Os trabalhadores dos hospitais 28 de agosto e Platão Araújo, localizados na capital amazonense, denunciam a precarização dos serviços de saúde que atingem diretamente os setores da sociedade mais proletarizados. Um dos trabalhadores do HPS Platão Araújo denuncia a sobrecarga de trabalho que aumenta as chances da ocorrência de erros prejudiciais aos trabalhadores e aos pacientes.
“Há duas pessoas apenas para atender na medicação, isso em 12 horas de plantão. Todo dia é assim. Uma pessoa para fazer medicação e outra para aplicar. E se for na hora do almoço já viu a complicação, fica só uma para atender. Aqui é um hospital de urgência, o maior da zona leste, vem muita gente e tem pouco funcionário. Nas enfermarias ficam dois técnicos de enfermagem para tomar conta de mais de trinta pacientes.”, denunciou um trabalhador do hospital.
Duas trabalhadoras do HPS Platão Araújo denunciam ainda a prática de assédio moral e a realização não remunerada de outras funções não relacionadas ao atendimento em saúde. “Há muito desvio de função. Pessoas que são enfermeiras estão fazendo papel de administrativo. Tem uma que é técnica e está no centro cirúrgico como enfermeira. Há vários desvios. Tem colega que fica com 16 pacientes, não dando conta de dar um atendimento de qualidade às pessoas.”, denunciou uma delas.
Além da precarização do serviço outros trabalhadores denunciam a falta de materiais adequados para a realização dos atendimentos e até mesmo redução na alimentação contrária às recomendações da equipe de saúde. “Outro absurdo são os pacientes, principalmente crianças e idosos, entrarem no centro cirúrgico de cueca ou calcinha. O hospital não está comprando fralda, nem para crianças e nem para adultos. Na Observação Infantil, as mães e crianças ficam no frio porque não há lençóis. Cortaram a refeição de merenda, os desjejuns que vão de 5h15 até 6h45 são um cafezinho e pedacinho de pão, o almoço só vem às 11h. As crianças choram com fome, tudo porque cortaram o lanche que seria às 9 horas.”, relatou.
Outra trabalhadora denuncia: “Primeiro a dificuldade é o pessoal: geralmente o correto é ter quatro técnicos de enfermagem, e atualmente estamos com duas técnicas, e às vezes três técnicos. Aí a gente se vira para resolver o problema e nós sabemos que a pediatria é um setor crítico, são pacientes delicados porque são crianças. Chega a internação e, infelizmente, a gente coloca a criança direto no colchão, porque não tem lençol. É de dar dó porque eu, como funcionária e como mãe, me parte o coração ver isso, mas o que podemos fazer?”.
Alguns trabalhadores se solidarizam com a situação, desejando até mesmo efetivar uma intervenção temporária e espontânea, contudo, sua baixa remuneração não permite. “Se eu pudesse faria uma cota para comprar lençol. Não é um item caro e mesmo assim não temos, não mandam mais fazer. É difícil trabalhar assim e é difícil ver isso. Dizem que a saúde está boa, mas não vemos isso, porque lá no hospital não está.”, desabafou uma trabalhadora.
A precarização da estrutura acaba favorecendo o processo de adoecimento. Um dos pacientes do HPS Platão Araújo denuncia falta de ar condicionado há mais de uma semana. Atualmente Manaus está passando pelo verão amazônico e em alguns dias a temperatura atinge mais de 40º C com a sensação térmica podendo chegar até a 45º C. “A situação está muito difícil. Eu mesmo peguei uma bactéria porque é muito quente aqui, o ventilador fica jogando as bactérias pelo ar.”.
No Hospital 28 de agosto a situação é semelhante. Trabalhadores e acompanhantes dos pacientes também denunciam que quartos estão sem ar condicionado há meses. “No terceiro andar não tem refrigeração, eles não querem saber de colocar uma nova central, consertar, porque não têm dinheiro. Todos os pacientes estão na quentura e isso já faz dois meses. Quem deve arrumar é uma empresa terceirizada que não arruma nada. Os pacientes estão passando mal e é dessa forma que está.”, contou um funcionário.
Situações como essa tendem a surgir cada vez mais por conta da EC 95 que congela os gastos na saúde por 20 anos. Os trabalhadores da saúde já chamam a EC/95 de “EC da morte”, pois diversos atendimentos podem não ser realizados da melhor maneira para o usuário, seja por equipamentos inadequados, seja por falta de materiais, seja por erro da equipe de saúde que está sobrecarregada e sem remuneração adequada. A EC/95 foi aprovada em uma clara intenção de liberar mais recursos financeiros para dívida pública esta que é uma maneira dos bancos saquearem o Estado.