Datafolha: Aprovação de Luiz Inácio cai para 35%; cenário se assemelha ao de Jair Bolsonaro

Esse é o pior cenário enfrentado por Luiz Inácio nos três mandatos na presidência, sinal do desgaste e da deslegitimação do oportunismo de falsa esquerda no Brasil. Na primeira gestão, marcada pela ascensão ao auge do oportunismo no País desde a chamada redemocratização, Luiz Inácio tinha, ao final do segundo mandato, 45% de aprovação e 13% de reprovação.
Queda na aprovação é expressão do programa de direita implementado pelo governo. Foto: Cristiano Mariz/Agência O Globo

Datafolha: Aprovação de Luiz Inácio cai para 35%; cenário se assemelha ao de Jair Bolsonaro

Esse é o pior cenário enfrentado por Luiz Inácio nos três mandatos na presidência, sinal do desgaste e da deslegitimação do oportunismo de falsa esquerda no Brasil. Na primeira gestão, marcada pela ascensão ao auge do oportunismo no País desde a chamada redemocratização, Luiz Inácio tinha, ao final do segundo mandato, 45% de aprovação e 13% de reprovação.

Somente 35% da população consideram o governo de Luiz Inácio ótimo ou bom, segundo a nova pesquisa do Datafolha publicada hoje (17/12). O número é quase igual à porcentagem dos que consideram o governo ruim ou péssimo (34%) e pouco acima daqueles que consideram como regular (29%).

Na comparação em relação à última pesquisa, a aprovação caiu um ponto para baixo e a desaprovação cresceu em dois pontos, ambas as oscilações dentro da margem de erro. Em relação ao último ano, contudo, a queda de aprovação é de 8%.

Esse é o pior cenário enfrentado por Luiz Inácio nos três mandatos na presidência, sinal do desgaste e da deslegitimação do oportunismo de falsa esquerda no Brasil. Na primeira gestão, marcada pela ascensão ao auge do oportunismo no País desde a chamada redemocratização, Luiz Inácio tinha, ao final do segundo mandato, 45% de aprovação e 13% de reprovação.

Comparável com Bolsonaro

A desmoralização do terceiro governo de Luiz Inácio equipara a situação do mandatário com a do ex-presidente ultrarreacionário Jair Bolsonaro. No final do segundo mandato, em 2020, Bolsonaro tinha 37% de aprovação e 32% de reprovação.

Em pronunciamentos recentes, Luiz Inácio culpou a equipe de comunicação pela baixa popularidade, mas o fato é que o principal motor da desaprovação popular ao governo é o programa de direita implementado por Luiz Inácio e sua equipe.

No campo da economia, por exemplo, o governo do oportunismo manteve o programa econômico de Jair Bolsonaro, com o orçamento secreto (na forma de emendas parlamentares), teto de gastos (potencializado como arcabouço fiscal) e cortes de direitos e benefícios, além da limitação do salário mínimo, como proposto no recente pacote fiscal apresenado por Fernando Haddad (ministro da Fazenda).

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Tanto que, na pesquisa Datafolha de ontem (16/12), focada na gestão de Haddad, foi revelado que 34% dos entrevistados consideram a gestão de Haddad ruim ou péssima, enquanto somente 27% a consideram como ótima ou boa. Na nova pesquisa, sobre o governo, dentre aqueles que disseram conhecer o pacote, 46% aprovam o mandatário e 40% desaprovam.

Altos juros e custos de vida

Ainda na economia, é claro que a alta nos custos de vida ajudam a minar a popularidade do governo atual. Entre 2023 e 2024, a cesta básica aumentou em todas as cidades do Brasil, com destaque para Campo Grande (MS) (14,47%), Goiânia (GO) (12,19%), Brasília (11,19%) e São Paulo (SP) (10,56%). 

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Nos dois anos de governo, Luiz Inácio também foi incapaz de conter a alta da taxa básica de juros (Selic), que esmaga milhões de famílias brasileiras em situação de dívida (atualmente, 78,5% das famílias brasileiras estão endividadas). Entre 2023 e 2024, o presidente se recusou a acionar o Conselho Monetário Nacional para demitir o presidente do Banco Central (BC) Roberto Campos Netto. Agora, o novo indicado de Luiz Inácio, Gabriel Galípolo, já mostrou que continuará com a fracassada política de aumentar os juros para conter a inflação.

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Política de direita

Sendo a política uma expressão concentrada da economia, Luiz Inácio não poderia, com o atual programa, implementar medidas políticas diferentes do caráter de direita do projeto econômico.

Durante o governo, o presidente insistiu na filosofia reacionária do “pragmatismo político” através de alianças com o “centrão” (em sua maioria bolsonarista). O resultado foi a entrega de cargos importante e do controle do orçamento e da agenda política aos parlamentares reacionários sem que Luiz Inácio avancasse com medidas populares ou mesmo conseguisse conter o avanço de projetos de lei reacionários, como o “marco temporal” e o “pacote anti-MST”, aprovado na última semana na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados.

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Em relação às classes dominantes, Luiz Inácio decidiu compôr com a grande burguesia e principalmente com os latifundiários. Além de não punir os grandes fazendeiros pelos crimes comprovados de queimadas (que quase dobraram entre 2023 e 2024), grilagem e violência contra os povos do campo, o governo patrocinou o setor do “agronegócio” com Planos Safras recordes nos dois anos de mandato.

É certo também que muitos se frustraram com a política de conciliação escolhida por Luiz Inácio para lidar com os generais golpistas. Desde que assumiu, o mandatário manteve um discurso muito recuado para lidar com a questão: adiou por um ano a reabertura da Comissão Especial Sobre Mortos e Desaparecidos (CEMDP) e nunca pleiteou uma mudança nos cursos das Forças Armadas reacionárias. Os generais do Alto Comando das Forças Armadas (ACFA) que não tomaram parte nas agitações golpistas de extrema-direita em 2022 também nunca foram punidos, apesar da omissão e leniência em relação aos preparativos bolsonaristas e, principalmente, da participação direta na preparação de um golpe de Estado velado por outras vias, em curso desde 2015.

Lutas populares

As mobilizações populares no País são expressão concreta da insatisação popular com o governo. Nos dois primeiros anos, o Brasil sob Luiz Inácio foi palco de robustas greves de professores, enfermeiros, servidores da preservação do meio natural e operários.

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É um movimento geral de rechaço à precarização do trabalho, superexploração e arrocho, sobretudo após a manutenção dos ataques ao funcionalismo público apesar da troca de governos. 
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O ponto fulcral da mobilização tem sido no campo, onde indígenas, camponeses e quilombolas denunciam de forma contundente a paralisia da reforma agrária e a passividade do governo em relação aos crimes dos latifundiários e bandos paramilitares reacionários.

Justamente por isso a defesa da Revolução Agrária cresceu nesse dois anos, sobretudo nas áreas de atuação de movimentos como a Liga dos Camponeses Pobres (LCP), mas também em massivas manifestações que tomaram o centro de São Paulo em setembro de 2024.

Ao longo das últimas duas décadas, o jornal A Nova Democracia tem se sustentado nos leitores operários, camponeses, estudantes e na intelectualidade progressista. Assim tem mantido inalterada sua linha editorial radicalmente antagônica à imprensa reacionária e vendida aos interesses das classes dominantes e do imperialismo.
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