Criança agita bandeira do Hezbollah em uma manifestação no subúrbio de Beirute, Líbano, em repúdio ao ataque ianque que matou o General iraniano Soleimani, janeiro de 2020. Foto: Maya Alleruzzo/Associated Press)
No dia 30 de abril, o imperialismo alemão listou o movimento Hezbollah, sediado no Líbano, como uma organização considerada “terrorista”, criminalizando sua atividade dentro do país. Durante a manhã, as forças da repressão realizaram uma operação em mesquitas, caçando as 1.050 pessoas que o governo afirma fazerem parte da organização atualmente na Alemanha.
Foram revistadas associações de mesquitas no estado ocidental da Renânia do Norte Vestfália, Bremen e Berlim, segundo informações do monopólio de imprensa Al Jazeera. Além disso, a polícia também revistou residências de pessoas que foram consideradas suspeitas por apoiar pública e financeiramente a organização, fazendo propaganda ou doações, segundo o Ministério do Interior alemão.
A medida determina também que os símbolos do Hezbollah sejam proibidos em reuniões, publicações nas redes sociais e na mídia. A resolução contou com o apoio destacado do Partido Social Democrata, aliado da União Democrática Cristã de Angela Merkel.
O Hezbollah já é considerado uma organização terrorista pelo imperialismo ianque, britânico e canadense, como por Israel, evidentemente, bem como pelo Conselho de Cooperação do Golfo e a Liga Árabe.
AGRADA A ISRAEL E USA
O ministro de Relações Exteriores de Israel, Israel Katz, declarou publicamente a aprovação do Estado sionista à criminalização do Hezbollah na Alemanha. Katz requisitou que todos os países europeus sigam pelo mesmo caminho e que criminalizem as alas social e política do movimento, além da militar, afirmando que são todas “organizações terroristas e devem ser tratadas como tal”.
O anúncio alemão vem em sequência ao do imperialismo ianque, que no início do mês de abril ofereceu uma recompensa de até 10 milhões de dólares em troca de informações sobre o comandante Sheikh Mohammad al-Kawtharani do Hezbollah, que atua no Iraque.
A justificativa do Ministério do Interior da Alemanha para a decisão é de que o Hezbollah visa a “eliminação violenta do Estado de Israel” e questiona seu direito de existir.
Este é o mesmo imperialismo alemão que, no entanto, faz vista grossa aos ataques israelenses que matam civis libaneses e carece de considerar como “terroristas” as agressões do Exército israelense contra campos de refugiados e aldeias no sul do Líbano.
Foi o caso, por exemplo, das agressões israelenses de agosto e setembro de 2019, em que um avião não tripulado violou o espaço aéreo libanês e atingiu um prédio do Hezbollah localizado em um bairro de periferia ao sul da capital Beirute.
O HEZBOLLAH E A PUGNA INTERIMPERIALISTA
O Hezbollah surgiu no início da década de 1980, originalmente como uma milícia de Resistência Nacional que combateu militarmente a invasão e ocupação israelense do sul do Líbano que teve início em 1982. O movimento tinha como uma das principais inspirações a Revolução Iraniana de 1979, que levou ao poder o regime muçulmano comprador-latifundiário dos aiatolás.
A invasão das tropas israelenses ajudou a consolidar diversos movimentos xiitas no país, entre eles o Hezbollah e também o Amal, que liderava a Frente de Resistência Nacional Libanesa.
As tropas israelenses deixaram parcialmente a região sul do país em 1985, mas o Hezbollah se consagrou pelo mundo árabe quando expulsou finalmente todas as forças da ocupação de Israel ainda remanescentes no ano 2000.
O Hezbollah é um dos principais partidos eleitorais do Líbano atualmente, onde possui uma relevante parcela das cadeiras do Parlamento reacionário. Sua base social são as classes dominantes, especialmente o latifúndio. Ele continua a ser um grupo militar e não cessou suas ações militares contra Israel, tendo travado, por exemplo, uma guerra com o vizinho sionista em 2006, chamada no mundo árabe de a sexta guerra israelo-árabe.
Seus principais aliados regionais consistem nos governos sírio e iraniano, recebendo treinamento e financiamento da chamada “Guarda Revolucionária” do Irã, como diversas milícias xiitas da região, cumprindo papel de lacaio do imperialismo russo em determinados momentos.
O Hezbollah representa um produto da influência do imperialismo russo na região do Oriente Médio Ampliado (OMA). Ao passo que a decisão alemã em criminalizá-lo representa, por sua vez, mais um episódio da sequência de movimentos que o imperialismo ianque e seus aliados têm tomado em conluio contra a ainda restante presença russa no OMA, como os ataques consecutivos ao Irã. Faz parte, naturalmente, da rivalidade entre as grandes potências imperialistas que é essência da fase imperialista do capitalismo.