AM: Estudante indígena é vitimada em mais um caso suspeito de feminicídio

A jovem estudante indígena Sateré Mawué, Luna Lorena, foi encontrada morta no dia 27/12. O comunicado foi feito pela Associação de Mulheres Indígenas Sateré Mawé, que denunciou o caso como feminicídio.
AMISM comunicou a morte da jovem Luna Lorena. Foto: Reprodução

AM: Estudante indígena é vitimada em mais um caso suspeito de feminicídio

A jovem estudante indígena Sateré Mawué, Luna Lorena, foi encontrada morta no dia 27/12. O comunicado foi feito pela Associação de Mulheres Indígenas Sateré Mawé, que denunciou o caso como feminicídio.

No dia 27 de dezembro, a jovem estudante indígena Sateré Mawé, Luna Lorena, de 21 anos, foi encontrada morta nas imediações do Rio Negro, no Porto do São Raimundo, zona oeste de Manaus. A jovem era estudante de Letras – Língua Portuguesa na Universidade do Estado do Amazonas e sua prematura morte demonstra a grave situação vivida pelas mulheres, em especial, mulheres indígenas no Brasil.

O comunicado de sua morte foi feito pela Associação de Mulheres Indígenas Sateré Mawé (AMISM), entidade à qual Luna era associada. Segundo o comunicado, seu corpo foi encontrado com marcas de violência, o que indica mais um provável caso de feminicídio.

No post, internautas misturam sentimentos de tristeza pela perda e ódio ao crime cometido contra a jovem. Comentários rememorando a vida da jovem lotam as seções tanto quanto aqueles pedindo justiça por seu nome. Segundo as conhecidas da jovem, Luna era poeta e cantora e se destacava em seu curso de graduação.

Até o presente momento, nenhum suspeito foi preso e o caso está sob investigação.

A constante onda de violência contra mulheres indígenas

O caso de Luna não ocorre de maneira isolada. Exatamente uma semana antes de seu corpo ter sido encontrado, foi noticiado um caso de uma menina indígena Yanomami de apenas 11 anos que foi vítima de um brutal estupro coletivo na cidade de Boa Vista, Roraima.

Pietra Dolamita, pesquisadora e antropóloga ligada a Universidade Federal Fluminense (UFF), destaca que, no quadro geral da violência contra as mulheres oriundas das massas populares, as mulheres indígenas carregam o agravante de, historicamente, terem sido “violadas, ora pelo bandeirante, pelo colonizador, pelos jesuítas, pelo SPI [Serviço de Proteção ao Índio], pelos militares, pelos caçadores de indígenas, ora pela sociedade”, destaca.

Segundo o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), entre 2007 e 2017, cerca de 8 mil notificações de casos de violência contra as mulheres indígenas foram registradas no Brasil.

Desses dados, dividem-se motivações entre perseguições de mulheres ativistas indígenas em contexto de luta pela terra e mulheres indígenas que foram vítimas do crime de feminicídio. Esse retrato fiel demonstra o peso ainda maior que recai sobre as mulheres oriundas das camadas das massas populares na velha sociedade.

Leia também: AM: Caso de feminicídio escancara o caráter do velho Estado para com as mulheres

Saída para o problema

Os brutais crimes cometidos contra essas mulheres, entretanto, não permanecem na dormência. Apesar do marasmo investigativo e da cumplicidade do velho Estado brasileiro, surgem em todo o Brasil centenas de alternativas organizativas populares para combater essa chaga da sociedade.

No município de São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas, localizado há cerca de 1.700 km de distância de Manaus, mulheres indígenas de várias etnias realizaram um grande ato no Dia Internacional da Mulher Trabalhadora, 08 de março ainda em 2020, exigindo o fim da violência doméstica, sexual e pela igualdade de direitos para as mulheres indígenas. O ato garantiu o crescimento e fortalecimento das organizações democráticas que integram o Movimento Indígena na região.

Manifestação de Mulheres Indígenas São Gabriel da Cachoeira. Foto: Reprodução

Segundo Elba Ribeiro, ativista do Movimento Feminino Popular entrevistada pelo AND, a violência contra as mulheres tem uma causa comum: “A violência crescente é o reflexo da degradação da vida humana provocada pelo sistema imperialista que só tem feito aumentar a exploração, a miséria e a opressão sobre a maioria da população mundial. (…) O que é a prostituição infantil, o abandono de milhares de crianças nas ruas, a exploração do trabalho infantil, senão o resultado da crueldade desse sistema econômico desumano? Qual é a causa da violência dos homens sobre as mulheres, senão o sistema da propriedade privada, com sua ideologia de opressão de classe e opressão sexual, para garantir que as mulheres cumpram a função a elas reservada de reprodutora e escrava?”

E a saída para acabar com a exploração, segundo ela, está clara: “O povo tem de defender-se da violência do sistema com organização, porém com organização classista independente, desmascarando a manipulação de sua miséria pelos causadores dela. (…) Não basta estar organizadas, esta organização requer uma elevação da consciência de classe, requer a politização da mulher como uma questão chave na conquista de sua emancipação, ou seja, que ela participe massivamente das organizações geradas por toda a sua classe.”

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