Ataque de pistoleiros mata 3 camponeses e deixa 6 feridos em assentamento do MST em SP

Liderança do MST foi executada com vários tiros na cabeça. Episódio faz parte de uma realidade nacional de ataques de bandos paramilitares contra os pobres do campo.

Ataque de pistoleiros mata 3 camponeses e deixa 6 feridos em assentamento do MST em SP

Liderança do MST foi executada com vários tiros na cabeça. Episódio faz parte de uma realidade nacional de ataques de bandos paramilitares contra os pobres do campo.

Pistoleiros mataram três camponeses e feriram outros seis na noite de sexta-feira (10/1) em um ataque a tiros contra o assentamento Olga Benário, organizado pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em Tremembé (SP).

A corja chegou por volta de 23 horas em carros e motos e começaram a disparar contra os camponeses, dentre eles crianças e idosos. O alvo central do ataque foi a liderança Valdir do Nascimento (Valdirzão), assassinado com vários tiros na cabeça. O ataque obedece o mesmo modus operandi de outros ataques feitos por grupos paramilitares de extrema-direita no campo.

Além de Valdir, morreram o jovem Gleison Barbosa de Carvalho, 29 anos, e seu irmão, Denis Carvalho, de 29. Denis chegou a ser internado em coma induzido, mas não resistiu e morreu hoje (11/1). Todos os feridos foram levados ao Hospital Regional de Taubaté e ao Pronto Socorro de Tremembé.

MST: ‘Anos de ataques constantes’

O MST afirmou, em nota, que “o Assentamento Olga Benário enfrenta uma intensa disputa com a especulação imobiliária voltada para o turismo de lazer, devido à sua localização estratégica na região do Vale do Paraíba”.

Esse não foi o primeiro ataque ao assentamento, segundo o MST. “Há anos, as famílias assentadas vêm sofrendo ameaças e coerções constantes, mesmo após diversas denúncias feitas aos órgãos estaduais e federais, que seguem sem uma resposta efetiva para garantir a segurança e a permanência dessas famílias no território.”

O MST também afirmou que: “se indigna perante a violência e a falta de políticas públicas de segurança nos territórios, que põem a vida de tantos em constante risco”.

Governo se pronuncia

O Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) do governo de Luiz Inácio (PT) deu um tímido pronunciamento sobre o caso, no qual prometeu trabalhar “com os secretários (estaduais de São Paulo) Guilherme Derrite, Gilberto Kassab, com o delegado Osvaldo Nico Gonçalves e também com o diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues”, relatou o ministro Paulo Teixeira, em nota.

É pouco provável que o governo paulista preste bons serviços ao caso, dado o histórico policialesco e reacionário do secretário de Segurança Pública, Guilherme Derrite), e o caráter latifundista do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos). Em 2022 e 2023, o governador paulista leiloou, com 90% de desconto, terras públicas griladas por latifundiários no Oeste do Paranapanema, um dos focos da luta pela terra em SP. A venda foi parte de um esquema para que os próprios latifundiários grileiros comprassem as terras, regularizando a posse ilegal.

O mesmo é esperado da Polícia Federal, órgão conhecido pela repressão a camponeses pobres. Em 2024, agentes da PF reprimiram, junto de um bando paramilitar, camponeses pobres de Machadinho D’Oeste, região no nordeste de Rondônia. O caso foi denunciado de forma exclusiva pelo jornal A Nova Democracia, que relatou que os camponeses foram cercados e espancados por pistoleiros e depois entregues a agentes da Polícia Federal; os agentes espancaram novamente os camponeses e prenderam um deles.

Governo evita nacionalizar o caso

O governo evitou tratar o caso de São Paulo como parte de uma realidade nacional em que pistoleiros e latifundiários realizam ataques armados com liberdade contra os povos pobres do campo.

O paralelo foi evitado apesar das evidências claras de que o ataque pistoleiro contra o assentamento Olga Benário seguiu os mesmos métodos que assaltos de pistoleiros e latifundiários contra camponeses dirigidos pela Liga dos Camponeses Pobres (LCP) em Barro Branco, Jaqueira (PE) e contra as terras e retomadas de indígenas Pataxó Hã-Hã-Hãe de Potiraguá (BA), Guarani-Kaiowá de Douradina (MS) e Avá-Guarani de Terra Roxa (PR).

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Em todos os episódios, os pistoleiros e latifundiários chegaram fortemente armados em carros, caminhonetes e motos, durante à noite ou à luz do dia, por vezes acompanhados de policiais militares e invadiram o território enquanto disparavam saraivadas de tiros.

Em Potiraguá, os paramilitares assassinaram a liderança indígena Nega Pataxó. Em Douradina, mais de 10 indígenas ficaram feridos. Na região de Terra Roxa, uma criança de 7 anos foi alvejada junto de um adolescente de 14 anos e dois jovens de 25 e 28 anos. Na região de Barro Branco, os paramilitares afiliados ao movimento “Invasão Zero” alvejaram uma estudante da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e outros dois camponeses, mas a liderança do grupo e outro capanga tiveram de ser hospitalizados por ferimentos à bala.

Além desses ataques típicos de grupos paramilitares organizados e articulados, os povos do campo têm sofrido com a livre atuação arbitrária de órgãos de repressão oficiais do Estado. Há meses, camponeses do acampamento Nova Esperança, em Nova Brasilândia (RO), estão sob um verdadeiro cerco de tropas da Polícia Militar (PM). Os militares tentaram expulsar os camponeses e bloquearam a entrada de comida e água na região mesmo sem mandado judicial.

Situação crítica também é a de milhares de famílias camponesas de Messias, despejadas em outubro de 2024 da Área Revolucionária Renato Nathan (erguida em 2009) por uma operação de guerra do Estado brasileiro em prol dos interesses dos latifundiários da Usina Utinga Leão.

A estratégia do governo é não tratar o caso como algo nacional para evitar admitir que há, no campo brasileiro, uma guerra não-declarada entre bandos paramilitares de pistoleiros e latifundiários de extrema-direita e camponeses pobres, indígenas e quilombolas em luta pela terra.

Ao longo das últimas duas décadas, o jornal A Nova Democracia tem se sustentado nos leitores operários, camponeses, estudantes e na intelectualidade progressista. Assim tem mantido inalterada sua linha editorial radicalmente antagônica à imprensa reacionária e vendida aos interesses das classes dominantes e do imperialismo.
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