Área Revolucionária Cleomar Rodrigues celebra 16 anos da Vila Unidos com Deus Venceremos 

Área Revolucionária Cleomar Rodrigues celebra 16 anos da Vila Unidos com Deus Venceremos 

No dia 04 de junho de 2023 celebraram-se exitosamente 16 anos da Vila Camponesa Unidos com Deus Venceremos, nome dado pelas massas quando da tomada das terras em 2007 em Pedras de Maria da Cruz. Sob a direção da LCP, após o enfrentamento de seguidos despejos de 3 acampamentos camponeses: “Irmãos Coragem”, “Com Deus Venceremos” e “Unidos Venceremos”, resolveram se unir numa nova tomada, conformando o Acampamento Unidos com Deus Venceremos, que posteriormente passou a nomear a vila. A Vila teve como fundador Cleomar Rodrigues de Almeida, que se tornou dirigente da LCP – Liga dos Camponeses Pobres e fora covardemente assassinado à mando do latifúndio em 22 de outubro de 2014, na entrada da área. Em 2016, as terras da fazenda que cercavam a área onde viviam os camponeses foram retomadas, cortadas e entregues os lotes para todas as famílias que lutaram e em homenagem ao companheiro Cleomar, aprovaram em assembleia que a área revolucionária  levaria o seu nome! 

A celebração dos 16 anos foi marcada pela participação ativa da maior parte das famílias que ornamentaram toda a área com bandeiras vermelhas, faixas e cartazes em homenagem ao companheiro Cleomar e prepararam um caprichoso almoço e um bolo de aniversário gigante com a sigla LCP confeitada no ápice. Prestigiaram o Ato em sua mesa de abertura representantes da Comissão Nacional das Ligas, LCP – Norte de Minas e Sul da Bahia, a Associação Camponesa Unidos com Deus Venceremos, o Movimento Feminino Popular, a Frente Nacional de Luta Campo e Cidade – FNL, a Associação Quilombola do Caxambu, Associação Quilombola do Furado Seco, a Associação Camponesa do Brilho do Sol – de Varzelândia, o Presidente da Colônia de Pescadores de Maria da Cruz, dois Vereadores, o Prefeito de Pedras de Maria da Cruz e seu assessor. Também estavam presentes na festa familiares, amigos e apoiadores das vilas e cidade vizinha. 

Celebração reuniu dezenas de camponeses. Foto: Banco de Dados AND
Monumento em homenagem ao dirigente camponês Cleomar Rodrigues. Foto: Banco de Dados AND
Camponeses em plenária. Foto: Banco de Dados AND
Camponeses celebram 16 anos da Vila Unidos com Deus Venceremos. Foto: Banco de Dados AND
Camponeses cozinharam refeições coletivas em celebração. Foto: Banco de Dados AND

Artistas populares como violeiros de Pedras de Maria da Cruz e de Varzelândia estiveram presentes e animaram as comemorações! 

Artistas animam celebração com apresentações culturais. Foto: Banco de Dados AND
Camponesa celebra 16 anos da Vila Unidos com Deus Venceremos. Foto: Banco de Dados AND
Animações culturais durante celebração. Foto: Banco de Dados AND

Um história de luta e resistência contra o latifúndio grileiro, assassino e ladrão de terras da União e contra as políticas oportunistas e corporativistas do velho Estado 

O companheiro Cleomar teve uma liderança crescente na luta pela terra no Norte de Minas no enfrentamento à ofensiva dos latifundiários contra os camponeses pobres, unindo camponeses, quilombolas e ribeirinhos contra os ataques de bandos armados do latifúndio em conluio como velho Estado! 

Em Pedras de Maria da Cruz, contando com apoio de políticos locais e com a conivência do Ministério Público de Januária, que havia recebido à época, diversas denúncias e se calou como até hoje, os latifundiários ameaçaram e perseguiram as lideranças, queimaram barracos dos pescadores, deram surras nos camponeses que encontravam pelo caminho, bloquearam estrada centenária na beira do rio, tudo a luz do dia e por fim, premeditaram e executaram o assassinato do companheiro Cleomar, pois sob sua liderança e propaganda da Revolução Agrária, o povo se unia e se encorajava a seguir lutando.  

