Em toda Amazônia, empresários promovem demissões na pandemia de Covid-19; em resposta, rodoviários realizam novas mobilizações

Em toda Amazônia, empresários promovem demissões na pandemia de Covid-19; em resposta, rodoviários realizam novas mobilizações

Em outras ocasiões, rodoviários já haviam se mobilizado por seus direitos. Essa é uma luta travada em diferentes estados e regiões do país. Na image, fechamento de vias feitas pelos rodoviários em luta. Foto: Reprodução

Na manhã do dia 26 de abril, os trabalhadores rodoviários demitidos do Grupo Eucatur realizaram mais um ato exigindo o pagamento dos seus direitos trabalhistas. A nova mobilização ocorreu na sede da empresa em Manaus e cumpriu o papel de exigir o pagamento da multa rescisória (indenização) e Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS).

Em Manaus, os rodoviários da Eucatur são demitidos e não recebem direitos trabalhistas descontados há anos. Razão pela qual a organização desses trabalhadores é recorrente na região. De acordo com os trabalhadores este é o terceiro ato realizado desde suas demissões.

Cerca de 50 trabalhadores participaram do ato na sede localizada no bairro da Cidade Nova, Zona Norte de Manaus. Durante o ato não houve interdição da entrada da garagem. Ainda assim, a Polícia Militar foi chamada pelos empresários para reforçar a segurança do local. No objetivo de intimidar a organização dos trabalhadores, a empresa também aumentou a quantidade de seguranças.

Mais de 150 demissões em apenas 4 meses

Os trabalhadores denunciam que o aumento das demissões iniciou em dezembro de 2020 e até agora já foram demitidos cerca de 150 trabalhadores, principalmente motoristas e cobradores. A empresa alega que as demissões são por conta da pandemia de Covid-19. 

O motorista Vilson Feitosa, em entrevista ao monopólio “A crítica”, denuncia o descaso da Eucatur em resolver a situação. “Nós estamos aqui pela terceira vez fazendo essa mesma reivindicação, hoje pela manhã nós ligamos lá pra cima (gerência) e deu uma posição que tinha passado as guias pro banco. Então me mostre! Passe uma foto das guias que foram enviadas para o banco e nós vamos embora daqui pra esperar cair esse dinheiro na nossa conta, mas ele não mandou. Então a gente entende que é mais uma mentira. Se você quer realmente resolver a situação, você comprova. É só o descaso que eles (empresários da Eucatur) têm com a gente. Nós só estamos aqui cobrando nosso direito de receber por aquilo que foi trabalhado. É o suor nosso que não pode ficar pro dono. Trabalhei aqui por 9 anos. Aqui estão pessoas que já trabalharam por muito tempo e esse problema não é de hoje, esse grupo de empresários faz o recolhimento, mas não repassa pro governo. Houve promessas que nenhum funcionário seria demitido na pandemia, mas muitos foram demitidos”. 

Enquanto Luciane Magalhães, cobradora, denuncia a injustiça de cobrar seus direitos apesar dos riscos que vivenciou diariamente. “A gente tem que se virar, fazer bico, fazer assim porque se depender daqui não tá se resolvendo” denunciou a cobradora. E relatando o motivo pelo qual foi até a manifestação, afirmou: “Olha o que tem depositado aqui no meu FGTS, R$ 134. Eu trabalhei treze anos nessa empresa pra chegar no fim eu vim aqui na frente fazer manifestação para poder receber. É humilhante isso. Fui assaltada várias vezes nessa empresa. Passei por problemas psicológicos e achei que no fim ia receber meus direitos”.

Já Silnara Duarte, cobradora, denuncia que além do descaso os trabalhadores são enganados diariamente pela empresa que informa pagamentos que não são realizados. “Vamos permanecer porque a gente quer o que é nosso. A gente trabalhou pra isso, eu saí muitas noites 2:30 da manhã de casa e chegava 17h da tarde em casa, arriscando minha vida, não sabia se ia voltar pra casa” afirmou a funcionária. Entre suas tentativas, ela relata que as mentiras e enganações são recorrentes métodos usados pela empresa: “Eu liguei pra caixa e informaram que o último depósito foi em janeiro e até agora nada. Toda vez que a gente liga só é mentira em cima de mentiras. A gente quer só nosso direito!”

