Luiz Inácio pretende importar até 1 milhão de toneladas de arroz do Paraguai para tentar evitar o aumento dos preços, uma vez que o Rio Grande do Sul é o maior produtor do gênero no país, respondendo por 70% da produção nacional. Os cálculos mais otimistas indicam que 10% da safra será perdida (os mais duros chegam a falar em 17%). O anúncio foi feito pelo ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, que disse que a compra será feita pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
Os brasileiros consomem anualmente cerca de 10 milhões de toneladas de arroz. Antes das chuvas, a previsão nacional era de 7,4 mil toneladas produzidas no País. Para completar, o Brasil já importaria cerca de 1 milhão de toneladas do Paraguai e também de outros países. Com as chuvas, o plano do governo é comprar do Paraguai mais 1 milhão de toneladas do item, que é o principal alimento presente nas refeições da maior parte dos brasileiros.
O Rio Grande do Sul é também o segundo maior produtor de soja no país. Os levantamentos do “agronegócio” dão conta de que 30% da safra de soja ainda não foi colhida e o presidente da Federação da Agricultura do Estado do RS (Farsul) avalia que, no caso de continuar a chover, haverá uma deterioração da produção de soja, com efeitos catastróficos. Uma alta na soja impactaria diretamente o pre/ço do ovo, do frango, da carne e do leite, fazendo ir às alturas o preço da cesta básica. Num cenário desses, seria absolutamente irrelevante frente ao gigantesco estrago a medida anunciada por Luiz Inácio no último mês que prevê isenção de tributos uma “cesta básica real” – medida, aliás, que é por si parca, visto que não inclui carnes e sal.
Do ponto de vista do governo federal, há um forte argumento político a favor de que se evite a todo o custo o aumento de preços: segundo a pesquisa Genial Quaest divulgada no dia 7 de outubro, 73% dos brasileiros tem a percepção de que os alimentos aumentaram de preço. A mesma pesquisa revela também que, para 38% dos entrevistados, a economia piorou em 12 meses.
O cálculo do governo é simples. Mais de 1/3 da população vê que a economia piorou e 73% tem a percepção de que o preço dos alimentos subiu. Nada seria, então, mais importante do que evitar uma alta generalizada. Ainda que com a justificativa das chuvas que destruíram o estado responsável pela maior parte da produção, Luiz Inácio deveria avaliar seriamente abaixar o preço dos alimentos, seja por onde for.
Mas já ficam claros os motivos que vão levar a medida anunciada pelo ministério da Agricultura ao fracasso. E eles são principalmente econômicos.
Se for confirmada a importação de 1 milhão de toneladas do Paraguai, os preços não terão uma baixa, mas vão se manter. Para piorar: a compra do arroz, além do que já vêm regularmente, não é certa. Faltam garantias de que, primeiro, o país terá essa quantidade em estoque e que, segundo, as autoridades paraguaias queiram vender pelo mesmo preço. A boa memória, aqui, vem como um aviso: quem não se lembra que, durante a pandemia, itens básicos (como seringas) foram inflacionadas por imperialistas exploradores da desgraça alheia? Todo cuidado é pouco quando se trata de latifundiários especialistas em especular.
Por outro lado, já teve início a pressão por parte dos latifundiários para que o Estado arque com os custos das suas perdas econômicas – e, dado o caráter latifundista de Carlos Fávaro, tais interesses serão atendidos. Novamente, o exemplo da pandemia é pertinente. Governos nos três níveis atacaram direitos do povo com a justificativa da crise sanitária. Aqui, seria preciso apenas alterar as motivações, os argumentos são os mesmos.
Se o governo federal de Luiz Inácio estivesse interessado em diminuir o impacto e a percepção da alta nos preços dos alimentos – tema sensível para o conjunto dos trabalhadores brasileiros –, já teria lançado mão de medidas semelhantes às anunciadas mesmo antes da atual crise. E, no presente momento, é necessário fazer ainda mais: realizaria uma intervenção no agronegócio para que, frente a maior crise provocada por episódios climáticos da história do País, fossem implementadas medidas de guerra para que o latifúndio direcionasse total esforço em produzir alimentos para o povo brasileiro ao invés de ração para gado.
Porém o governo de Luiz Inácio, eleito na base de demagogia para o povo e garantias econômicas às classes dominantes, não fará nada disso. A não ser que o povo imponha uma situação tal que seja melhor agir deste modo à ter que lidar com a pressão das massas populares.
Além de cobrar por isso, é preciso também condenar os exploradores da desgraça que andam à solta no Rio Grande do Sul dobrando o preço de itens básicos. Não é difícil imaginar quem está por trás de tudo isso: os latifundiários.