Atos golpistas são coordenados por latifundiários, grandes empresários e ‘milícia’

Atos golpistas são coordenados por latifundiários, grandes empresários e ‘milícia’

Agitadores golpistas fazem saudação nazista em bloqueio em Santa Catarina. Foto: Reprodução/ Youtube

Relatórios preliminares indicam que dentre os financiadores e organizadores dos movimentos golpistas após as eleições estão latifundiários, grandes empresários, policiais, ex-policiais, políticos fascistóides, donos de estandes de tiros e até grupos paramilitares. As investigações estão sendo conduzidas pelas polícias estaduais e centralizadas no Supremo Tribunal Federal (STF).

Dentre os investigados como possíveis financiadores, destacam-se várias empresas agrícolas, de ligação direta com o latifúndio, como a Agritex e a Agrosyn, assim como o Banco Rodobens S.A, descrito pelo jornal do monopólio de imprensa Infomoney como “um império automotivo, financeiro e imobiliário”. No dia 12/11, mais de 43 contas bancárias foram bloqueadas por suspeita de financiar os movimentos golpistas.

No Acre, quem financiou os cortes de rodovia com pedido de golpe militar, segundo o procurador-geral de Justiça, Danilo Lovisaro, foram “fazendeiros do agronegócio”. Mais especificamente, ele acusa o “rei da soja”, João José Moura, e o latifundiário Henrique Luis Cardoso Neto. No ES, a investigação estadual apontou a atuação de uma milícia, constituída por policiais e ex-policiais fascistas, nas agitações bolsonaristas.

Já na capital São Luís (MA), estão sendo indicados como responsáveis pelas manifestações o investigador de polícia Marcelo Thadeu Penha Cardoso, lotado na Secretaria de Segurança Pública do Maranhão, que foi candidato a deputado estadual pelo Podemos na última eleição, e o também candidato a deputado estadual em 2022 Claudio Rogerio Silva Raposo (PTB). Os atos ocorrem em frente ao quartel do 24º Batalhão de Infantaria de Selva (BIS).

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Em todo o País, se repete o perfil dos supostos coordenadores das agitações bolsonaristas como sendo políticos de extrema-direita, latifundiários ou “empresários” ligados ao agronegócio, servidores públicos, policiais ou ex-policiais. Esse perfil de obstinados mobilizam os demais, através, principalmente, de disparos de WhatsApp onde combinam detalhes da agitação golpista e por onde compartilham, como emulação ideológica anticomunista, notícias falsas de toda sorte.

Investigação aponta participação do bilionário dono da Havan

O nome do bilionário Luciano Hang, dono da rede de lojas Havan, integra a extensa lista entregue ao STF de incitadores e financiadores dos bloqueios golpistas. Conforme publicado em reportagem da Agência Pública, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) indicou que as lojas Havan foram usadas como ponto de concentração e base de apoio para bloqueios ilegais de rodovias em Santa Catarina (SC). Em um dos bloqueios, um grupo de extrema-direita revidou a abordagem da PRF e feriu dois policiais com uma barra de ferro, em um pátio da Havan de Rio do Sul, na BR-470.

O texto afirma ainda que a Havan e a transportadora Transben Transportes, que é ligada a familiares do empresário, teriam “deslocado veículos de carga até a manifestação no Km 83 e estavam presentes de forma organizada”. O texto faz referência ao bloqueio da BR-101, em Barra Velha.

Na cidade de Palhoça, “a Havan deu cadeiras e bancos de plástico para os manifestantes, além de liberar os banheiros, energia elétrica para o som e o espaço do estacionamento”, relatou um funcionário da unidade à Pública. Nesta loja Havan, os apoiadores de Jair Bolsonaro começaram a se juntar logo após o resultado eleitoral, ainda na noite de 30/10.

Luciano Hang, por sua vez, é o mesmo que ordenou ao secretário da Fazenda de SC, Paulo Eli, atrasar salários e demitir professores, em áudios vazados. Na conversa, gravada em 2018, Hang está sendo cobrado pelos impostos devidos por suas lojas. O secretário pede que ele cumpra com os pagamentos para poder pagar os servidores públicos. “Eu tenho que pagar o salário dos professores. Eu tô na iminência de atrasar salário. Eu quero o imposto das lojas”, diz o secretário na conversa. Irritado, Hang diz para o secretário demitir metade dos professores. “Atrase o salário dos professores. Demita metade. Demita metade dos diabo dos professor (sic). Vocês tão pensando só no imposto de vocês pra pagar o diabo dos professor. Demite a metade”, afirma Hang.

Hang também fazia parte de um grupo de conversas do WhatsApp em que empresários bilionários defendiam explicitamente um golpe militar caso Bolsonaro perdesse as eleições. As mensagens foram vazadas no mês de agosto deste ano. Estavam no grupo, além de Luciano Hang, Afrânio Barreira, do Grupo Coco Bambu; José Isaac Peres, dono da gigante de shoppings Multiplan; José Koury, dono do Barra World Shopping, no Rio de Janeiro; Ivan Wrobel, da construtora W3 Engenharia; e Marco Aurélio Raymundo, o Morongo, dono da marca de surfwear Mormaii.

PRF é conivente com agitações golpistas

Um policial da PRF no estado de Santa Catarina contou a uma reportagem do portal A Pública, sob condição de anonimato, que o setor de inteligência do órgão já havia detectado antes das eleições que ocorreriam os bloqueios, mas nada foi feito. O portal mostrou que o fechamento das estradas estava sendo articulado na internet semanas antes da votação e que a PRF estava ciente dessa movimentação. Mesmo assim, de acordo com o policial, o comando estadual optou por não convocar um efetivo maior de policiais para o período pós-eleitoral. 

“Eu e mais um colega ficamos responsáveis sozinhos por um trecho de cerca de cem quilômetros que tinha múltiplos bloqueios. Sem estrutura era impossível enfrentar os manifestantes. Em um momento que tentamos negociar eles partiram agressivamente para cima de nós e precisamos correr para não sofrermos agressões”, relatou ele, referindo-se ao segundo dia de paralisações (31/10). 

Já no último dia 11/11, a PRF enviou ao STF uma lista com todas as multas contra bloqueios geradas até aquela data. Segundo levantou o monopólio de imprensa UOL Notícias, elas foram distribuídas por pelo menos 411 pontos de bloqueio formados pelo país nesse período, mas em apenas 31 deles houve infrações para o ato de “organizar as interdições”, conforme classificação adotada pela própria PRF.

A maioria dos líderes dos atos golpistas, contudo, não foi identificada pela PRF: os agentes só emitiram a infração mais pesada, reservada aos organizadores dos protestos, em 7,5% dos trechos bloqueados por agitadores golpistas. 

Não houve essa penalidade, por exemplo, nos atos em Rio do Sul (SC), onde o grupo de extrema-direita atacou um agente com uma barra de ferro na cabeça. A notificação também não foi aplicada em Novo Progresso (PA), mesmo após uma equipe da PRF ter sido expulsa a tiros pelos manifestantes em um ponto bloqueado.

Ademais, o atual diretor da PRF, que está sendo investigado por estimular (direta ou indiretamente) as manifestações da extrema-direita, Silvinei Vasques, foi nomeado por Jair Bolsonaro em abril de 2021. Próximo de Flávio Bolsonaro, Silvinei Vasques foi responsável por conduzir operações da PRF (“blitzes”) em transportes coletivos no dia da eleição, sobretudo no Nordeste, onde Bolsonaro tinha menor margem de votos.

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