Diversas demonstrações de solidariedade ao povo indígena Guarani Kaiowá no Mato Grosso do Sul (MS) ocorrem em todo solo nacional após os criminosos ataques e assassinatos promovidos por tropas da Polícia Militar (PM) e pelo latifúndio nas retomadas Jopara, Guapo’y e Kurupy.
A solidariedade ocorre após a sinistra e macabra chacina perpetuada pela Tropa de Choque da PM e pistoleiros no dia 24 de junho. Na ocasião, os reacionários, mobilizando um helicóptero e cerca de 100 agentes junto a pistoleiros a serviço do latifúndio, promoveram uma covarde chacina contra jovens Guarani Kaiowá, no território de retomada Tekoha Gwapo’y Mi Tujury, em Amambai, no Mato Grosso do Sul. De acordo com denúncias do povo Guarani Kaiowá recebidas pela redação de AND, cinco pessoas foram assassinadas e outras dez foram hospitalizadas, algumas em estado grave.
‘Colocamos todas as nossas forças à disposição’
Em nota a Comissão Guarani Yvyrupa (CGY) em solidariedade aos Guarani Kaiowá afirmou: “Não aceitamos que nossos parentes Guarani Kaiowá sigam sendo tratados como estrangeiros em suas próprias terras e mortos pela ação de milícias armadas, a serviço do agronegócio e do Estado”. A CGY, organização indígena que reúne diversos grupos do povo Guarani Kaiowá nas regiões Sul e Sudeste do Brasil na luta pela terra, declarou também: “A luta dos Guarani Kaiowá em MS também é a nossa luta, por isso colocamos todas as nossas forças à disposição da Aty Guasu para, lado a lado, enfrentarmos mais esse triste capítulo de violação de nossos direitos fundamentais”.
O povo Akroá Gamella do Maranhão manifestou solidariedade aos Guarani Kaiowá, dizendo: “A nossa resistência à morte antes do tempo não deixa e jamais deixará que os nossos inimigos durmam seu sono tranquilamente. Cada gota de sangue derramada regará a Terra dos nossos ancestrais e os nossos corpos-sementes germinarão. Este sentimento que carregamos é alimentado pela Memória Subversiva dos que são tombados em Luta. Por eles tocamos nossos Maracás”.
A Executiva Nacional dos Estudantes de Pedagogia (ExNEPe) em nota repudiou mais esse bárbaro crime e prestou solidariedade com a família de Vitor e todo o povo Guarani Kaiowá. “Como estudantes classistas, adotamos a postura de nos colocar ao lado do povo e defender sem reservas todas as suas lutas”, declarou a organização estudantil fazendo também um chamado a todos os estudantes a também denunciarem esse crime com todas as forças e se colocarem ao lado do povo Guarani Kaiowá na sagrada luta por seu território. Os estudantes encerram a nota com as seguintes palavras de ordem: Viva a autodemarcação dos povos indígenas!, Viva a luta do povo Guarani Kaiowá!, Liberdade para os indígenas presos!, Lutar não é crime! e Guerreiro Vitor Fernandes: presente na luta!.
Uma pichação clamando vingança pelo sangue indígena derramado foi encontrada no muro do Ministério Público Federal, na cidade de Dourados (MS). A consigna “Todo sangue indígena será vingado! Morte ao latifúndio!” é vista gravada na parede.
Pichação encontrada em Dourados, no Mato Grosso do Sul. Foto: Banco de dados AND
Demonstrando a ligação entre os indígenas e camponeses pobres em luta pela terra o Jornal Resistência Camponesa declarou: “A luta dos povos originários desta terra é parte inseparável da luta geral dos camponeses pobres, e a via da autodemarcação é o mesmo caminho da resistência camponesa e da Revolução Agrária. A sanha bovina dos promotores deste massacre é antes demonstração de temor que de força”.
Um nota assinada por mais de 70 organizações democráticas entre elas a Associação de Juízes pela Democracia (AJD), Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes) e Associação dos Geógrafos Brasileiros (AGB), as entidades se solidarizaram com o povo Guarani Kaiowá, repudiaram os ataques da PM e reafirmaram a necessidade da garantia dos direitos dos povos originários como a demarcação da terra indígena.
Os covardes ataques e a resistência dos povos
No final do mês de maio, após o assassinato do jovem indígena Alex Lopes na fazenda Taquaperi – pelas mãos do latifúndio, segundo denúncias da comunidade –, uma série de retomadas se iniciaram. Na cidade de Coronel Sapucaia, Amambai e Naviraí dezenas de famílias Guarani Kaiowá formaram as retomadas Jopara, Guapo’y e Kurupy reconquistando seus territórios roubados.
Diante do vigor e disposição das massas indígenas, os reacionários promoveram uma verdadeira guerra injusta adentrando o território indígena e com tropas militares e paramilitares atacaram as famílias que lutavam pelos seus justos direitos. Como resultado da ação, mais um indígena, Vito Fernandes, foi assassinado.
Lado a lado o latifúndio, pistoleiros e agentes da polícia promovem uma verdadeira campanha de terror que segue em curso. Contudo, mesmo diante desses covardes ataques, assassinatos e tentativas de massacres, o povo Guarani Kaiowá segue em resistência e recebe apoio de outros povos, organizações e democratas por todo o país.