Moradores protestam em frente ao conjunto Viver Melhor. Foto: Layena Magal
Moradores da comunidade Monte Horebe, Zona Norte de Manaus, levantaram barricadas com pedaços de madeira e pneus em uma manifestação que bloqueou a entrada do conjunto Viver Melhor, um dos acesso às moradias, no dia 03 de março.
O protesto foi organizado em repúdio ao covarde despejo cometido pelo velho Estado no dia 2 de março. A ação contou com o aparato repressivo de cerca de 700 policiais, conforme noticiado pelo AND na matéria “Cidade das luzes e monte horebe retratos da luta dos trabalhadores pelo direito a moradia na amazonia”.
Barricadas foram montadas pelos moradores. Foto: Abecassis Aguilar
Durante o ato, além das barricadas em chamas, também um carro foi incendiado na entrada do conjunto Viver Melhor.
Cerca de 1.000 famílias que residiam na localidade há cerca de 5 anos estão desalojadas e, desde então, já foram demolidas cerca de 700 casas.
Após o início da remoção, as forças de repressão montaram barreiras nas entradas da comunidade Monte Horebe e do conjunto Viver Melhor. A passagem dos trabalhadores só é permitida, mediante apresentação de comprovantes de residência nas barreiras em uma clara violação do direito de circulação das famílias trabalhadoras.
O fornecimento de água e energia elétrica foi suspenso na comunidade Monte Horebe. As escolas e a única unidade básica de saúde (UBS) que atendem toda a região foram fechadas. O já precário transporte coletivo não está mais acessando a localidade, obrigando todos os trabalhadores que residem na área e no entorno a se deslocarem até a entrada do conjunto Viver Melhor, trajeto este que chega a levar até 40 minutos de caminhada.
No dia em que se iniciou a remoção (02/03), jornalistas do monopólio de imprensa relataram que foram impedidos pela polícia de acompanhar a ação, alegando haver falta de segurança.
A trabalhadora Ana Andrea relatou ao monopólio que a piora do transporte coletivo prejudica todos: “Temos criança, temos idoso que precisam dos ônibus e das escolas. Até as rotas particulares não estavam entrando no conjunto, era essa a nossa reivindicação.”.
O trabalhador Isaías Lima denuncia que água e energia elétrica foram cortadas para forçar a saída dos trabalhadores da comunidade, todos estão revoltados com essa ação: “Quem está satisfeito sendo arrancado forçadamente das suas casas? Ninguém fica satisfeito. Nós estamos sem luz e sem água. A metade da minha casa foi quebrada. Nós estamos dentro de um lugar onde não pagamos aluguel. Eles estão querendo nos levar para o aluguel, e nós já saímos disso porque não temos condições de pagar”.
Gilberto de Moura, trabalhador e morador da comunidade, relata que não consegue atendimento médico na UBS devido a “reintegração de posse”: “Eu vim até a UBS pegar um encaminhamento para ir até outro médico. Vim ontem e, a mesma coisa: encontrei fechado por conta da reintegração”.
O trabalhador Omar Barbosa criticou as afirmações do secretário de segurança do Amazonas que, em uma imoral declaração cometida ao monopólio de imprensa, afirmou que no local só haveriam criminosos: “O secretário diz que nós somos bandidos. Pra eles, somos um tipo de negócio que não presta. Me pergunta qual o bairro da cidade que não tem traficante. Eu te respondo: nenhum”.
Enquanto outro trabalhador Jesus, de naturalidade venezuelana, relatou que não tem pra onde ir: “Estou tentando não chorar porque vou perder tudo. Vou pra onde? Dormir na praça com os outros venezuelanos? Ninguém dá trabalho pra quem tem 55 anos.”.
Forças de repressão usam crianças
Em uma repugnante atitude, o comandante do Choque, tenente-coronel Lima Júnior, postou no dia 03/03 nas redes sociais fotos dele ao lado de crianças na faixa etária de 8 a 15 anos de idade enfileirados em formação similar à militar e exibindo escudos improvisados fabricados a partir dos escombros das casas demolidas, simulando os usados pela tropa de choque da Policia Militar para repressão dos trabalhadores.
Em uma ação criminosa e sórdida a Polícia Militar colocou crianças em formação similar a militar com escudos improvisados e com isso colocou filhos de trabalhadores desalojados na frente dos militares que garantiram a expulsão de famílias pobres de suas casas. Foto: Redes Sociais
Diante da polêmica repercussão que tomou a sórdida atitude, o tenente-coronel não demonstrou qualquer constrangimento em assumir publicamente a autoria do criminoso ato que, durante uma operação militar antipovo colocou filhos de trabalhadores desalojados na frente dos militares que garantiram a expulsão de famílias pobres de suas casas.
Grilagem de terras e a especulação imobiliária
O despejo é motivado por interesses imobiliários de grandes empresas construtoras, dentre elas a Construtora Amazônidas, cujo sócio é Eládio Messias Cameli, pai do atual governador do Acre, Gladson Cameli (PP), que reivindica 91,4 hectares das terras que abrigam cerca de mil famílias pobres.
Outra empresa interessada na especulação imobiliária da localidade é a Construtora Capital, cujo o sócio majoritário é Pauderley Avelino, irmão do ex-deputado federal Pauderney Avelino (DEM) que pede na justiça um trecho de 16 hectares das terras onde hoje se situa a comunidade Monte Horebe.
Toda esta disputa de interesses especulativos que tem por objetivo a expulsão das famílias ocorre em uma região de proteção ambiental. Parte da comunidade Monte Horebe se situa dentro da Reserva Adolpho Ducke, maior Área de Proteção Ambiental (APA) da capital amazonense devido à falta de moradias que empurra os trabalhadores a viverem em condições precárias. De acordo com o IBGE, Manaus está entre as capitais com os maiores déficits habitacionais no país.
Fato este que deixa clara a demagoga argumentação pretensamente ambientalista do velho Estado propagandeada como pretexto para remoção dos trabalhadores.
Na verdade, o que o velho Estado almeja é remover a comunidade para dar lugar aos empreendimentos imobiliários das grandes construtoras.