O companheiro Cleomar enfrentou também a corporativização do movimento camponês feita pelo governo dos oportunistas (Lula/PT/FMI), que na época ainda falava que iria fazer a Reforma Agrária enquanto enganava o povo com a criação de vários projetos para dividir as massas e para tentar barrar as tomadas de terras, através da concessão de TAUS – Termo de Autorização de Uso Sustentável. Essas falsas concessões  “sustentáveis” das margens dos rios, nada mais são que documentos do velho Estado que impõem a restrição de uso destas terras pelos camponeses, onde estes já estão secularmente e em nada alteram a condição das terras que pertencem à União e que estão sob domínio do latifúndio.

O companheiro Cleomar, denunciou isso amplamente, desmascarou que enquanto na suposta concessão e falsa demarcação de territórios pela TAUS (sobrepondo inclusive terras que já estavam ocupadas por camponeses pobres), os camponeses não podem cercar e portanto não podem criar gado, não podem desmatar para plantar, não podem construir sua casa de alvenaria,  não podem usar a água do rio para irrigação e portanto não são donos e continuam vivendo num cativeiro, cercados pelo latifúndio “chamados de empreendimentos agrícolas” que podem tudo desde perpetuar a prática covarde de soltar gado para comer as roças dos camponeses, bloquear estradas centenárias de acesso à beira do rio, fazer barragens criminosas, contaminar o solo e água com agrotóxicos, desmatar a vontade, degradando o meio natural e ameaçar e tentar intimidar com pistoleiros e uso do aparato policial os camponeses como foi feito inúmeras vezes, perante testemunhas, pelo policial civil Danilo de Januária, ao companheiro Cleomar, nas vésperas dele ter sido assassinado.

A luta pela terra, pela água e por melhores condições e vida

No Norte de Minas e em todo o semiárido brasileiro, o latifúndio detém não só o monopólio das terras, com grandes propriedades, mas também da água, pela qual trava uma guerra pelo controle exclusivo, contando com as agências de controle como ANA – Agência Nacional de Águas e outros órgãos ambientais do velho Estado para perseguir os camponeses, enquanto eles mesmos abrem poços artesianos, fazem barragens criminosas, poluem lençóis freáticos e leitos de rios e lagoas (que são berçários naturais dos peixes) com agrotóxicos, constroem portos ilegais em suas fazendas e cometem todos os tipos de crimes contra o meio natural e o povo. 

O companheiro Cleomar, mesmo compreendendo a primazia de construir uma nova sociedade onde todos os problemas do povo serão resolvidos, nunca subestimou a importância da luta econômica para buscar melhorias para os camponeses, lutando pelas posses das terras e pelo uso da água, arrancando do velho Estado os seus direitos. Integrou o CMDR – Comitê Municipal de Desenvolvimento Rural de Pedras de Maria da Cruz, e na época o companheiro conseguiu um poço artesiano para os camponeses, o que os livraria da dependência dos PIPAS* (*caminhões pipas que levam água para as comunidades rurais, na maioria das vezes submetido ao gerenciamento municípal e usado como moeda de troca por votos) na época da seca, mas infelizmente o projeto foi desviado por motivos eleitorais. 

Mas o companheiro não desistia fácil, denunciou o desvio até o último suspiro e junto com seus companheiros, construiu em mutirão grandes reservatórios para água na Vila, instalou a energia elétrica,  construiu as casas, lutou pela produção, implementou um projeto junto ao Instituto Federal de Tecnologia, o antigo CEFET, enviando delegações de estudantes de agronomia e técnicos para conhecer a área e desenvolver um projeto de extensão e ao mesmo tempo trazendo apoio da cidade para os camponeses. Aplicando formas cooperadas de produção, como foi a experiência do GAM – Grupo de Ajuda Mútua, onde se produziu toneladas de mel que foram vendidas por todo o país através do trabalho de solidariedade à luta camponesa. 

