No dia 7 de fevereiro, ativistas ligados ao Comitê de Apoio ao Jornal A Nova Democracia de Manaus, juntamente com o Movimento de Luta dos Trabalhadores Independentes – MLTI, lançaram uma importante campanha com o objetivo de publicizar e buscar uma solução para o caso do desaparecimento do menino Luiz Omar.
O menino Luiz Omar desapareceu aos 15 anos de idade, no final de 2023, no bairro onde morava na cidade de Manaus. Longe de ser um caso de desaparecimento comum, o incidente muito provavelmente está envolto em todo o ambiente de violência que segue contra ativistas populares na capital amazonense.
Em busca de esclarecer esses fatos, o Comitê de Apoio ao AND de Manaus lança assim sua primeira reportagem em vídeo, trazendo os principais aspectos do caso, desde o desaparecimento do garoto até as inconsistências no caso, o silêncio das investigações policiais e as ameaças e tentativas de homicídio contra os dirigentes do MLTI – antes e depois do desaparecimento.
Campanha recebe solidariedade de outras entidades democráticas
Procurado pelo Correspondente Local do AND, um ativista do Movimento Estudantil Popular Revolucionário – MEPR, prestou todo o apoio à campanha e afirmou que não tem dúvidas de que o caso não se trata de um simples desaparecimento.
“Quem conhece a realidade de Manaus sabe como funcionam os grupos paramilitares na cidade, formados por policiais e ex-policiais, sabe como são tratados os ativistas populares e sabe, antes de tudo, os métodos de repressão desses grupos”, afirma ele.
“Recentemente, tivemos uma terrível perda de um estudante da Universidade Federal do Amazonas, Marco Aurélio, que foi morto de forma bárbara por policiais militares que já tinham um histórico de truculência no bairro. Se não houvesse testemunhas no local, era possível que o caso dele também tivesse sido tratado como “desaparecimento” pelas “autoridades”.”, relata ainda o estudante.
Já o Sindicato dos Professores e Pedagogos de Manaus – ASPROM Sindical, declarou, através de seu coordenador jurídico, Lambert Melo, solidariedade à campanha, afirmando que: “Nós somos solidários à companheira do movimento sem teto (…). Esperamos que essa atuação deles continue firme porque realmente a ação deles é muito importante, muito necessária para que haja uma reforma urbana no nosso estado, na nossa cidade, e que a moradia seja tratada de uma forma mais democrática e mais equitativa.”
Sobre o tratamento que os ativistas populares recebem na cidade de Manaus, o professor Lambert afirmou: “Nós também passamos por situações parecidas com essa que o Movimento Sem Teto passa, porque nós aqui do nosso sindicato estamos constantemente em ação, lutando pelos direitos dos professores e estamos fazendo constantemente esse enfrentamento, né? (…) Nós tivemos, por exemplo, nessa semana, a situação em que nós nos deparamos com a assembleia legislativa repleta de policiais. Nós fomos lá, na abertura dos trabalhos legislativos, porque nós pretendíamos conversar com o governador a respeito das nossas pautas que estão atrasadas e infelizmente nós fomos impedidos de chegar próximo do governador, porque havia lá todo um cordão de isolamento, centenas de policiais e dezenas de viaturas fazendo a proteção do governador e dos deputados, a galeria da assembleia legislativa fechada e impedida para a entrada do povo e isso se traduz como uma postura fascista e antidemocrática.”
Citando outros exemplos, disse ainda que: “Em outros momentos, nós também já fomos agredidos, quando tivemos greves e manifestações, nós já tivemos na frente da sede do governo do Estado, em determinado momento em que os policiais usaram spray de pimenta contra os manifestantes. Eu estava lá e fui um dos atingidos pelo spray de pimenta, e vários outros companheiros também, e infelizmente essa violência é utilizada justamente para proteger os interesses de um governo que não respeita os direitos dos trabalhadores.”
Por que as suspeitas recaem sobre a ação de paramilitares?
Como afirmado pelos dirigentes do MLTI, suas principais suspeitas no que diz respeito ao desaparecimento do menino Luiz Omar recaem sobre a atuação de grupos paramilitares. Segundo os que acompanham diariamente as notícias sobre a cidade, essa suspeita parece muito bem fundamentada.
Apenas nos últimos anos, têm-se visto recordes de flagrantes de grupos paramilitares compostos por policiais e ex-policiais, civis e militares, na capital amazonense. Esses grupos atuam com ações desde desvio e tráfico de drogas, madeira e ouro, assim como em sequestros, tortura e execuções, através dos conhecidos grupos de extermínio.
Para além dos flagrantes, investigações são constantes não apenas contra a base das polícias, mas também contra a alta cúpula da Secretaria de Segurança Pública do Amazonas, que já teve dois de seus secretários afastados por escândalos de envolvimento em extorsão de outros criminosos e atuação em grupos de extermínio.
Esses escândalos silenciados pelo monopólio midiático perpassam até mesmo autoridades do legislativo do velho Estado, como o recém-nomeado vereador e ex-policial, Sargento Salazar, que está sendo investigado por homicídio pelo Ministério Público e afirmou que convocaria para o seu gabinete outros ex policiais, expulsos da corporação por tortura.
Sob esse contexto, uma das informações mais evidentes que o MLTI faz questão de afirmar é o envolvimento direto de paramilitares com grandes grileiros da cidade de Manaus, que lucram milhões com o desalojamento de trabalhadores e a especulação imobiliária.
Em especial, esses criminosos grileiros, associados a grupos de extermínio, declaram guerra aos movimentos por moradia da cidade e seriam capazes de qualquer tipo de violência contra seus dirigentes para silenciar suas organizações populares.