Em mais um ato contra o não pagamento de salários, cerca de 150 trabalhadores terceirizados da saúde realizaram um ato na noite do dia 3 de fevereiro, domingo, em frente ao Pronto Socorro 28 de agosto e Instituto da mulher Dona Lindu – um dos maiores hospitais de Manaus. Logo após o ato os trabalhadores interditaram a avenida Mário Ypiranga.
Alguns trabalhadores afirmam que estão há tanto tempo sem receber salários e que já estão se “considerando escravos”. Além dos salários, há também falta de insumos e medicamentos que prejudicam diretamente o atendimento à população, algumas cirurgias já não estão sendo mais realizadas, fato que pode ocasionar a morte de mais trabalhadores, segundo denunciou a cirurgiã geral Ana Mello.
“Já estamos indo para quinto mês sem receber. Somos escravos. E quem sente também é a população, estamos trabalhando com a urgência e emergência normalmente, mas a área de cirurgia eletiva está parada. Como vamos pagar as nossas contas? Estamos emprestando dinheiro de nossos familiares, é um absurdo.”, denunciou Ana.
As trabalhadoras expõem que estão trabalhando sem motivação, pois não há qualquer previsão para pagamento dos salários, alguns já estão passando até fome, pois estão há cerca de cinco meses sem receber salários, conforme denunciou a técnica de enfermagem Elisgleice Pereira, que atua no Instituto da Mulher Dona Lindu. “Temos família, tem gente que mora de aluguel, e quem tem filhos pequenos sofre. Teve um caso que nos juntamos para comprar um rancho para um colega. Estamos no desânimo.”.
A liderança dos sindicatos dos médicos denunciou que todas as unidades de saúde do Amazonas estão em situação precária, fato que pode provocar a morte de muitos trabalhadores. “Faltam insumos, medicamentos, fio cirúrgico, anestésicos, leitos. Há superlotação nas maternidades. As unidades neo-natal não têm vaga para bebês prematuros. Além do atraso no pagamento do salário. Todas as categorias terceirizadas da saúde estão com o salário atrasado, de todas as unidades SPAs, hospitais e Pronto-Socorros.”, relatou o médico Mário Viana.
O trabalhador Djalma Pinheiro afirmou que há dificuldade no atendimento por conta da estrutura precária, sobretudo nas unidades do interior do Amazonas. Segundo ele, a falta de salários é apenas um retrato da condição da saúde do Amazonas.
“Há uma carência gigantesca de leitos no estado. Muitos pacientes deixam de ser medicados com antibióticos por falta dos mesmo. Falta medicamentos de quimioterapia. O S.U.S. tem que funcionar bem e, para isso, não precisa só de médico, enfermeiro ou maqueiro. Precisamos, sim, de insumos, materiais, órteses e próteses para as cirurgias. Queremos melhorar as condições de trabalho dos profissionais da saúde e pagamento do trabalho.”, denunciou Djalma.
No dia 3 à tarde outro grupo de trabalhadores paralisou as atividades para realização de ato contra o atraso de salários, em frente ao Hospital e Pronto Socorro João Lúcio, na zona leste de Manaus. O presidente de umas das cooperativas médicas disse que a atenção básica também está em precárias condições. “Estamos ajudando a reorganizar a rede de saúde. Nós estamos atendendo em prontos-socorros só o que são doenças de patologia do pronto-socorro. O Pronto-soocorro é para atender apenas urgências e emergências. Em virtude do mal funcionamento da rede básica de saúde, tudo vai para os prontos-socorros, e nós não temos condições de trabalhar, nós não temos insumos.”, diz o presidente José Francisco dos Santos.
Outros trabalhadores que preferiram não se identificar por conta de assédio moral denunciam que alguns usuários do serviço público chegam em estado de saúde grave, mas sem salários, insumos e com equipamentos sem manutenção alguns serviços já não podem mais ser realizados. “Mais de cinco meses sem receber, ninguém aguenta muito. A urgência e emergência estão funcionando, mas outros serviços, não. Paciente chega aqui no bico do urubu, é atendido, claro. Mas ortopedia e cirurgia, não.”, denunciou um dos trabalhadores.
Governo imoral condena novamente o ato dos trabalhadores
Em nota ao monopólio de imprensa, o secretário de saúde e vice-governador do Amazonas informou que “os atendimentos ocorrem dentro da normalidade” nas unidades de saúde, “apesar de alguns poucos profissionais interferirem na realização do atendimento”, segundo ele.
“Alguns poucos profissionais tentam fazer movimento para reduzir a quantidade de atendimentos. Nesses casos, a direção de cada unidade está interferindo administrando a situação, não havendo prejuízos, além do tempo de espera que é comum nos fins de semana, quando serviços de urgência emergência têm maior demanda por serem as únicas unidades com portas abertas ao usuário.”, afirmou, desprezando a grave situação vivida pelos trabalhadores da saúde e pelas massas usuárias do serviço.