Atentados políticos de extrema-direita cresceram durante as eleições

Atentados políticos de extrema-direita cresceram durante as eleições

Casal de bolsonaristas apontam arma para pessoas em uma comemoração do resultado eleitoral. Foto: Reprodução/Uol

A realização do segundo turno da farsa eleitoral em 30 de outubro foi marcada pela violência política nos dias imediatamente anteriores e na própria noite da votação, após o anúncio do resultado.

Em 28/10, dois dias antes da votação, em Jandira (região metropolitana de SP), um homem armado saltou de um veículo e matou com um tiro na cabeça, à queima-roupa, Zezinho (de 51 anos), do PT. Zezinho era uma liderança do PT já tendo sido vereador no município. Ele participava da campanha eleitoral para Luiz Inácio quando foi assassinado. Segundo testemunhas, ao sair do carro, o assassino de Zezinho proferiu gritos em alusão ao ultrarreacionário Jair Bolsonaro.

Um dia antes, em Curitiba (PR), a jornalista Magaela Mazzioti, da CNN, foi atacada com uma pedra e teve seu rosto cortado. Ela usava um adesivo do Luiz Inácio e se dirigia ao encontro de colegas.

Após o anúncio do resultado das eleições, na noite de 30/10, novos casos de agressão ocorreram por todo o país.

Em Belo Horizonte, no bairro de Nova Cintra, três pessoas foram baleadas ao comemorar o resultado. Os disparos saíram de um carro, que fugiu covardemente em alta velocidade. Pedro Henrique Dias Soares (28) chegou a ser socorrido, mas morreu no Hospital João XXIII. As outras vítimas resistiram ao atentado e tinham 12 e 47 anos. O assassino confessou o crime e portava uma pistola calibre 9mm e outra calibre 380. Em sua casa tinha outra arma de fogo e mais de 500 munições.

No norte do Espírito Santo, em São Domingos do Norte, Marcos Moreira Vitória (18) foi assassinado enquanto participava de uma comemoração após o resultado do pleito. O assassino estava junto a outras duas pessoas, e fugiu em seguida em um carro.

Na Bahia, no distrito de Ilhéus, um atentado a tiros foi levado a cabo por dois homens que chegaram no local disparando contra uma comemoração do resultado das eleições. Um homem de 31 anos morreu e outras 12 pessoas ficaram feridas (entre eles, 10 indígenas tupinambás).

VIOLÊNCIA POLÍTICA ESCANCARA CRISE DE DECOMPOSIÇÃO

Reconhecido pelos próprios monopólios de imprensa reacionários, a realização da farsa eleitoral de 2022 como um todo foi marcada pela violência política reacionária. 

Levantamento da Anistia Internacional apontou que nos três meses anteriores ao primeiro turno foi registrado um caso de violência política a cada dois dias, com 88% dos casos ocorrendo em setembro, mês anterior à realização do primeiro turno. 

O Observatório da Violência Política e Eleitoral, por sua vez, contabilizou 212 casos de violência política reacionária entre julho e setembro, um aumento de 110% em relação ao trimestre anterior. Lideranças de 29 partidos foram atingidos. O PT foi o maior alvo, com 37 casos, seguido pelo PSOL, com 19.

A Justiça Global em parceria com a Terra de Direitos registrou 247 episódios de violência política reacionária em 2022 – aumento de 400% em relação a 2018. Destes, 121 casos ocorreram nos dois meses anteriores ao primeiro turno.

Os atentados políticos são resultado de dois fatores principais, denunciados pelo AND no Editorial semanal Lançar massas contra massas: “O agravamento da violência política no curso dessas eleições – que só fará crescer, e tanto mais crescerá ao término da mesma – tem duas razões fundamentais. A primeira, é a pregação diuturna de Bolsonaro por consumar o golpe militar; a segunda, é a morte da velha democracia insepulta”, que passa a ser questionada pelas massas populares e por certos setores mais reacionários da sociedade, expressando-se, respectivamente, como acirramento da luta de classes e como crescimento da violência política reacionária.

