AM: Camponeses são multados por protestar

AM: Camponeses são multados por protestar


Camponeses são perseguidos por protestar. Foto: Banco de Dados AND

Camponeses moradores das comunidades Canoas e Rio Pardo, em Presidente Figueiredo, a 119 km de Manaus, foram multados em valores de R$ 2 mil até 17 mil por protestar contra as condições intrafegáveis e problemas na infraestrutura dos ramais que levam à cidade no dia 11 de julho. Os camponeses bloquearam parte da rodovia BR-174 exigindo respostas da prefeitura do município, comandada pela prefeita reacionária Patrícia Lopes (MDB).

O camponês Marino Alves Silva, que foi multado em mais de R$ 17 mil por estar na manifestação, afirmou que mesmo com a estrada liberada foi pedida a prisão das lideranças do protesto, e que essas estavam sendo ameaçadas de morte. A recuperação dos ramais é cobrada há anos no município. No ano de 2020 o Governo Federal repassou, por meio de uma emenda do senador Eduardo Braga, da mesma sigla da prefeita, o valor de R$ 9,5 milhões para as melhorias. As obras ainda não foram executadas, gerando grande revolta na população. 

Na mesma cidade, em junho, um camponês foi até a porta da prefeitura para protestar por melhores condições nas estradas do município. Indignado, ele levou parte da sua produção de verduras perdidas por não conseguir trafegar nos ramais e fazer o escoamento e jogou os alimentos na entrada do prédio. O camponês denuncia em vídeo: “Quatro horas da manhã, eu tinha que estar em Manaus. Os carros estão aqui, meus carros são de 2019, destruídos. O cara não tem estrada para rodar.”. Segundo o camponês, o problema é antigo: “A única coisa que a prefeitura pode fazer e não faz é isso aqui. Isso aqui não é de hoje, é uma vida toda. São 20 anos desse jeito aqui.”.

Também em Presidente Figueiredo, na comunidade de Cristo Rei, uma obra de terraplanagem mal feita deixou as ruas tomadas de lama e ainda afetou o abastecimento de água nas casas. “O sentimento de desespero me consome. Já entraram com máquinas da prefeitura para realizar terraplanagens pelo menos duas vezes e o serviço ficou péssimo. Os canos de água do poço comunitário foram quebrados e muitos moradores foram prejudicados.” denunciou a camponesa Mery Janse Lima.

OS PEQUENOS PRODUTORES E A REVOLUÇÃO AGRÁRIA

Os pequenos produtores vivem sob uma economia constantemente arruinada e frequentemente encontram-se endividados até o pescoço. Devido as suas fragilidades econômicas e jurídicas, suas terras estão sendo hipotecadas e sua produção impedida em benefício da expansão do latifúndio. Por essas razões já se tornam na realidade pseudo-proprietários, que detém a posse da terra, mas não sua propriedade.

No último ano, cerca de 79% dos pequenos produtores relataram redução em até metade da renda mensal. As informações são da pesquisa “A Pandemia da Covid-19 e os Pequenos Produtores Rurais: Superar ou Sucumbir”, realizada por pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), feita em 2021. A pesquisa aponta ainda que um em cada seis pequenos produtores tiveram uma diminuição de até 50% na comercialização de seus produtos e 8% superam esta porcentagem. Como resultado disso, os pequenos proprietários, que são responsáveis pelo abastecimento de mais de 70% dos alimentos consumidos no país, sem qualquer assistência e de mãos atadas, junto ao interesse do latifúndio em exportar sua produção devido ao aumento do dólar, foram obrigados a aumentar o preço dos alimentos e, em 2022, mais da metade (58,7%) da população brasileira convive com a fome em algum grau. 

Ainda assim, o governo militar de Bolsonaro e generais tem a cara dura de dizer ser aliado dos pequenos produtores. No período de 2021/2022, através do Plano Safra, “dispôs” um total de R$ 251,2 bilhões para crédito rural, supostamente para os pequenos e médios produtores. Na realidade, o programa direcionou o total de R$ 177,9 bilhões, mais de 70% do recurso, para os latifundiários.

Em estados onde o conflito agrário é mais latente, como em Rondônia, com a sanha do latifúndio atingindo tudo e todos, a pequena produção também sofre. A mais recente pesquisa do Programa de Educação Tutorial (PET) do curso de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Rondônia (Unir) apontou que, em um ano, o leite subiu 39,75% em Porto Velho. Estando entre os dez estados que mais produzem leite do país, Rondônia é o que paga o menor valor ao pequeno proprietário.

Nessa região atua com proeminência a Liga dos Camponeses Pobres (LCP), movimento de massas camponesas que luta pela Revolução Agrária. A Revolução Agrária, como Programa Agrário de transformação radical do campo, também traz respostas para os pequenos proprietários: “Toda a pequena e média propriedade está submetida à espoliação do capital financeiro. O sistema burguês-latifundiário protege o grande capital e o latifúndio, massacrando sistematicamente à pequena e média propriedade e explorando e espoliando ao extremo o proletariado e as massas populares, dentro delas o campesinato pobre sem terra. Por isto, além da conquista da terra que vai destruindo o latifúndio, é fundamental a organização da pequena produção em formas associativas para torná-la minimamente viável economicamente. Organizar cooperativas, grupos coletivos ou qualquer modalidade de trabalho conjunto é fundamental para que o camponês não saia da terra conquistada e ela não retorne às mãos do latifúndio e sirva de ponto de apoio para sustentação e continuidade da luta.”.

Ao longo das últimas duas décadas, o jornal A Nova Democracia tem se sustentado nos leitores operários, camponeses, estudantes e na intelectualidade progressista. Assim tem mantido inalterada sua linha editorial radicalmente antagônica à imprensa reacionária e vendida aos interesses das classes dominantes e do imperialismo.
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