Alto Comando da Forças Armadas teria sinalizado apoio a Mourão em substituição a Bolsonaro. Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo.
O Alto Comando das Forças Armadas (ACFA), em reuniões celebradas recentemente em Brasília, tem sinalizado apoio ao general Hamilton Mourão em substituição ao fascista Jair Bolsonaro. A informação, veiculada através principalmente do jornalista Afonso Benites no monopólio de imprensa El Pais, é de que os altos mandos da Aeronáutica, Exército e Marinha “sinalizaram ao vice-presidente que poderia contar com o apoio deles”. O contexto é o de grande crise política gerada pelo Covid-19 e a forma como Bolsonaro busca conduzi-la.
Segundo o jornalista, “os militares têm feito seguidas reuniões em Brasília, inclusive com aliados de Bolsonaro e membros civis de seu primeiro escalão. Nesta semana, ao menos dois encontros ocorreram. Neles foram debatidos cenários hipotéticos para o médio e longo prazo”.
A preocupação dos altos mandos militares, que têm conduzido um processo de golpe militar contrarrevolucionário através da ocupação de cargos no Executivo e no velho Estado em geral, é de que a má condução das políticas de enfrentamento da crise sanitária e econômica no contexto do Covid-19 gere uma explosão social.
Bolsonaro, que busca angariar capital político diante das massas populares (especialmente semiproletários, pequenos e médios proprietários que serão profundamente impactados pela crise econômica que se iniciou), espalha a ideia de que é necessário abrir a livre circulação de pessoas para reativar a economia. Com isso, busca isentar-se do inevitável descredito que acometerá o governo pelo debacle econômico que ocorrerá e, de quebra, culpar as demais instituições e monopólios de imprensa por tal fracasso, como se fosse resultado de uma conspiração para prejudica-lo.
O jornalista também traz à tona a preocupação do ACFA sobre uma radicalização de Bolsonaro. “Tem circulado em Brasília também a tese de que o presidente poderia dar uma cartada extrema e decretar um estado de sítio ou de defesa – ambos dependem de aprovação do Congresso Nacional, onde ele não tem maioria – e criam uma série de restrições de liberdade, de comunicação e a suspensão de garantias constitucionais. São atos radicais, mas que podem ser usados politicamente com base no discurso voltado para os seus, de que ele tenta ‘salvar o Brasil’, mas a velha política não o ajuda”. Segundo o El Pais, Mourão já conseguiu o apoio da Maçonaria, instituição burguesa reacionária, caso assuma.
Em recente entrevista ao jornalista reacionário José Luiz Datena, Bolsonaro, questionado se “seria capaz de dar um golpe e fechar o Brasil” ou “se jamais faria isso”, respondeu: “Olha Datena, quem quer dar um golpe jamais vai falar que vai dar, tá ok?”.
O golpe militar, coordenado pelo imperialismo ianque (Estados Unidos) e desatado em 2015 centralizadamente pelo ACFA através de pressões, coações e chantagens sobre as demais instituições (cujo principal mecanismo foi a Operação “Lava Jato”), conduziu, por força das circunstâncias, ao governo de coalizão entre a direita militar majoritária nos altos mandos e a extrema-direita, de Bolsonaro, com penetração nas tropas militares e auxiliares, e em parte das massas atrasadas.
Divergindo sobre qual sistema político de dominação impor (abertamente fascista e corporativo, de acordo com Bolsonaro, ou na forma demoliberal deformada, como propugna os generais), ambas as forças lutam por conduzir adiante o golpe que deve criar um novo sistema político, cada qual de acordo com seu projeto, ambos ultrarreacionários, que atacará os direitos das massas populares, restrição de direitos políticos e civis democráticos e maior militarização reacionária na sociedade.
O desfecho da situação, conforme têm analisado os Editoriais de AND, depende de qual o menor risco para a estabilidade do sistema de exploração e opressão. “O ACFA, também golpista, joga para submeter Bolsonaro politicamente, forçando-o a terminar o mandato em obediência às suas diretrizes de ‘legalidade, legitimidade, estabilidade’”, diz Editorial de AND 231, e prossegue:
“Caso ele não se submeta, um plano B provavelmente seria pressioná-lo a renunciar, deixar vir a público os seus podres e de seus filhos, tais como suas ligações com o sumido corrupto Fabrício, com o miliciano Adriano e com o assassinato covarde de Marielle, casos até agora trancados nas mãos dos generais para levá-lo se necessário ao processo de impeachment. E, em último caso, o ACFA pode produzir a pura deposição do presidente, fato que geraria comoções em vários setores e perturbaria gravemente a estabilidade, já bem delicada, da disciplina nas forças militares, cujas consequências seriam muito graves”, ressaltando, porém, que as Forças Armadas tendem a manter-se unidas com a submissão de uma força pela outra.
Outro elemento que o ACFA tem para sujeitar Bolsonaro – ademais de vinculação com os setores mais poderosos das classes dominantes locais, do imperialismo e domínio sobre o principal das forças militares – é a chantagem. “Bolsonaro, cada vez mais acuado, encontra-se algemado pelo manejo dos generais. A situação do filho, Flávio Bolsonaro (pego em flagrante delito e salvo de denúncia pelo acordo tácito entre extrema-direita e direita) obriga Bolsonaro a abaixar o tom”.
A destituição, renúncia ou impeachment de Bolsonaro, conduzindo o governo às mãos de Mourão seria, na prática, um grande passo à frente rumo à culminação do golpe militar contrarrevolucionário.
Ainda que tais reuniões sejam de fato preparação política dos generais para uma situação em que seja vantajoso partir para o “plano B” de pressionar à renúncia ou impeachment, provavelmente o principal objetivo do vazamento via imprensa, por parte dos generais, foi advertir Bolsonaro do seu isolamento para força-lo a retornar temporariamente às diretrizes do ACFA.