Depois da área retomada em 2016, os camponeses passaram a controlar o poço artesiano que passou a fornecer água para toda comunidade, irrigando hortaliças, servindo ao consumo das casas e dos animais. No entanto a água é calcária (salobra) e imprópria para beber, o que exige da comunidade muita organização para não serem expulsas pela seca. O desafio agora é construir grandes reservatórios para água potável, armazenando água das chuvas e assim enfrentar de forma organizada o problema que tenta impor o monopólio da água pelo latifúndio, que inclusive mandou cortar a energia do poço artesiano para que assim os camponeses ficassem sem água, plano que foi derrotado pela luta das famílias. Uma delegação de camponeses foi até a CEMIG- concessionária de energia elétrica no Estado de Minas,  exigirem seu direito de energia elétrica e a instalação dos padrões de energia. No entanto, pressionado pelo latifúndio, o gerente da CEMIG se negou a atender o pedido, alegando que a área estava ilegal. Os camponeses instalaram então placas solares e reativaram o poço artesiano, mas a nova Vila e os lotes continuam sem energia elétrica. Assim tem sido a saga do camponeses em toda região, sempre empurrados para a miséria e resistindo bravamente para viver com dignidade, defendendo o direito sagrado às suas terras. 

Nenhum gerente deste velho Estado  latifundiário-burocrático fará a Reforma Agrária

Por muitos anos, o companheiro Cleomar, como dirigente da LCP e Presidente da Associação Camponesa procurou provar que as terras da Fazenda Pedras de São João Agropecuária eram griladas, através de dezenas de reuniões, audiências em órgãos do velho Estado e documentação à Vara Agrária, exigindo que as terras deveriam voltar aos seus legítimos donos, os camponeses, pescadores, ribeirinhos de Pedras de Maria da Cruz e região. Exigiu que o título das terras fosse entregues aos camponeses pobres! Um comodato de 50 hectares foi feito para que o processo seguisse adiante e as terras foram vistoriadas pelo incra, no entanto, com a notícia de que as terras estavam com documentação irregular, com dívidas com bancos públicos e iminência de processos trabalhistas, e diante da falência completa da tal reforma agrária de governo, que simplesmente abandonou o processo de desapropriação, o latifúndio rompe o comodato e realiza uma série de ofensivas contra o movimento camponês, que culminou com o assassinato do companheiro. 

Isso já vinha ocorrendo em todo o país, uma ofensiva do latifúndio no aparelho do velho Estado, com aprovação do código florestal e legislação e políticas vende pátria e anti-povo, desmascaradas nos vigorosos protestos de 2013. Só nos anos de 2011 e 2012, foram assassinadas dezenas de lideranças camponesas, quilombolas e indígenas, em operações conjuntas com forças policiais, como a operação paz no campo, jogando por terra a ilusão de muitas famílias camponesas que acreditaram que o governo faria a reforma agrária ou a demarcação de territórios quilombolas e indígenas. 

O governo Bolsonaro mentiu prometendo entregar o título das terras para os camponeses e o que fez foi legalizar as terras griladas dos latifundiários, principalmente na Amazônia, declarar guerra aos camponeses pobres, quilombolas e indígenas em luta pela terra e expulsar famílias que estavam ha décadas nas terras. Esse facínora bem que tentou acabar com a luta pela terra, encobrindo massacres , enviando a FNS contra os camponeses e declarou em cadeia nacional de TV que a LCP era terrorista, passando o recibo das derrotas que sofreram os latifundiários e velho Estado nos embates contra os camponeses no Estado de Rondônia, no Acampamento Manoel Ribeiro e Tiago Campim dos Santos que contaram com extraordinária campanha de apoio por forças democráticas em todo o país e até internacionalmente.

