Com informações da Comissão Pastoral da Terra (CPT)
Camponeses realizaram uma série de manifestações em fevereiro para protestar contra o despejo de mais de 400 famílias nos municípios de Iranduba, Manacapuru e Novo Airão, no estado do Amazonas.
No dia 21 de fevereiro, os posseiros denunciaram os despejos criminosos e violentos ocorridos entre os dias 9 e 16 de janeiro deste ano em uma manifestação realizada no município de Manacapuru.
Dois dias antes, os camponeses já haviam protestado e denunciado o despejo criminoso sofrido em frente ao Palácio do Governo do Estado de Amazonas e também na sede do Tribunal de Justiça do Amazonas (TJ-AM), situados em Manaus, capital do estado.
Ainda no dia 19 de fevereiro e em Manaus, cerca de 600 camponeses participaram durante a manhã de uma Audiência Pública que debateu os conflitos agrários no estado do Amazonas. Os posseiros de Iranduba, Manacapuru e Novo Airão denunciaram o pacotaço de mandados de reintegração de posse que foram expedidos para a região, chegando a afirmar que mais de 800 famílias ainda podem ser despejadas nos próximos meses.
Em Manacapuru, também no dia 19, camponeses bloquearam durante a parte da manhã a avenida Boulevard Pedro Rates em protesto contra o despejo.
No dia 8 de fevereiro, na capital do estado, os camponeses participaram de reunião no auditório da Defensoria Pública Especializada de Atendimento de Interesses Coletivos (DPEAIC), no qual denunciaram o despejo de mais de 1.500 pessoas.
A pressão exercida pelas massas camponesas levou ao gerenciamento estadual a realizar o pedido de suspensão das reintegrações de posse. Após as consecutivas denúncias dos posseiros de que as terras ocupadas eram públicas, a Secretaria de Política Fundiária (SPF) realizou um levantamento da situação fundiária na região em disputa, descobrindo que a área ocupada pertence ao estado do Amazonas, sendo registrada como Gleba Ubim.
Reintegrações de posses criminosas e violentas
Cerca de 405 famílias de posseiros foram despejadas de áreas ocupadas nos municípios de Iranduba, Manacapuru e Novo Airão, no estado do Amazonas, entre os dias 9 e 16 de janeiro.
Os camponeses foram removidos de forma violenta e criminosa pela Polícia Militar do gerente estadual Amazonino Armando Mendes/PDT, com o apoio da Polícia Civil.
Um camponês foi detido por um dia, sendo deixado de um camburão policial durante horas sob o sol forte. Um jovem foi obrigado a ficar dentro da casa do seu cachorro. Ameaças de agressão contra os posseiros foram proferidas. Centenas de casas construídas com muito esforço e sacrifício pelas famílias foram destruídas, deixando-os desalojados. As plantações de açaí, abacaxi, banana e pitaya e criações de animais também foram perdidas, chegando uma camponesa a presenciar um policial matando suas galinhas.
“De um dia para outro perdemos uma vida inteira de trabalho”, desabafou um camponês em fala para a CPT.
“Os agricultores, mesmo diante de dificuldades financeiras, das estradas precárias, das condições climáticas, buscam o pão de cada dia com o suor de seu rosto. Mas hoje não têm condições de recomeçar as suas vidas, após a destruição de seus sonhos e projetos. Constatamos que há diversas pessoas que residem há mais de 15 anos nestas comunidades, e que dependem economicamente da sua produção para subsistência e renda familiar”, afirmou a integrante da CPT no Amazonas, Clara Motta.
As reintegrações de posse foram emitidas pelo desembargador do Tribunal de Justiça do Amazonas (TJ-AM), Ari Moutinho, em benefício da empresa Agroindústria e Agropecuária Exatas. Os posseiros não foram comunicados previamente do cumprimento dos mandados de reintegração de posse.
Segundo a CPT, a maior parte das áreas então ocupadas há anos pelos posseiros são devolutas, do estados do Amazonas ou integram a Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Baixo Rio Negro. Ainda segundo esta entidade, com a construção da Ponte de Manaus sobre o rio Negro, as terras da região foram valorizadas, o que teria fomentado a atuação de grileiros e de latifundiários.