Argentina: Centenas de protestos massivos contra a miséria e o desemprego

Argentina: Centenas de protestos massivos contra a miséria e o desemprego

Grande manifestação na Argentina no mês de julho exige emprego e salários dignos e rechaça acordo com o FMI.

Centenas de protestos têm ocorrido no mês de julho na Argentina contra a miséria, o desemprego, e contra a reestruturação da dívida argentina com o Fundo Monetário Internacional (FMI), a qual as massas afirmam que aprofundará ainda mais a crise econômica. Na metade do mês, greves e marchas multitudinárias foram realizadas por todo o país exigindo emprego digno, aumento salarial, auxílios emergenciais, o cancelamento da dívida com o FMI e terra para nela viver e trabalhar. 

Além disso, as massas rechaçaram o governo do oportunista Alberto Fernández, que se elegeu prometendo, demagogicamente, melhorar a vida do povo e solucionar a crise do capitalismo burocrático na Argentina. Desde que assumiu, as condições de vida na Argentina têm se tornado insustentáveis: a inflação foi de 5,3% em junho e a acumulada no primeiro semestre do ano atingiu 36,2%. Economistas estimam que até o final do ano chegará a pelo menos 80%.

Massas rejeitam acordo com o FMI

Milhares de pessoas marcharam na Avenida 9 de Maio, em Buenos Aires, no dia 14/07 contra a reestruturação da dívida de 45 milhões de dólares com o FMI. As massas denunciam que o acordo com o organismo imperialista faz com que os direitos do povo sejam retirados para cumprir com a dívida, como por exemplo o fim dos auxílios emergenciais num momento de crise aguda. Os argentinos também exigem que o dinheiro destinado à dívida externa seja direcionado às necessidades do povo.

“O povo tem que protestar em unidade, tanto trabalhadores empregados como desempregados. Não apoiamos esta dívida do Fundo [FMI]. Não podemos continuar na miséria. Não podemos nem ir ao supermercado para comprar, não há oferta de produtos, como óleo, farinha e açúcar.”, destacou Monica Sulle, uma das manifestantes.

“Estamos na Plaza de Mayo porque a situação está cada vez mais grave. 50% da população está abaixo da linha da pobreza, e os percentuais de indigência aumentam cada vez mais. A inflação dos produtos alimentícios está em 8%, acabaram de trocar o ministro da Economia e nada mudou”, declarou Nahuel Orellana, outro manifestante.

Protestos exigem trabalho digno

No dia 20/07, foram realizados protestos em mais de 50 pontos do país. Em Buenos Aires, os manifestantes realizaram protestos na ponte Pueyrredón. Uma grande operação policial ocorreu desde as primeiras horas da manhã para evitar que os manifestantes realizassem o bloqueio da ponte, que é uma das principais ligações entre a capital e a província de Buenos Aires.

Greves de operários e camponeses

Os protestos massivos acontecem em meio a diversas greves no país. Operários de três fábricas de pneus diferentes, incluindo a do monopólio imperialista Bridgestone, realizaram grandes greves e mobilizações nos dias 18 e 19/07 exigindo aumento salarial e aumento no pagamento das horas no final de semana.

Operários da fábrica de pneus em Merlo realizam greve por aumento salarial. Foto: La Izquierda Diario

Na província de Chubut, professores iniciaram, no dia 25/07, uma greve de 48 horas exigindo aumento salarial. Os professores afirmam que o seu salário não está suprindo todas as contas, e que, além de trabalhar na escola, estão tendo que arranjar outros empregos. Eles também realizaram uma marcha em apoio aos trabalhadores da empresa de pesca FyRSA, que estão sofrendo demissões ilegais e correndo o risco do fechamento da fábrica.

No dia 13/07, médios camponeses paralisaram sua produção por um dia inteiro contra o preço excessivo dos fertilizantes e a escassez de gasolina e diesel.

A questão agrária e a solução da crise

Os protestos da Argentina que trazem à tona as reivindicações das massas populares são sintomas de um alto grau de crise geral da economia do país. A crise do capitalismo burocrático em que se encontra a Argentina e o estado de revolta popular contra a crise econômica não demonstra qualquer previsão de redução. E as raízes disto está no fato de que a Argentina é um país com uma economia predominantemente agrária, ou que depende da extração de produtos primários e combustíveis da terra, e que os exporta sem industrialização. A subjugação nacional pela superpotência imperialista Estados Unidos (USA) impede um desenvolvimento verdadeiramente nacional e amarra a nação na medida em que a grande burguesia argentina e os latifundiários, como classes reacionárias e exploradoras que são, conciliam com os interesses estrangeiros e buscam manter a base econômica semi-feudal para apropriar-se das riquezas gerada pelo trabalho do povo argentino.

Assim, apesar da agricultura ser a principal forma de produção econômica no país, essa riqueza não é redistribuída entre a população, uma vez que quase 40% do território argentino está nas mãos de apenas 1,2 mil proprietários de terras, segundo o Registro Nacional de Terras Rurais, sendo aproximadamente 65 milhões de hectares de terra.

Dentro dessa concentração absurda de terra, muitos dos proprietários não são nem mesmo argentinos: o USA é o país com mais posse de terras na Argentina, tem posse de quase três milhões de hectares de terra. 

Enquanto isso, quase 40% da população argentina (cerca de 18 milhões de pessoas de um total de 55 milhões) não têm acesso à terra ou habitação própria. Na Argentina, 0,94% dos proprietários de grandes extensões de terras produtivas administram 33,89% do total do território. Os 99,06% restantes controlam apenas 66,11%. Dados da Oxfam também demonstram que a concentração de terra na Argentina, ao longo dos anos, ao contrário de diminuir, só tem aumentado.

A grande maioria da posse da terra nas mãos de um punhado de latifundiários e das empresas imperialistas, somados à dívida externa de 366 bilhões de dólares e ao fato de que é o maior devedor do mundo ao FMI, fazem com que a Nação e o povo argentinos não vejam uma melhora na situação econômica enquanto a Revolução democrática, agrária e antiimperialista for tarefa pendente.

Esta reivindicação histórica de uma revolução democrática que dê solução cabal à questão agrária deve juntar-se às reivindicações das massas populares das cidades expressas nas atuais manifestações contra o governo reacionário de Alberto Fernandez e seu acordo vende-pátria que busca colocar a Argentina de joelhos ao imperialismo ianque.

Ao longo das últimas duas décadas, o jornal A Nova Democracia tem se sustentado nos leitores operários, camponeses, estudantes e na intelectualidade progressista. Assim tem mantido inalterada sua linha editorial radicalmente antagônica à imprensa reacionária e vendida aos interesses das classes dominantes e do imperialismo.
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