No dia 30 de novembro, a Defesa Civil de Maceió emitiu um sério alerta de risco de colapso de uma significativa parte de diferentes bairros de Maceió. Uma decisão judicial tirada nesse dia ordenou a saída de 27 famílias que residem em área de risco decorrente da atividade de mineração operada pela grande mineradora Braskem. A cidade sofre com esse grave crime continuado pela mineradora desde 2018 e cerca de 60 mil pessoas já tiveram que abandonar suas casas em diferentes pontos da cidade. O clima é de revolta, e muitos moradores, antigos e atuais, picharam as casas abandonadas com palavras contra a Braskem e exigências de indenização.
De acordo com o Coordenador da Defesa Civil de Maceió, a gravidade da situação ocorre “porque a velocidade de subsidência continua alta, indicando afundamento do solo”. Os relatórios apontam para a tendência para o afundamento de bairros inteiros, que já vem sofrendo de abalos sísmicos, em decorrência das atividades da mineradora que opera dentro dos limites municipais. Nesse contexto, moradores vivem sob constante terror imposto pelas atividades da grande mineradora, e denunciam a falta de planejamento para prevenção de desastres e a ausência de informações.
Crime continuado
Das 27 famílias que receberam determinação judicial para abandonarem as suas casas, 14 permanecem. A prefeitura alega que há desde o ano passado recomendação para que os moradores da região deixassem suas casas, entretanto não foi oferecido um projeto de moradia que abarcasse os moradores sob risco. Além da ordem para a evacuação das casas, pacientes do Hospital Geral Sanatório, no bairro Pinheiro, tiveram que ser transferidos para outras unidades de saúde. O hospital fica próximo a área de mineração da Braskem.
Em declaração ao monopólio de imprensa, o líder comunitário Aguinaldo, de 63 anos, relatou a situação da região onde mora: “cerca de 3 mil moradores e dez famílias já saíram por conta própria”, disse, e afirmou que muitos outros desejam sair, mas a falta de programas de assistência por parte do governo forçam pessoas a continuarem vivendo sob o atual risco.
Em diversos pontos da cidade, moradores revoltados picharam palavras de ordem como forma de protesto contra a Braskem. As pichações também denunciam a falta de projetos e indenizações aos trabalhadores, expulsos da região onde viveram durante toda sua vida. “Xô Braskem Asssassina, Fora de Alagoas!”, “Fora Braskem, pague o povo!”, são algumas das consignas levantadas pelos trabalhadores, dentre outras denúncias colocadas nos muros.
O povo cobra
Apesar da falta de ação do velho Estado em interromper as ações da mineradora ou oferecer soluções para as massas, e da negligência dos magnatas serviçais do imperialismo frente ao desastre anunciado, os moradores de Maceió têm se levantado para cobrar os direitos violados. No dia 1° de dezembro, as massas da região se levantaram em protesto exigindo a imediata realocação dos moradores do bairro, afirmando que não deixarão suas casas enquanto não houver a compensação de suas perdas.
Os moradores ergueram barricadas e gritaram palavras de ordem. Em diversas faixas e pichações, lia-se: “Não à revitalização! Realocação Já!”. Eles também denunciaram que o bairro de Flexais está “isolado” por estar cercado por zonas de risco, sendo impossível sair ou entrar no bairro sem passar por áreas com iminência de afundamento.
Retrato da mineração no capitalismo burocrático: terrorismo contra o povo
O caso da cidade de Maceió, protagonizado pela criminosa mineradora Braskem, é mais um dos exemplos que ilustram o caráter antinacional e antipovo da mineração nos países semicoloniais de capitalismo burocrático. Além de garantirem seus lucros passando por cima do povo brasileiro, sobretudo de populações camponeses e indígenas, tais empresas vendem as riquezas do solo nacional como commodities, sem que isso seja revertido para o desenvolvimento do País. Como complemento do saqueio e açambarcamento grave das riquezas naturais e estratégicas do Brasil pelos imperialistas e seus agentes, a riqueza derivada da venda é revertida para o bolso de poucos acionistas estrangeiros ou grandes burgueses nativos. No caso da Braskem, a mineradora pertence ao holding Novonor, antiga Odebrecht.
O caso lembra de cara áreas impactadas pela mineradora Vale S.A, responsável pelos odiosos crimes de Mariana e Brumadinho (MG), havendo um padrão patente na prática terrorista das empresas mineradoras contra o povo: a farta disposição de estudos e alertas que anunciam o desastre e seus efeitos sobre o povo, acompanhado da negligência das empresas diante das pesquisas, além da inoperância do velho Estado em interromper as atividades da grande empresa ou oferecer soluções às massas. Uma vez que o crime ocorre, o modus operandi é a enrolação ao máximo por parte da empresa para arcar com as indenizações e demais compensações às famílias que tiveram as vidas destruídas.