AM: Onda de ataques denuncia execuções sumárias e organização de milícias na PM

AM: Onda de ataques denuncia execuções sumárias e organização de milícias na PM

Em Manaus, uma Delegacia de Polícia foi atacada com tiros por homens que chegaram ao local por meio de uma lancha. Foto: Reprodução

Desde o dia 6 de junho, uma onda de ataques atinge toda região metropolitana do maior estado do país, o Amazonas. Prédios públicos, agências bancárias, ônibus, viaturas, vias expressas e bases policiais são alvos de ataques com bombas caseiras e tiros de arma de fogo.

A onda de ataques se dá como reivindicação para que seja retirado o secretário de segurança, que, segundo denunciam os grupos varejistas, tem impulsionado a formação de milícias e execuções ilegais. O governador do estado, Wilson Lima (PSC) pediu ao Ministério da Justiça o envio da Força Nacional para a região.

Na capital, Manaus, foi onde ocorreu o maior número de ações, porém elas também ocorreram em cidades do interior do estado, como: Iranduba, Parintins, Careiro Castanho, Manacapuru, Carauari e Rio Preto da Eva.

Dezenas de ônibus foram incendiados durantes as noites de ataques. Foto: Bruno Kelly

Uma das agências bancárias destruídas durante as ações. Foto: Bruno Kelly

CHEFE DE GRUPO VAREJISTA EXECUTADO

Uma suposta carta que circula em redes sociais assinada pelo grupo Comando Vermelho dá outras versões sobre os fatos que geraram a onda de violência nos últimos dias. O grupo é apontado pelo governo como o mandante dos ataques.

Trechos da carta dizem que Dadinho não morreu em uma troca de tiros, e sim que foi sumariamente executado quando estava desarmado, sendo essa a motivação para os ataques, em reação. O motivo do assassinato seria uma ameça de quebra de acordo entre Dadinho e o ex-PM e atual secretário de Segurança Pública do Amazonas, Lourisma Bonates. 

Segundo a carta, há 40 dias Dadinho teria sido preso e levado até a Secretaria para conversar com Bonates; na ocasião o traficante teria pago R$ 600 mil e 1.400 gramas de ouro em jóias, para ser liberado. Um dia depois, Dadinho teria ameaçado denunciar policiais da Rondas Ostensivas Cândido Mariano (Rocam) e o secretário Bonates para a corregedoria da PM e para o Ministério Público Estadual.

A suposta carta também afirma que o secretário criou uma espécie de organização paramilitar dentro da Polícia Militar do estado do Amazonas, que assassina sumariamente varejistas de drogas, roubando as drogas destes e vendendo posteriormente, dividindo o dinheiro entre os militares e comandantes. Tal relação, denunciada pela carta, explicita as entranhas do tráfico de drogas, que opera desde as estruturas do Estado.

Rota do tráfico

O estado do Amazonas é uma grande rota de tráfico de drogas, armas, contrabando de madeira e muitas outras atividades ilícitas. Os produtos entram no Brasil por meio das extensas fronteiras, passando pelas áreas de mata. Tudo isto, com a participação ativa de policiais, políticos, latifundiários e empresários locais, em suma os que mais ganham com esses negócios extremamente lucrativos.

Com isso, controlar essa rota se torna uma peça chave no tabuleiro de disputa entre os grupos varejistas, inclusive as que estão dentro da administração do velho Estado. Conflitos como estes que estão ocorrendo em Manaus e em outras cidades do Amazonas demonstram que o velho Estado e seus agentes mantenedores estão atolados até o pescoço na lama de crimes e ilegalidades que os mesmos dizem combater.

Corrupção

Em meio a toda essa crise, o Amazonas possui um governador que será julgado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) e com depoimento agendado na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid no Senado Federal. 

Wilson Lima é investigado por desvio de recursos públicos na compra superfaturada de ventiladores pulmonares em uma loja de vinhos e processos licitatórios suspeitos. Também é investigada a instalação de uma organização criminosa na cúpula do governo, esquema de triangulação de empresas, entre dezenas de outros casos de corrupção. Wilson Lima é um dos governadores mais alinhados com o presidente fascista Jair Bolsonaro. 

Em janeiro, o Amazonas foi palco de uma das maiores crises sanitárias do país, com dezenas de pessoas morrendo por falta de oxigênio e leitos nos hospitais do estado. O cenário de terror ainda teve caminhões refrigerados instalados fora dos hospitais para preservar os corpos dos mortos e valas comuns cavadas em cemitérios públicos

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