Nos dias 8 e 9 de agosto, foi realizado na Universidade Federal do Amazonas o seminário “Massacre do Rio Abacaxis e Mari-Mari: memória e luta por justiça”, anualmente promovido pelo Grupo de Pesquisas, Planejamento e Gestão do Território na Amazônia – Dabukuri, com o intuito de discutir os avanços no caso da chacina que culminou na morte de ribeirinhos e indígenas em Borba e Olinda do Norte.
A ação policial violenta, patrocinada e acobertada pelo Velho Estado, culminou na morte de seis pessoas, sendo quatro camponeses e dois indígenas, para além de deixar duas pessoas desaparecidas. Conforme relatado pelas lideranças indígenas presentes no auditório, outras dezenas de moradores foram torturados.
O evento contou a participação de estudantes, professores da UFAM e teve depoimentos em primeira mão de camponeses e indígenas que vivenciaram e acompanham os desdobramentos do caso.
Das novidades sobre o caso, trazidas pelo seminário anual, soube-se que até o momento, houve o indiciamento dos coronéis Louismar Bonates, ex-secretário de Segurança Pública do Amazonas, e Ayrton Norte, ex-comandante da polícia militar do Amazonas, em abril de 2023. Apesar disso, não houve punição, ao contrário; o governador reacionário do estado, Wilson Lima (União Brasil), condecorou os dois criminosos indiciados “como prova do reconhecimento das suas qualidades e valores”.
As lideranças indígenas presentes no auditório clamaram pelo apoio da academia para denunciar os órgãos públicos, reunindo dados e relatos com o intuito de proteger seus territórios e preservar a natureza, na qual historicamente vivem e trabalham.
Relembre o caso
Em julho de 2020, Saulo Moysés Rezende Costa, que na época exercia o cargo de secretário-executivo do Fundo de Promoção Social estadual, afirmou ter sido baleado enquanto praticava pesca esportiva ilegal no Rio Abacaxis. No terceiro dia do mês seguinte, policiais militares, não uniformizados e com os rostos cobertos, invadiram a comunidade para realizar uma operação violenta supostamente destinada ao combate do tráfico de drogas na região. No mesmo dia, dois policiais foram mortos por indivíduos não identificados.
No dia seguinte, cinquenta policiais militares, enviados pela Secretaria de Segurança Pública do Amazonas (SSP-AM), a serviço do Estado, iniciaram uma série de crimes contra a população local, que incluíram torturas, assassinatos e demais abusos contra os indígenas e camponeses, criando um clima de guerra contra as comunidades.