Foi anunciado, no dia 24/09, a criação de um “Conselho de Indústria da Defesa da Amazônia”. A parceria foi articulada pelo Alto Comando das Forças Armadas em conjunto com a Federação das Indústrias do Estado do Amazonas (FIEAM) e o Centro das Indústrias do Estado do Amazonas (CIEAM). A iniciativa, supostamente nacionalista, tentou esconder, nas principais manchetes, as suas ligações com a extrema direita golpista e o imperialismo.
Segundo o site oficial do Exército Brasileiro: “A iniciativa é um movimento estratégico para fortalecer e impulsionar a Base Industrial de Defesa na região. O objetivo é fomentar as empresas do Polo Industrial de Manaus para o desenvolvimento de tecnologias e equipamentos militares que contribuirão para a manutenção da soberania brasileira na região amazônica.” O site afirma ainda que a parceria será focada nas áreas de segurança cibernética, sistemas autônomos e inteligentes, inteligência artificial e tecnologias sustentáveis.
A oficialização da nova entidade ocorreu com a presença do Chefe do Estado-Maior do Exército, General Richard, do Comandante Militar da Amazônia, General Costa Neves, do Presidente da FIEAM, Antônio Silva, e do Presidente da CIEAM, Luiz Augusto Barreto, dentre outras autoridades.
Desses, ficou acertado que o CONDEFESA será presidido pelo presidente da FIEAM, com vice-presidência do titular do Centro da Indústria do Estado do Amazonas, e terá como diretor-executivo o General Omar Zendim.
O que os principais portais do monopólio de imprensa e o próprio site do Exército escondem, é o histórico recente das figuras que se tornaram dirigentes desse conselho.
A começar pelo seu diretor-executivo, o General Omar Zendim, formado no setor de Forças Especiais. Zendim se tornou figura pública ainda em fevereiro de 2024, quando foi exposto pela imprensa enquanto braço direito do também general Estevan Theophilo, o mesmo que foi apontado pela PF enquanto o oficial que teria concordado em dar o golpe, caso Bolsonaro assinasse o decreto do Estado de Sítio.
O fato do militar não ser alvo das investigações, apesar de ser considerado o “número 2” nessa cadeia de comando, demonstra a ineficácia no que diz respeito à punição mesmo dos golpistas mais escancarados dos altos escalões das Forças Armadas.1
Já o presidente da FIEAM, entidade que organiza a grande burguesia ligada ao setor industrial de Manaus, é Antônio Silva. Esse magnata, que passará a presidir o Conselho, faz parte do Conselho Administrativo do Grupo Simões, o maior monopólio empresarial da região norte do país.
O conglomerado está ligado diretamente ao projeto de mineração de potássio em Autazes, empreitada dirigida pelo imperialismo canadense e britânico que busca expulsar os indígenas de suas terras para subtrair o minério na região. Atualmente, o Grupo Simões detém cerca de 3% das ações do projeto, em contraste às mais de 70% detidos pelos imperialistas.
Silva chegou mesmo a discursar sobre a “importância” do projeto, afirmando cinicamente que “a implantação de atividade como essa gera indicadores sociais, qualidade de vida para os indígenas, oportunidade de trabalho, de emprego, de renda, avanço no saneamento, no abastecimento de água, asfaltamento de ramais, educação e saúde”.
O que convenientemente não é motivo de discursos, são as toneladas de dinheiro que virão com a exploração do fertilizante, assim como as constantes denúncias de violações de direitos indígenas e o histórico terrível de “grandes projetos” como esse na região amazônica, que geram altos custos de vida humana e ambiental.
Não é à toa que essas figuras estão agindo em conjunto: a grande burguesia, junto ao latifúndio, busca expandir seus negócios (grandes empresas, mineradoras ou a fronteira agrícola) para a Amazônia, buscando expandir os lucros às custas das riquezas naturais nacionais e da terra de camponeses e povos indígenas.
O Exército reacionário brasileiro, por sua vez, também tem interesse nessa expansão. É o que admite, por exemplo, o “Projeto de Nação” elaborado pelo Instituto Villas-Bôas e lançado em 2022. O projeto busca, dentre várias medidas intervencionistas para o País