Reproduzimos uma matéria do portal de notícias Palestine Chronicle
Pelo décimo oitavo dia consecutivo, as forças de segurança da Autoridade Palestina continuam sua incursão no campo de Jenin, no norte da Cisjordânia, sob o pretexto de “proteger a pátria”.
Em uma série de declarações, os serviços de segurança afirmaram que a campanha tem como alvo indivíduos que eles descrevem como foras da lei. A operação envolve várias armas, veículos blindados e forças de elite mascaradas – uma exibição sem precedentes para a Autoridade Palestina na Cisjordânia.
No entanto, a maioria dos grupos políticos palestinos, excluindo o Fatah (que é afiliado à Autoridade), argumenta que o objetivo real da campanha é desmantelar os grupos de resistência armada no campo – algo que Israel não conseguiu alcançar, apesar das repetidas incursões, assassinatos e prisões.
A Brigada Jenin, um grupo armado proeminente no campo, alertou os serviços de segurança palestinos para que abandonem a campanha, acusando-os de servir à agenda de Israel.
A Israeli Broadcasting Corporation (KAN) informou que o exército israelense está satisfeito com a operação em Jenin e defende o fortalecimento da Autoridade Palestina e a chamada “coordenação de segurança” com ela.
De acordo com seus relatórios, aproximadamente 300 membros armados da Autoridade Palestina têm operado no campo de Jenin sob a supervisão do exército israelense nas últimas duas semanas.
Desde o início da campanha, três mortes e vários feridos foram atribuídos às forças de segurança palestinas. O hospital do governo em Jenin foi cercado, várias casas foram invadidas e os moradores aterrorizados – uma estratégia que reflete as táticas do exército israelense durante suas próprias incursões.
Condições desesperadoras
A jornalista Raya Arouq, que mora perto do acampamento, descreveu ao Palestine Chronicle a terrível situação humanitária resultante da campanha em andamento.
“Por pelo menos duas semanas, os alunos não puderam ir à escola, e a água e a eletricidade foram cortadas desde o início do ataque”, disse ela.
“Os moradores continuam presos em suas casas, correndo o risco de serem alvejados se saírem para buscar necessidades básicas”, continuou Arouq.
Muitas famílias ficaram sem comida por dias devido à intensidade dos disparos das forças de segurança, e os tiros pesados causaram danos materiais a várias casas.
Arouq acrescentou que as forças de segurança da Autoridade Palestina bloquearam a entrada no campo, até mesmo para caminhões de lixo, o que levou a pilhas de resíduos nos becos e a graves riscos à saúde.
“Membros da Autoridade Palestina ocuparam várias casas, atirando em qualquer pessoa que se mova e impondo um toque de recolher. Enquanto isso, uma greve comercial persiste como forma de protesto contra a campanha e seus motivos”, explicou o jornalista palestino.
Brutalidade e repressão
Surgiu um vídeo que mostra as forças de segurança palestinas executando um homem e ferindo seu primo, que não representava nenhuma ameaça aparente. Essas ações geraram indignação pública.
Surgiram protestos em Jenin e no campo, exigindo o fim imediato da campanha de segurança e clamando pela preservação da unidade interna. Essas marchas, no entanto, foram recebidas com dura repressão pelas forças de segurança, inclusive uma liderada pelas mães dos mártires de Jenin.
Na tarde de sábado, outra manifestação pacífica foi reprimida, apesar da participação de figuras palestinas de destaque. Omar Assaf, um conhecido ativista, estava entre eles e relatou a experiência.
“Estávamos completamente pacíficos, mas enfrentamos a repressão com muito gás lacrimogêneo. Até mesmo a mãe doente de Nasser Abu Hamid, um símbolo de resiliência, foi alvo quando tentou fazer com que sua voz fosse ouvida. Isso é um ato moral ou patriótico?”, perguntou ele.
Assaf pintou um quadro sombrio da situação:
“Os tiros continuaram sobre nossas cabeças por mais de 45 minutos. Os apelos para que a Autoridade Palestina deixasse o campo não foram ouvidos. A pressão pública em todas as cidades é essencial para acabar com essa campanha e restaurar a unidade.”
Ele enfatizou a responsabilidade do presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, e das organizações da sociedade civil no enfrentamento da crise.
“Nós marchamos não para impor pressão, mas para unificar nosso povo. Em vez disso, fomos atacados”, disse Assaf.
De acordo com o renomado ativista, os serviços de segurança palestinos não estão autorizados por um órgão eleito a realizar tais campanhas.
Essa situação reacendeu os pedidos de eleições para resolver disputas e estabelecer as prioridades do povo – uma demanda que continua sem resposta até hoje.