Cresce o analfabetismo entre jovens; taxa está estagnada desde 2009

A principal alteração nos dados após 2018 se deu pelo aumento de 14% para 16% do analfabetismo funcional entre a população com 15 a 29 anos, que subiu de 14% para 16% em 2024. Antes, os aumentos eram maiores entre os mais velhos. A pesquisa começou a ser produzida em 2001, sendo interrompida durante os anos a pandemia da covid-19.
Geovana Albuquerque/Agência Brasil.

Cresce o analfabetismo entre jovens; taxa está estagnada desde 2009

A principal alteração nos dados após 2018 se deu pelo aumento de 14% para 16% do analfabetismo funcional entre a população com 15 a 29 anos, que subiu de 14% para 16% em 2024. Antes, os aumentos eram maiores entre os mais velhos. A pesquisa começou a ser produzida em 2001, sendo interrompida durante os anos a pandemia da covid-19.

O número de analfabetos funcionais no Brasil está praticamente estagnado desde 2009, segundo a pesquisa Indicador de Alfabetismo Funcional, da Ação Educativa e da consultoria “Conhecimento Social”, divulgada hoje (05/05). 

Três a cada dez brasileiros (aproximadamente 29% da população) não conseguem usar a leitura e escrita durante tarefas diárias. Em entrevista para o monopólio de imprensa Uol, a economista Ana Lima, coordenadora do estudo, afirmou que os dados surpreenderam pela forte estagnação: “não esperávamos nenhuma revolução, mas nos impactou que o freio fosse mais forte do que imaginávamos”.

De acordo com a pesquisa, 27% da população brasileira era analfabeta funcional entre 2009 e 2015. O número subiu três pontos percentuais (dentro da margem de erro) em 2018 e manteve-se assim em 2024. Ou seja, não houve alterações fora da margem. 

Novo Ensino Médio – Nem aceitar, nem ajustar: revogar o NEM já! – A Nova Democracia
É preciso elevar a mobilização contra este novo passo do desmonte do ensino público universal.
anovademocracia.com.br

Na população preta, a taxa de analfabetismo é maior (31% se declaram alfabetizados) do que entre os brancos (41%), o que se vincula com o fato de que a pobreza afeta principalmente as massas pretas e pardas. O quadro piorou para branco e pretos, contudo, em relação a 2018, quando 33% dos pretos e pardos e 45% dos brancos eram alfabetizados. 

A principal alteração nos dados após 2018 se deu pelo aumento de 14% para 16% do analfabetismo funcional entre a população com 15 a 29 anos, que subiu de 14% para 16% em 2024. Antes, os aumentos eram maiores entre os mais velhos. A pesquisa começou a ser produzida em 2001, sendo interrompida durante os anos a pandemia da covid-19. 

Desenvolvimento precário e cortes

A estagnação desse índice no Brasil mostra que a taxa não vai cair sem que mudanças mais robustas ocorram na sociedade brasileira, oferecendo uma Educação pública, gratuita e a serviço do povo para as amplas massas populares, inclusive os setores mais pobres

Em entrevista ao Jornal da Universidade de São Paulo (USP) no ano passado, o professor Emerson de Pietri, da Faculdade de Educação da USP, disse que a desigualdade social, o processo histórico e a demografia são alguns fatores por trás da alta taxa de analfabetismo no Brasil. 

“Quando consideramos que os Estados do Nordeste [região com maiores índices de analfabetismo] enfrentam maiores desafios historicamente para se desenvolver do ponto de vista econômico, compreendemos também porque os processos de escolarização nessas regiões demoram um tanto mais para se realizarem e se consolidarem de maneira mais satisfatória”, diz ele. 

Novo Ensino Médio: tragédia anunciada – A Nova Democracia
Professores, alunos e sindicatos se mobilizam por todo país pela revogação do Novo Ensino Médio (NEM) e já marcaram um dia nacional de manifestação para 15 de março.
anovademocracia.com.br

A questão do desenvolvimento também ocorre no resto do País. A economia do Brasil, sustentada em relações pré-capitalistas no campo e por trabalhos precários, servis ou informais nos grandes centros urbanos (exceto em poucos polos industriais), cria um grande contingente de massas profundas que, do ponto de vista das classes dominantes, não precisam saber ler e escrever para trabalhar. 

