Na primeira semana deste julho, o Sindicato das Empresas de Navegação Fluvial no Estado do Amazonas (Sindarma) emitiu um novo alerta à população sobre o baixo nível dos principais rios e bacias fluviais no Amazonas.
O Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (Censipam) divulgou um prognóstico alarmante de nova estiagem prevista para ocorrer entre setembro e novembro, afetando municípios localizados nas bacias dos rios Madeira, Negro, Solimões e Tapajós.
Os ribeirinhos observaram um início de vazante acentuado dos rios, ocorrendo antes do previsto. Os habitantes de sete dos onze municípios mais afetados pela seca histórica do ano passado temem a chegada de uma nova estiagem, pois ainda não se recuperaram da primeira. Os cientistas estão sendo cautelosos, porém não descartam a possibilidade de uma nova seca histórica na Amazônia.
A bacia do rio Amazonas apresenta um quadro de chuvas abaixo do esperado em grande parte da região, com déficit especialmente nos afluentes Purus e Madeira, conforme registrado pelo 25º Boletim de Alerta Hidrológico. Os rios Aripuanã, Beni, Coari, Guaporé, Içá, Japurá, Javari, Ji-Paraná, Juruá, Ucayali e Solimões estão com níveis abaixo do normal.
Razões para uma nova seca
Em análise do hidrólogo Ayan Fleischmann, a Amazônia enfrenta outro desafio na nova estiagem deste ano, associado às mudanças climáticas:
“O Oceano Atlântico Tropical, que é bastante associado a secas na Amazônia, está ainda muito quente, em um nível nunca antes visto”, afirmou. “Uma anomalia muito positiva no Oceano Atlântico Tropical Norte pode já estar por trás de uma estiagem severa nos próximos meses, então isso é um fator de preocupação.”
Conforme a fala de Fleischmann, desta vez o Amazonas “estará muito mais preparado”.
Durante a última seca, um dos eventos mais marcantes ocorreu quando botos e tucuxis foram avistados flutuando sem vida no Lago Tefé. Os cientistas estão agora considerando várias hipóteses, incluindo a possibilidade de que os animais mais vulneráveis tenham perecido no ano anterior, sugerindo que uma repetição do evento não resultaria em uma mortalidade tão significativa. “A gente tem que trabalhar com vários cenários na hora de gerir esse possível desastre”, explicou.
Negligência histórica do governo
No ano passado, durante a seca histórica, a população amazonense denunciou amplamente a negligência tanto do governo estadual quanto do federal em relação à estiagem e aos impactos severos na qualidade de vida da região.
Durante esse período crítico, a atuação do governo brasileiro foi duramente criticada pelos moradores do Amazonas. Em nível estadual, prefeitos das áreas mais afetadas gastaram milhões em shows sertanejos, enquanto as necessidades básicas da população eram negligenciadas e o governador Wilson Lima (PSC) recusava aumentar o efetivo do corpo de bombeiros. Além disso, o governo federal também nada fez diante das condições precárias de vida da população, apesar de ter se reunido com o governador para discutir interesses relacionados ao lobby de mineração e desmatamento.
Segundo Paulo Roberto, marítimo ouvido pela Amazônia Real: “Entra governo e sai governo e ninguém olha pela gente. A gente encalha e a Capitania (dos Portos) não vai nem dar apoio. O apoio que eles dão é dando multa, prejudicando. A gente tem que pedir ajuda de outras embarcações”, denunciou.