Sete trabalhadores da província angolana de Huambo foram assassinados pela polícia durante um protesto de taxistas e mototaxistas contra o aumento de quase 80% no combustível em Angola, no dia 5 de junho. Os trabalhadores denunciaram o aumento e a falta de isenção para os trabalhadores do transporte. A repressão feroz ao protesto foi respondida com a destruição de gabinetes provinciais, comitês partidários do oportunista e governista Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), além de ônibus e ambulâncias.
O protesto foi iniciado ainda de manhã, quando os trabalhadores do transporte ergueram piquetes em diferentes pontos de táxi da cidade e prédios do governo e bloquearam uma das vias provinciais com uma barricada de pneus em chamas. A repressão foi atroz. Tropas da Polícia de Intervenção Rápida foram mobilizadas com um aparato de repressão que incluía desde armas de fogo até caminhões com canhões de água, cães e bombas de gás lacrimogêneo.
Trabalhadores foram baleados em plena luz do dia, sob graves denúncias de seus companheiros de profissão: “Aqui é guerra. A polícia está a disparar à queima-roupa. O custo de vida subiu com essa medida do governo. O povo está cansado. Há mais de cinco mortos”, denunciou um manifestante ao monopólio de imprensa Voa Português.
O taxista Afonso Pedro denunciou ao mesmo jornal que a repressão ocorreu após o governo de Huambo se negar a atender as exigências dos trabalhadores: “Ontem reunimos com a governadora e não nos deram o cartão para o subsídio do combustível. Quando fomos manifestar a polícia começou a disparar, uns cinco colegas foram mortos”.
Além dos mortos, diversos trabalhadores ficaram feridos, 34 foram detidos e 29 motos foram apreendidas. O número de feridos é incerto e o de mortos pode ser ainda maior que sete, visto que as forças policiais cercaram e impediram a entrada no Hospital Central de Huambo, instituição para onde os feridos foram levados.
Todavia, o aparato de guerra usado contra os mototaxistas não foi capaz de impedir a rebelião das massas, que responderam com a destruição de gabinetes provinciais, comitês partidários do partido presidencial MPLA e ônibus e ambulâncias.
FMI manda e MPLA obedece
O aumento nos combustíveis em Angola foi aplicado na virada da noite do dia 02/06 após anúncio do governo. A medida atende às exigências do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial (BM) para Angola. Ambas as instituições financeiras à serviço do imperialismo ianque (Estados Unidos, USA) exigiram recentemente que o governo angolano reduzisse os subsídios concedidos ao povo do país.
A aplicação brusca da medida anti-povo provocou impacto em diversos setores das massas populares angolanas, mas sobretudo nos trabalhadores do setor de transporte. Já submetidos a longas jornadas de trabalho sob precárias condições e obrigados a arcar com taxas de aluguel e manutenção dos veículos, esses trabalhadores precisarão enfrentar agora o aumento abusivo do combustível imposto pelos imperialistas e atendido pelo governo lacaio de João Lourenço. A fim de conter a rebelião desses setores, Lourenço havia prometido descontos e isenções para os taxistas e mototaxistas do país, que supostamente ganhariam cartões para comprovar o exercício da profissão. Até o dia 05/06, data do protesto em Huambo, os cartões só haviam sido distribuídos para poucos motoristas da capital.
A revolta sentida pelos mototaxistas de Huambo contra a superexploração é compartilhada por trabalhadores do transporte de todo o mundo, principalmente por taxistas, mototaxistas e motoristas de aplicativo. Também no Brasil, são constantes os altos custos dos combustíveis que, unidos à alta nos custos de vida, a superexploração e as abusivas taxas cobradas por aplicativos conformam um cruel cenário para os trabalhadores onde só se beneficiam os monopólios imperialistas ou locais.