Segundo o Editorial, “Bolsonaro, claro, tenta tirar proveito não apenas eleitoral. Em função de aprofundar a instabilidade institucional, porém sem poder dizer abertamente, ele prega por meias palavras a incitação à violência política, e torce para que esse setor das massas que lhe ouve entenda seu recado. Bolsonaro se defronta com muita dificuldade em subverter a hierarquia e sublevar os quartéis, já que diante da forte pressão do núcleo do establishment as tropas tendem a se enquadrar na posição hegemônica do Alto Comando. Busca então insuflar as massas que lhe seguem a atos violentos no meio do povo para intimidar os contrários e provocar distúrbios de massas contra massas, sabendo que a desordem torna o Alto Comando mais suscetível à ideia de intervenção militar completa. Como tanto Bolsonaro, quanto Luiz Inácio, e outros, têm seguidores entre as massas do povo, é fato que tais casos crescerão”.

Além disto, o Editorial apontou também para a atuação covarde da alta cúpula do PT, que “fazendo-se de vítima, busca arregimentar votos sobre os cadáveres”. “A candidatura de Luiz Inácio sabe bem que essas eleições são um jogo perigoso; para ganhar a qualquer custo e manter a estabilidade dessa velha ordem, se submete à tutela dos generais e ao avanço de maior intervenção militar; submete-se ao programa de governo da Fiesp e da Febraban, tutores desse ‘Estado Democrático de Direito'”.

Há 90 dias antes da realização do pleito, em 9 de julho, o guarda municipal Marcelo Arruda foi assassinado pelo policial penal federal Jorge Guaranho. Na ocasião, o AND denunciava no Editorial Um sério acontecimento: “O crescimento de ações da extrema-direita, que vão se acumulando e já se manifestou como atentado, é resultado direto e necessário de toda a pregação golpista de Bolsonaro, agravada pela política de apaziguamento do Alto Comando das Forças Armadas (ACFA) para com a extrema-direita em seu seio. É a política adotada pela direita historicamente hegemônica nas Forças Armadas em relação à extrema-direita. Como em outros momentos de crise, agora, esta política covarde só faz jogar água no moinho do moral golpista nas tropas regulares, nas tropas auxiliares e outras forças policiais, quer ajam em bando, quer sós”.

Além disto, também apontava para o “acoelhamento dos oportunistas e revisionistas e outros ‘defensores das instituições'”: “Nada fizeram ao longo desses quatro anos em que o mandatário do país prega abertamente um golpe de Estado. O oportunismo, a pretexto de não dar motivos para Bolsonaro recrudescer o regime, impede toda mobilização de massas, acomodando seus militantes e amedrontando os ativistas das massas sob sua influência, tornando-os presas fáceis das ilusões constitucionais”. Esse Editorial apontou ainda que “em última instância, conscientes ou não, o oportunismo, o revisionismo e a direita liberal reacionária, cada qual a seu modo, não combatem em nada Bolsonaro. Repetem a exaustão o embelezamento das instituições carcomidas desse velho Estado.”.

O mais recente Editorial semanal O “terceiro turno” e as provocações golpistas aponta que “a eleição, dada sua desmoralização, já não funciona, como outrora, na solução dos impasses no seio das classes dominantes, ainda que sob aguda e falsa polarização que lance os de baixo a digladiarem-se entre si para legitimá-la”.

Tratando especificamente do papel do Alto Comando das Forças Armadas frente às provocações golpistas, afirma que o objetivo de sua atuação é não conduzir a uma ruptura, no entanto, “tais provocações bolsonaristas, frente às quais [os altos mandos das Forças Armadas reacionárias] são permissivos, servem a mandar recados intimidatórios para o futuro governo, para a Suprema Corte e todas as demais instituições. A chantagem está sobre a mesa: ou aceitam o intervencionismo e tutela militares (dar passos adiante no sentido do seu ultrarreacionário ‘Projeto de Nação’), ou não contem com a boa vontade deste para lidar com  a direita extremista”. “A divisão da sociedade brasileira não é de votos e nem vertical; ela, desde sempre, é divisão de classes, entre as classes exploradas, oprimidas e empobrecidas e as classes exploradoras, opressoras e opulentas. O que este sistema político busca com a farsa eleitoral e a falsa polarização é encobrir a real divisão de classes para diluir a luta entre elas.”.

Ao longo das últimas duas décadas, o jornal A Nova Democracia tem se sustentado nos leitores operários, camponeses, estudantes e na intelectualidade progressista. Assim tem mantido inalterada sua linha editorial radicalmente antagônica à imprensa reacionária e vendida aos interesses das classes dominantes e do imperialismo.
Agora, mais do que nunca, AND precisa do seu apoio. Assine o nosso Catarse, de acordo com sua possibilidade, e receba em troca recompensas e vantagens exclusivas.

Quero apoiar mensalmente!

Temas relacionados:

Matérias recentes: