Moradores de uma comunidade indígena conhecida como “Cemitério dos Índios”, localizada na zona norte de Manaus, realizaram no dia 30 de setembro uma manifestação após terem recebido a notícia que a Justiça Federal havia pedido o seu despejo do local onde vivem.
Segundo um dos caciques da comunidade, Josué Kokama, a medida que pedia o despejo foi tomada durante a tarde do dia 30/09 pela Justiça Federal, em uma reunião online, com um prazo de 30 dias. Os moradores da comunidade inconformados com a decisão decidiram se reunir em um ato para tentar impedir a medida e reivindicar o direito de permanecer nas terras, que segundo o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional do Amazonas (Iphan-AM), a área é de um sítio arqueológico.
“Como é que o nosso povo, que está unido aqui dentro, vai sair daqui?! Estão tirando nosso sonho daqui de dentro. Têm crianças, anciões aqui, têm cerca de 2.011 mil famílias que vivem aqui, lutando por um pedacinho de terra. Temos direito de moradia, saúde, escola. Queremos que a legalização da terra saia para cada um de nós”, disse o cacique em entrevista ao monopólio de imprensa G1.
Na região vivem cerca de 13 etnias, entre elas os Desanas, Kokama, Apurinã, Mura, Kambeba, Baré, Munduruku, Maiakapó e Saterê Mawé.
Indígenas se manifestam contra despejo. Foto: Patrick Marques
Alegando que recorrerão às instâncias judiciais cabíveis, o advogado Leôncio Carvalho afirmou ao monopólio de imprensa G1: “Aqui tem mais de 2 mil famílias que estão aqui há mais de três anos. Esse local, onde colocaram como sítio arqueológico, era um cemitério indígena. Um local devastado por mata, em que pessoas vinham para usar drogas. Lideranças indígenas, por estarem isoladas, vieram para cá por causas de saúde. Não estão aqui porque querem, mas porque precisam”.
A luta PELO TERRITÓRIO não vem de hoje
No dia 8 de janeiro de 2019, cerca de 200 famílias se reuniram em protesto em frente à sede do governo, na avenida Brasil, no bairro Compensa, zona oeste de Manaus, por volta das 9h da manhã. Eles protestavam contra o recebimento de uma notificação expedida pelo Ministério Público Federal do Amazonas (MPF/AM) que determinava o despejo do terreno. De acordo com os moradores o documento solicitava a saída das famílias que moravam no local a seis meses, até o dia 18 de janeiro.
Diversos crimes, inclusive assassinatos, foram cometidos contra lideranças indígenas ligadas à causa do Cemitério dos Índios. No dia 13 de junho, o cacique William Machado Alencar, conhecido como “Onça Preta”, da etnia Mura, foi executado com oito tiros dentro do Cemitério dos Índios. Em 6 de agosto, um dos líderes da etnia Apurinã, Carlos Alberto de Souza “Mackpak”, foi executado com mais de dez tiros no conjunto Cidadão 12, no bairro Nova Cidade, zona norte da cidade.
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