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Cerca de 300 trabalhadores terceirizados, entre eles enfermeiros, técnicos de enfermagem, maqueiros e demais profissionais de várias cooperativas da saúde, bloquearam a avenida Mário Ypiranga, uma das principais vias da cidade, para exigir o pagamento dos seus salários e demais direitos trabalhistas, e punição às empresas cooperativas, no dia 22 de janeiro.
Com vários cartazes os trabalhadores denunciaram que estão passando fome, pois nem mesmo os baixos salários estão sendo pagos. “Meus filhos ficaram com fome em casa. Eu não tinha mais cara de pedir comida dos outros. E não sou só eu. Tenho colegas que estão em depressão. Todo dia a gente trabalha na esperança de receber, mas até agora nada. Passo dificuldade com meus filhos.”, denuncia o técnico de enfermagem Marcelo Lima, que está sem receber salários há quatro meses.
Em graves dificuldades financeiras os trabalhadores se desesperam, recorrendo até mesmo a agiotas. “Já passei por isso e foi a pior coisa, fiquei na mão de agiota, que me ameaçou, peguei R$ 500 e tive que pagar R$ 2 mil, tudo isso porque a gente não recebe.”, denuncia Raimunda Oliveira, técnica de enfermagem sem receber salários também há quatro meses.
A maioria dos trabalhadores não recebe desde outubro do ano passado, além disso grande parte ainda não conseguiu entrar em período de férias, pois de acordo com as cooperativas não há recursos. “Desde outubro estamos sem receber, muitos não receberam férias. Passamos dezembro sem dinheiro, nem cesta básica nós recebemos. Cumprimos toda a carga horária, não há queixa dos nossos trabalhos. Além disso, quem segura a saúde nesse estado somos nós, terceirizados. Estamos trabalhando sem motivações, e os nossos pacientes não têm culpa.”, afirma a técnica em enfermagem, Luzia Dias.
Outra trabalhadora, Eli Xavier, denuncia que mesmo diante da situação grave dos trabalhadores, não apenas financeira, mas de saúde também, as cooperativas realizam apenas promessas de pagamento dos salários. “Na nossa cooperativa, estamos há quatro meses sem receber. Não nos dão uma certeza, não há posição. Esse período é o pior, porque é Carnaval, há muitos pacientes e como as fundações servem de apoio aos grandes hospitais da cidade todos os leitos estão lotados em apoio aos pronto-socorros.”.
A liderança sindical Graciete Mousinho relata que sem salários para pagamento de aluguel muitos trabalhadores já foram despejados. Mesmo com esse cenário os órgãos do velho Estado ignoram a situação dos trabalhadores. “Nossa categoria está sendo humilhada. O governo não sinaliza sobre o pagamento dos atrasados. O secretário de saúde disse que só vai pagar a partir deste mês de janeiro, e que os atrasados não têm previsão. E nós, com vamos ficar com nosso compromisso?”, questiona.
A trabalhadora técnica em enfermagem, Maria de Fátima, denuncia que a cooperativa na qual atua realizou apenas um pagamento no mês de dezembro, contudo, o mesmo é referente à metade do salário de setembro. Ela ainda denuncia a falta de profissionais como fator que precariza ainda mais o atendimento à saúde dos demais trabalhadores. “Recebemos a metade apenas de setembro. Somos nós que seguramos a saúde do estado, nem reajuste do teto salarial temos.”, protesta.
A trabalhadora e mãe, Alessandra Silva, veio junto com o filho de quatro meses para o ato e denunciou que está há cinco meses sem receber salários. Segundo Alessandra, o último pagamento efetuado foi referente à metade do salário de setembro e uma parte do 13º salário, desde então é sustentada por parentes. Ela explica que hoje está praticamente realizando trabalho voluntário no hospital. “Eles estão rogando voluntários, porque os técnicos e enfermeiros não têm mais condições de ir trabalhar. Eu não pago o aluguel há cinco meses. Sorte que não me despejaram. Mas tive que trancar a faculdade de enfermagem no 2º período por não ter condições de pagar.”, expõe.
O trabalhador Moacir Portela denuncia que os trabalhadores acompanham os repasses do gerenciamento estadual para as empresas por meio “Portal da Transparência” e questiona o não pagamento dos trabalhadores que estão passando até mesmo fome. “É bastante desestimulante trabalhar nessas circunstâncias. Temos contas para pagar. Nós acompanhamos o portal da transparência e vemos que tem valores milionários repassados, então, por que não pagam?”, indigna-se.
Os trabalhadores da saúde foram recebidos pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) após o ato realizado no dia 22. Em novembro do ano passado, os mesmos trabalhadores realizaram um ato denunciando a situação, porém não houve mudanças.
Governo estadual condena protesto
Por meio de nota ao monopólio de imprensa, o Secretário Estadual de Saúde que também exerce o cargo de vice-governador, apesar de sempre ter trabalhado na área jurídica, informou que mesmo no atual cenário crítico onde há trabalhadores doentes e passando fome “o protesto não deveria ser realizado”, pois já houve reunião sobre o não pagamento dos salários e demais direitos trabalhistas. Além disso, a nota pede que os trabalhadores tenham paciência para aguardar a conclusão dos estudos realizados pela Secretaria de Fazenda. No entanto, nenhum prazo foi tirado em reunião mencionada pelo secretário.
“No dia 3 de janeiro, um dia após nossa posse, eles protocolaram o pedido de reunião, que aconteceu dia 14. Nós acolhemos as demandas e nos comprometemos em tomar as providências com os encaminhamentos técnicos necessários. Tudo registrado em ata e assinado pela presidente do Sindpriv, Graciete Mouzinho, e outros membros da diretoria. Anotamos as providências, dissemos que íamos fazer a análise financeira com a Fazenda e a reunião com o MPT, que já está marcada. Por isso, não se compreende o motivo do protesto.”, condenou o dissimulado secretário.
As lideranças sindicais informaram que caso a situação não seja resolvida até o dia 24/01 durante a reunião no MPT, no dia 26 será realizada assembleia para definir greve geral em todas as unidades de saúde.
“Na sexta, haverá uma reunião com o MPT sobre o que foi definido na quinta. Aí vamos reunir a comissão para decidir sobre a greve.”, prometeu.