Os cortes na Educação favorecem a manutenção de um sistema educacional precário que não serve a essas massas. Em 2008, um ano antes da violenta estagnação da queda do analfabetismo funcional,  Luiz Inácio cortou R$ 19,2 bilhões na educação. Foi omaior corte na educação pública até então. Em 2010, a política de cortes na educação pública seguiu avançando, com o corte de mais de R$ 1,28 bilhão. Entre os anos de 2014 e 2018, o Brasil verificou um corte de 56% na educação pública, uma queda de R$ 6,4 bilhões.   

Pandemia 

De acordo com Lima, os impactos do período pandêmico  na educação formal não podem ser ignorados. Ela também ressalta a “falta de convivência em outros espaços de letramento como trabalho, mercado e cinema”. 

Acontece que a pandemia não tirou os alunos da escola por si só. Eles foram afastados do ambiente educacional porque o governo de Jair Bolsonaro e os governos estaduais usaram da pandemia assassinar milhares de massas brasileiras e, no caso da Educação, não buscaram formas de manter as escolas funcionando de modo que atendesse às exigências do período.

Manifesto Comunista
Informações do produto: O combo inclui: Dois bonés de cor Bege e Vermelha da Liga dos Camponeses pobres; Um ‘Manifesto do Partido Comunista’, Um livro ‘Citaç…
lojadoand.com.br

Em junho de 2020, mais da metade dos estudantes jovens entre 15 e 29 anos estavam fora da sala de aula, segundo uma pesquisa realizada pelo Conselho Nacional de Juventude chegou a apontar que mais da metade dos estudantes jovens, entre 15 e 29 anos, se encontravam afastados da sala de aula. 

Com a imposição abrupta do afastamento social e do ensino a distância por mais de um ano, grande parcela das crianças e adolescentes pobres ficaram com o acesso profundamente limitado à escolaridade. Em 2021 o diretor-regional da Unicef para América Latina e Caribe, Jean Gough, disse que “nos últimos 18 meses, a maioria das crianças e adolescentes da América Latina e do Caribe não viu seus professores ou amigos fora de uma tela. Quem não tem internet não os viu diretamente”, completando a seguir “durante a pandemia as famílias mais marginalizadas não tiveram acesso ao aprendizado”.

Outro ponto ignorado pelo monopólio de imprensa, quanto pela pesquisa, patrocinada pela Fundação Roberto Marinho e pela Fundação Itaú, é o impacto promovido pelo chamado “Novo Ensino Médio” (NEM). Patrocinado ou endossado pelo Itaú, o NEM foi responsável por um aumento exorbitante na taxa de evasão escolar, tendo em 2023 apenas 15% dos jovens acima de 16 anos frequentando a escola. 

Tendência para o crescimento do analfabetismo 

Em novembro de 2024, o governo federal encabeçado pelo oportunista Luiz Inácio (PT), afirmou que iria estabelecer um corte de R$ 42,3 bilhões de investimentos na educação até 2030, como parte do seu “arcabouço fiscal”. 

A medida faz parte de um pacote que, de um lado retira ao máximo os recursos para efetuar os direitos das massas populares e, de outro, promove uma massiva entrega de recursos públicos para as mãos do latifúndio e dos políticos do chamado “centrão” – como é conhecida a direita tradicional. 

Como exemplo, em março de 2025 o governo federal anunciou o corte de R$ 12 bilhões para educação, ciência e assistência social, enquanto entregou mais de R$ 50,5 bilhões em emendas parlamentares, muitas das quais são administradas por membros do Partido Liberal (PL), de Jair Bolsonaro.

Ao observarmos a estagnação das taxas em 2009, iniciada após um corte massivo nos fundos para educação, repetido no arcabouço fiscal de 2024, bem como o aumento do número de evasões escolares durante o período pandêmico e após a implementação do NEM em 2022, podemos concluir que a principal tendência é para o crescimento do analfabetismo a curto-médio prazo.

Calendário 2025 – Liga dos Camponeses Pobres (LCP)
Como forma de apoio à luta pela terra em nosso país, temos a alegria de fornecer calendários 2025 temáticos produzidos pela Liga dos Camponeses Pobres (LCP)….
lojadoand.com.br
Ao longo das últimas duas décadas, o jornal A Nova Democracia tem se sustentado nos leitores operários, camponeses, estudantes e na intelectualidade progressista. Assim tem mantido inalterada sua linha editorial radicalmente antagônica à imprensa reacionária e vendida aos interesses das classes dominantes e do imperialismo.
Agora, mais do que nunca, AND precisa do seu apoio. Assine o nosso Catarse, de acordo com sua possibilidade, e receba em troca recompensas e vantagens exclusivas.

Quero apoiar mensalmente!

Temas relacionados:

Matérias recentes: