Foto: Comitê de Apoio ao Jornal A Nova Democracia – Manaus
Mulheres indígenas de diversas etnias do Amazonas realizaram um ato, no último dia 5 de setembro, no Centro de Manaus, contra o “Dia do fogo”, uma ação política dos latifundiários bolsonaristas para o avanço da militarização e do agronegócio no estado. A programação do ato contou com diversas atividades culturais e venda de artesanatos. A organização foi realizada pela Rede das Mulheres Indígenas do Estado do Amazonas – Makira-Êta (Rede Estrela, em Tupi e em Tikuna).
O ato, denominado “Mulheres indígenas em Defesa da Amazônia”, ocorreu na praça da Saudade – considerado um local importante, pois era um cemitério indígena – e foi realizado, coordenadamente, em várias outras cidades pelo país.
A indígena Marinete Costa, do povo Tukano, afirmou que, apesar das atividades culturais, o ato não é para realizar comemorações, mas sim para protestar contra o latifúndio e contra a negligência do velho Estado com os povos tradicionais. Além disso, é para relembrar a memória da indígena Bartolina Sisa, assassinada no século XVIII, no Peru, assim como as várias mulheres assassinadas.
— O 5 de setembro é uma data para lembrar a nossa irmã peruana que morreu e que deu nome ao dia. Ela lutou pela nossa libertação. Será um momento de protestar. As mulheres falarão sobre demarcação, floresta e ataques aos povos indígenas. É o ‘Dia da Amazônia’, mas também das mulheres indígenas. Queremos mostrar que, quando ocorrem problemas de desmatamento e de queimadas, ou garimpo, as mulheres são atingidas diretamente. A mulher que está na aldeia não tem como fazer roçado e terá dificuldade de ter o que comer — afirmou Marinete.
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Já Perpétua Kokama, integrante da comissão de educação da Coordenação dos Povos Indígenas de Manaus e Entorno (Copime), relatou que um ato desse tipo nunca havia sido realizado, portanto, o mesmo é muito importante não apenas para as mulheres indígenas, mas também para as demais etnias.
— Nós puxamos esse evento por que nunca teve um evento desse. O local nós escolhemos aqui na praça da Saudade porque é um cemitério indígena. Quem tem que puxar somos nós mesmos, as mulheres indígenas. Qual o nosso papel de mulher indígena? Reunir as mulheres nessa data é muito importante como forma de resistência contra esse governo. As mulheres indígenas não estão acabadas, estamos aqui fortes e firmes! — exclamou Perpétua.
A indígena Rosimeire Teles, da etnia Arapasso, uma das lideranças da Rede das Mulheres Indígenas do Estado do Amazonas – Makira-Êta afirmou que o ato teve o objetivo de reforçar a luta pela implementação dos direitos indígenas. O velho Estado está sendo cada vez mais negligente com os indígenas, afirmou.
— Fazer essa mobilização só vem reforçar essa nossa luta pelos direitos que estão escritos no papel, na constituição, mas falta muita coisa pra ser implementada pelos governos. A responsabilidade do governo é fazer acontecer as políticas públicas em várias áreas, pois temos muitas mulheres se perdendo, principalmente nas áreas de fronteiras, onde ocorrem estupros e até mesmo tráfico de órgãos, sem nenhuma providência dos governos. Por isso estamos hoje aqui em Manaus dizendo que as mulheres indígenas existem hoje, não é no passado, não é no folclore. O ato de hoje também fortalece a luta regional — protestou Rosimeire.