Essa ofensiva do latifúndio, agraciado com fartos empréstimos do governo ao agronegócio, desde então, e que foi potencializada no governo fracassado do Bolsonaro, persiste nos dias de hoje no terceiro mandato do PT/Lula, que contemporiza com a extrema direita, se acovarda perante os golpistas do ACFA – Alto Comando das Forças Armadas e em meio a profunda crise econômica, política, moral e militar que tenta a todo custo esconder do povo brasileiro, aplica as políticas de seu governo de coalizão reacionária, entregando bilhões ao agronegócio e permite a aprovação pelo congresso do famigerado marco temporal, que nem no governo Bolsonaro conseguiram aprovar e que é um golpe na demarcação de terras indígenas e a CPI do MST, que visa atacar a luta pela terra e avançar na criminalização das tomadas de terras e das lideranças dos movimentos populares no campo.

Tomar todas as terras do latifúndio

O 8 º Congresso da Liga dos Camponeses Pobres do Norte de Minas e Sul da Bahia, realizado em Januária em 2015 levantou de maneira vigorosa a consigna de tomar todas as terras do latifúndio, tomar as grandes propriedades e entregá-las aos pobres no campo! Curiosamente durante a realização do Congresso, tropas da PM se instalaram na estrada MG161, onde se localizam as fazendas citadas acima, talvez os latifundiários pensaram que todas as terras do latifúndio seriam tomadas naquele mesmo dia e com isso  entregaram mais uma vez, a quem serve esta polícia, seu caráter de serviçal do latifúndio e sua natureza de classe. 

Mas a Revolução Democrática Agrária e Anti-imperialista é um processo longo e em curso, na qual em sua primeira etapa é aplicado o Programa Agrário de Defesa dos Direitos do Povo e seus três pilares: conquistar a terra, cortando e entregando aos camponeses sua parcela, estabelecendo novas relações políticas e novas relações de produção, sem exploração e sem opressão.

Questão das mais importantes que o companheiro Cleomar nos deixou de herança foi a confiança e fé nas massas, que somente o povo em sua luta prolongada poderá constituir uma Verdadeira e Nova Democracia, com a luta revolucionária, a união dos pobres no campo e a aliança operário-camponesa, com mobilização, politização e organização do povo, contando com o decisivo apoio dos verdadeiros democratas da cidade, dos honestos e de bem! Como afirmaram em seu panfleto comemorativo: 

“Estes têm sido anos de muitas lutas, sacrifícios e conquistas, nos quais temos resistido a todas as ofensivas para nos expulsar! O país está vivendo uma de suas maiores crises econômica, política, moral e militar. Os latifundiários seguem mandando nesse país como nunca, e os generais preparam o golpe militar contra o povo. O ministro da agricultura do novo governo já falou publicamente defendendo os latifundiários se  armarem e deu 2 bilhões de reais para o agronegócio, enquanto isso, para os camponeses é cadeia, repressão, assassinatos e reintegrações de posse. Sabe porque isso acontece? porque quando nós entramos aqui, o governo Lula ainda usava o discurso da reforma agrária e não fez e é por isso que a crise no Brasil continua grave como está. 

Por isso mesmo, companheiros e companheiras, celebrar os 16 anos da Vila Unidos com Deus Venceremos é celebrar a construção da Área Revolucionária Cleomar Rodrigues, é se unir aos trabalhadores na cidade que lutam pelos seus direitos é trazer a memória viva do companheiro Cleomar é afirmar em alto e bom som que o companheiro Cleomar vive, morte ao latifúndio!” 

Ao longo das últimas duas décadas, o jornal A Nova Democracia tem se sustentado nos leitores operários, camponeses, estudantes e na intelectualidade progressista. Assim tem mantido inalterada sua linha editorial radicalmente antagônica à imprensa reacionária e vendida aos interesses das classes dominantes e do imperialismo.
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