia”, afirmou o governador.

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A instabilidade que divide o país e a tensão que perpassa todas as instituições e esferas sociais se manifestaram às vésperas do conclave latifundista, envolvendo disputas entre o ministro da Agricultura  e Abastecimento de Lula, Carlos Fávaro, e o boquirroto Bolsonaro. O ministro preferiu se ausentar do evento a enfrentar o clima de animosidade ao governo federal insuflado pelas hostes bolsonaristas e o descontentamento dos latifundiários com o governo pelas ocupações promovidas pelo MST em diferentes regiões do país. Pressionado pelas tomadas de terras e a cobrança da fatura das eleições por caciques dos “movimentos sociais” governistas em busca de cargos, controle de aparatos estatais e verbas públicas, Luiz Inácio, com uma mão, afaga esses falsos dirigentes adestrados na contrainsurgência, enquanto com a outra acena para os latifundiários avançarem impunes grilando terras, invadindo territórios indígenas e quilombolas, prendendo e assassinando camponeses que lutam pelo direito constitucional a terra para nela trabalhar e produzir. 

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Enquanto encenam divergências com os latifundiários, os oportunistas da falsa “esquerda” eleitoreira enviam sucessivas remessas bilionárias de verbas públicas para o “agronegócio” via BNDES (cujo presidente é Aloizio Mercadante). Se bem é verdade que existem entre os “empresários do agro” indivíduos profundamente avessos a Lula e ao petismo e adeptos ao bolsonarismo, a dimensão e composição da recente comitiva latifundista à China – que contou mesmo com a “ilustre” presença dos irmãos executivos da JBS Joesley e Wesley Batista – demonstram a verdadeira natureza da relação do setor com o governo. Aqui, o pragmatismo tão enraizado no petismo e personificado por Luiz Inácio expõe o reacionarismo dessa falsa “esquerda” eleitoreira e o porque não há nada de paradoxal na estreita relação entre o agronegócio e o governo petista. Por isso mesmo, Tarcísio de Freitas, sem se dar conta, joga água no moinho da máquina de enganação petista ao afirmar que “é menos grave o ex-presidente da República na Agrishow do que o líder do MST na China” referindo-se a presença de João Pedro Stédile na viagem oficial ao país asiático.

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Luiz Inácio, acendendo uma vela para deus e outra para o capeta, terá na luta pela terra um dos maiores e mais complexos obstáculos para manter sua governabilidade e, embora possa fazer pouco ou quase nada para atender os reclames dos pobres do campo por terra, seguirá com suas demagogias para desmobilizar ou desorientar o movimento camponês. O iminente levantamento camponês que ameaça insurgir, cada vez mais, se apresenta como a pauta política mais relevante para unificação das forças reacionárias. As disputas em torno da questão agrária, particularmente a luta entre as posições reformistas e revolucionárias na direção do movimento camponês, definirão os rumos da situação política no país, com consequências de grande repercussão para a América Latina e toda a situação política internacional. Bem-vinda seja a tempestade! 

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