AL: Povo protesta exigindo moradia enquanto candidatos tentam comprar votos

AL: Povo protesta exigindo moradia enquanto candidatos tentam comprar votos

Moradores da cidade de Maceió têm lutado desde o mês de julho exigindo acesso à moradia, após as fortes chuvas daquele mês terem desalojado milhares de famílias. As massas têm, desde então, realizado manifestações e bloqueios quase que semanalmente, denunciando a demagogia da prefeitura e do governo estadual, que, através de cadastros, prometeram auxílios, aluguéis sociais e construções de moradias para o povo, mas que têm atrasado os pagamentos das parcelas e não avançaram na construção das habitações populares.

Além disso, os moradores denunciam que candidatos estão utilizando os cadastros pela moradia para tentar comprar votos nas eleições de 2022, atrasando ainda mais o processo e tirando o lugar de famílias que necessitam das casas. Enquanto isso, os moradores que contam com os auxílios e os aluguéis sociais para ter um lugar para viver se encontram ameaçados de despejo pelos proprietários. Sem ter para onde ir, muitos continuam residindo nos bairros afetados pelas enchentes e têm sido acometidos por doenças como leptospirose.

Moradores declaram que se moradias não foram entregues, ocuparão canteiros de obra!

Moradores do bairro Vergel do Lago bloquearam a Avenida Senador Rui Palmeira em protesto contra a prefeitura de Maceió, na manhã do dia 23 de setembro. Os moradores atearam fogo a móveis, palhas e pedaços de madeira. As famílias de trabalhadores foram afetadas pelas enchentes e exigem a entrega imediata das habitações populares do residencial Vilas da Lagoa.

“Por enquanto, o protesto está pacífico, mas se nada for feito nós iremos invadir o prédio”, afirmou um morador que pediu para não ser identificado ao TNH1, do monopólio de imprensa Globo.

De acordo com os manifestantes, todos já realizaram o cadastro para garantir a moradia e desocuparam as antigas casas em que viviam nas comunidades do Mundaú, Muvuca, Peixe e Sururu do Capote, mas, ainda assim, os apartamentos não foram entregues. Além disso, de acordo com os líderes comunitários, o aluguel social que eles deveriam receber até a entrega dos apartamentos está atrasado há 3 meses.

Os moradores ainda denunciam que alguns nomes incluídos no cadastro são de pessoas que não habitam a área e, portanto, não poderiam ter acesso às unidades habitacionais. Eles afirmam também que há interesse eleitoral na inclusão desses nomes na lista e que, enquanto isso, pessoas que são dos bairros ainda não receberam qualquer resposta sobre a posse das unidades habitacionais.

Moradores sem acesso à moradia protestam na Avenida Senador Rui Palmeira, no Vergel do Lago. Foto: Erik Maia/g1

Três dias antes, em 20/09, manifestantes protestaram por cerca de duas horas em frente à Praça dos Martírios, em Maceió, para cobrar o pagamento do auxílio emergencial às vítimas das chuvas, no final da tarde. Eles atearam fogo em pneus e bloquearam o cruzamento da Rua do Sol com a Ladeira dos Martírios. Na semana anterior, o mesmo trecho também havia sido bloqueado para cobrar o pagamento do auxílio.

Somente no mês de agosto foram ao menos quatro bloqueios de rua durante protestos do povo de Maceió.

Manifestação e bloqueio em 23 de agosto por moradores do bairro do Vergel e da Levada, no Centro de Maceió. Foto: Reprodução

Cadastros para acesso à moradia estavam sendo utilizados para comprar votos

Em decisão publicada no dia 23/09, a Defensoria Pública da União (DPU) “recomendou” que a prefeitura de Maceió suspenda os cadastros do Programa Minha Casa Verde Amarela de moradores da orla lagunar da capital após denúncia de que cadastros estavam sendo feitos para garantir votos para determinado candidato nas eleições de 2022. 

Na decisão, a Defensoria afirma que recebeu, por meio de líderes comunitários da Lagoa do Mundaú, áudios de um aplicativo de mensagens em que um terceiro, “sob a alegação de atuar perante a Secretaria de Habitação, estaria incentivando o cadastramento de pessoas vulneráveis para fins de eventual recebimento de unidades residenciais, seja no Vilas do Mundaú ou no Benedito Bentes, desde que houvesse a votação em determinado candidato a mandato eletivo na eleição de 2022”.

Povo é despejado de conjuntos habitacionais construídos pela prefeitura e estruturas são demolidas após chuvas

Moradores de Rio Novo protestam contra prefeitura após despejos. Foto: Sandro Lima

Em 15/08, moradores do Residencial Vale do Amazonas, no Rio Novo, realizaram um protesto contra a prefeitura exigindo moradia após serem alvo de despejo pela Defesa Civil no meio do ano. Ao total, foram oito prédios desocupados. Eles haviam sido construídos pela prefeitura anos antes e com as chuvas do mês de julho, problemas estruturais começaram a agravar e comprometer a segurança dos moradores, que foram desalojados sem nem terem acesso ao aluguel social.

Um dos moradores, Vanderlei Silva, relata que a empresa BRK Ambiental deixou um serviço inacabado na região e, após as intensas chuvas, as rachaduras começaram a surgir. Ele conta que a evolução do problema foi rápida e motivou a desocupação emergencial de oito prédios, entretanto, eles não sabem qual a dimensão do comprometimento ou se o problema pode atingir outros prédios.

O residencial Vale do Amazonas tem 300 unidades habitacionais e foi construído em 2016 pela prefeitura de Maceió e pela Caixa Econômica Federal. Segundo os moradores, eles não tiveram disponibilizado aluguel social e também não há informações se eles serão ressarcidos ou terão direito a outro imóvel.

“Tem gente aqui que está desempregado, que não tem condições de arcar com aluguel. A gente recebeu há pouco tempo, há pouco mais de cinco anos. Não sei como isso acontece. Temos nossas prestações em dia, água em dia, luz em dia. Nosso sonho era ter uma moradia para o resto da vida e agora somos prejudicados. Construtora, prefeitura, BRK, Caixa ninguém diz nada e a gente quer uma solução porque até agora não temos nada, nem aluguel social”.

Segundo moradores de outras unidades, que permaneceram no residencial, as rachaduras têm se intensificado a cada dia.

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