O desenvolvimento da crise econômica na Argentina tem ocasionado a escassez de produtos como alimentos, medicamentos e itens hospitalares. Por outro lado, os produtos que ainda chegam no país sofrem uma alta brutal nos preços frente à inflação de 124%.
Os produtos em falta são sobretudo os importados. Sendo um país semicolonial, como os outros países da América Latina, a Argentina depende de importações para suprir o abastecimento dos produtos mais básicos. A expressão mais preocupante desse problema é a crescente falta de medicamentos, que decorre em severas dificuldades para se garantir procedimentos médicos como cirurgias, transplantes e exames, levando sério risco à vida das massas.
Além das dificuldades em se garantir medicamentos, parte da produção de alimentos do país é dependente de insumos importados, e ao não tê-los, a produção alimentícia pode também sofrer impactos. Fator chave nessa questão é a vigência do sistema latifundiário no país, baseado no monopólio da terra e na produção agroexportadora de baixo valor agregado.
Ademais do grave desabastecimento, o povo argentino vive hoje a maior inflação da história do país, com o marco de 124% Logo, os produtos que chegam às prateleiras do país são cada vez mais inacessíveis ao povo. Um efeito direto disso tem sido a queda do consumo de carne bovina no país. De acordo com pesquisa do Instituto Nacional de Estatísticas e Censo da Argentina (Indec), o consumo anual de carne por pessoa, que era 52 kg no ano passado, esse ano não deve ser maior que 47 kg. Observou-se também o aumento no consumo de carnes mais baratas, como carne moída, cujo consumo cresceu em 39%.
A resposta das massas
Diante dessa situação, o povo argentino vem dando respostas à crise com violentos protestos e centenas de confiscos. Conforme noticiado nesta tribuna, o mês de agosto foi marcado pela ocorrência de grandes saques a supermercados por todo o país, sobretudo na região metropolitana de Buenos Aires. Os confiscos, decorrentes da privação da alimentação básica pela alta da inflação e pelo aumento da pobreza na Argentina, é um fenômeno em desenvolvimento desde o ano passado, quando trabalhadores realizaram ações similares de confiscos em supermercados e tombamentos de caminhões nas cidades de San Juan e Santa Fé. Houve também a ocorrência de um protesto, no dia 24 de agosto, com o bloqueio de diversas importantes vias na capital.
Essa grave crise se desenvolve em meio aos preparativos para a farsa eleitoral no país. No primeiro turno da farsa eleitoral, as massas populares demonstraram profundo rechaço às diferentes siglas e candidatos. Os índices de boicote eleitoral, expressos nos votos nulos e brancos, atingiram 36,39%. O rechaço é resultado justamente da ineficácia dos diferentes governos, tanto da direita tradicional quanto da falsa esquerda, em solucionar os problemas candentes para o povo argentino. A extrema-direita, que agora lidera a disputa, já demonstrou que continuará com a mesma política de endividamento massivo do país com o FMI e “dolarização” da economia, aprofundando a submissão argentina e miséria do povo.