Empresa é devedora do INSS

Transportando cerca de 300 mil passageiros por ano em todo o país, a Eucatur também é uma das maiores devedoras do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). A Eucatur, que tem em seu quadro de diretores um empresário que também é senador pelo estado de Rondônia, se encontra hoje entre as maiores empresas de transportes do Brasil, atuando em 13 estados e na Venezuela. Em Manaus, é atualmente a maior empresa de transporte coletivo.

Segundo dados da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN) em listagem publicada em 2017, com os 500 maiores devedores do INSS o Grupo Eucatur aparecia na 18º posição à frente de bancos como o Bradesco e diversos frigoríficos do agronegócio.

Crise do transporte público se agrava na Amazônia

A crise do transporte público na Amazônia vem se agravando antes mesmo da pandemia de Covid-19, conforme vem noticiando o AND. Mesmo antes da pandemia, em 2019, foram realizados atos em Marabá (PA), Belém (PA), Manaus (AM) e Rio Branco (AC). Em comum a todos eles, estava a motivação para as manifestações: eram mobilizações contra o atraso no pagamento de salários e direitos trabalhistas. Neles também viu-se a exigência de melhores condições de trabalho. No ano de 2021, outros atos também já foram realizados em Belém e Manaus.

As frotas dos ônibus do transporte coletivo na Amazônia em sua maioria são antigas e estão em precárias condições. Muitos empresários compram ônibus antigos de outras capitais, principalmente Rio de Janeiro e São Paulo. Nas capitais mais populosas da Amazônia, Belém e Manaus, o problema se agrava ainda mais. Devido ao reduzido número de ônibus em circulação, os trabalhadores se vêem obrigados a esperar por muito tempo nas paradas de ônibus, que, ao fim, não atende a população, principalmente quem mora na periferia.

Rodoviários realizaram série de protestos contra a perda de direitos

Em Manaus, cerca de 8 mil rodoviários de todas as empresas de transporte coletivo  paralisaram 100% da frota de ônibus no dia 21 de dezembro de 2019. Nos meses anteriores ocorreram paralisações parciais em algumas empresas, sempre exigindo os mesmos direitos como pagamento do 13º salário, vale-alimentação e solução de diversos problemas no plano de saúde. Naquele ano, o ato foi a foi a 11ª paralisação e um dos maiores.

Os empresários tentaram atrapalhar a luta com promessas e acordos que nunca foram cumpridos. Um deles foi realizado no dia 5 de dezembro, em uma audiência pública no Ministério Público do Trabalho. Nessa ocasião, os empresários se comprometeram em realizar o pagamento do 13º salário até o dia 20 de dezembro e resolver as demais pendências no plano de saúde e no vale-alimentação, contudo, as promessas só foram cumpridas após a paralisação dos trabalhadores.

Leia também: Sem receber 13º salário e demais direitos rodoviários de Manaus paralisam 100% da frota

Em Marabá (PA), o maior ato foi realizado em 7 de outubro com a mobilização de 100% dos trabalhadores contra a falta de salários e condições de trabalho. O ato foi a sexta paralisação somente em 2019. Alguns trabalhadores estavam há 7 meses sem salários.

Em Rio Branco (AC), os trabalhadores paralisaram as atividades por uma hora, no início da manhã do dia 8 de outubro de 2019, contra o atraso dos salários. Em 2016, os empresários, alegando altos custos, demitiram todos os cobradores dos ônibus de Rio Branco. A demissão em massa contou com apoio da prefeitura municipal. Não houve redução dos preços das passagens. Atualmente o valor é de R$ 4, uma das mais caras entre as capitais brasileiras.

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No dia 4 de fevereiro rodoviários de Manaus realizaram a primeira paralisação de 2021, exigindo seus salários, mas também contra as demissões em massa. O ato iniciou por volta das 7h30m e seguiu até o final da tarde. Cerca de 94 linhas de ônibus ficaram nas garagens, o que representa 75% do total da frota. 

Os trabalhadores denunciam que, além dos salários atrasados, não estão recebendo apoio para custeio do tratamento de Covid-19. Com os atrasos, muitos não conseguem nem mesmo comprar os medicamentos necessários.

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Os avanços não foram significativos diante disso no dia 12 de março houve mais uma paralisação e novamente contou com a participação de rodoviários de todas as empresas. Os ônibus foram estacionados em fila única na Zona Centro – Sul de Manaus formando uma fila com cerca de 4 km.

O Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Coletivo Urbano Rodoviário de Manaus e Região Metropolitana (STTRM) denunciou que os trabalhadores estavam há 50 dias sem receber vale alimentação, vale lanche e cesta básica. O ato foi encerrado ainda pela manhã. 


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